Castlevania 4ª Temporada Crítica – Se nós tivemos uma terceira temporada de preparação, a quarta entregou absolutamente tudo e mais um pouco! Durante a terceira temporada tivemos Trevor Belmont (Richard Armitage) e Sypha Belnades (Alejandra Reynoso) se desviando de seu foco e indo parar em um vilarejo coberto de segredos para lá de sinistros, trombando com a figura misteriosa de Saint Germain.
Enquanto isso Alucard (James Callis) estava enfrentando o auge de sua solidão e tem sua confiança nos humanos abalada. Já Isaac deu sequência em sua jornada de vingança a fim de localizar Hector que está atualmente no castelo de Carmilla (Jaime Murray). Na quarta temporada temos uma excelente distribuição dos pontos narrativos que se atrelaram de uma forma curiosa e fluida.
“Let’s give it one last go, shall we?”
Na quarta temporada de Castlevania temos uma trama de reencontro e ressignificação da jornada pessoal de cada um dos personagens. É curioso notar que assim como a terceira temporada conseguiu se manter bem sem ter seu principal chamariz, Drácula Vlad Tepes (Graham McTavish), na quarta contamos com a reintrodução do personagem que novamente é o responsável for fazer as ignições do destino girarem, mesmo que indiretamente por meio das motivações do Conde de Saint Germain.
A última temporada se inicia situando os espectadores dos acontecimentos das semanas que antecedem o “atual” da temporada onde temos o núcleo de Carmilla e suas irmãs com um plano de expansão mundial de sua dominação, e Trevor e Sypha descobrindo uma espécie de seita que deseja trazer Drácula de volta a vida.
Logo no início vemos Belmont e Sypha em incansáveis cinco semanas combatendo criaturas ainda leais a Drácula, porém tudo isso está ficando entediante para ambos e então eles resolvem tomar as rédeas da situação.
É curioso notar a evolução de ambos como casal, já que o diretor Samuel Deasts optou por inserir traços de personalidade de Trevor em Sypha (e vice e versa) por conta da convivência, o que torna tudo ainda mais divertido.
Essa nova seita tem um código que necessita de sacrifício em massa para carregar o então Corredor Infinito e trazer o grande protagonista aos palcos, se é que alguma vez ele deixou de estar ali, pois a Morte está sempre ao lado daqueles que vivem em Castlevania. Vale frisar que a ideia de que há seres elementares que se alimentam das coisas da natureza é algo pertinente em toda a temporada.
Nessa temporada voltamos ao palco principal onde tudo se iniciou, Targoviste, que está toda destruída devido as múltiplas invasões das criaturas da noite. O tom amargo e sombrio paira sobre toda a trama da quarta temporada e agora novas peças importantes se juntam ao tabuleiro com plots surpreendentes.
A quarta temporada também se inicia nos apresentando um Alucard completamente desmotivado após as traições da terceira temporada, porém após receber um convite de um vilarejo próximo denominado como Danesti de forma inusitada seu lado humano fala mais alto e ele então resolve dar mais uma chance.
Já Hector segue no castelo das irmãs, porém agora com uma certa liberdade para circular ao redor ele começa a por o seu plano em prática como um bom Mestre de Forja e aguardando a vingança de Isaac com seu exército.
Vale notar que o “espelho de transmissão” nessa temporada é um dos objetos cruciais para o desenrolar da trama. Usado de forma inteligente para vincular os núcleos e suprir a falta de tempo, o diretor conseguiu conectar exércitos e personagens de forma rápida.
Vocês até mesmo podem estar pensando agora que por causa dessa ferramenta os reencontros se tornam sem graça, não é mesmo? Se caso vocês pensaram isso, tenho a felicidade de confirmar que vocês não poderiam estar mais errados.
Entendi essa referência!
A ligação entre os espelhos de transmissão e o que está escondido na nova sala do trono da Corte Subterrânea de Targoviste certamente remete ao “Mirror of Fate”, que é um objeto encontrado no Bernhard Castle no game Castlevania: Lords of Shadow – Mirror of Fate. Assim como no game, na animação também não sabemos quem o construiu, mas sabe-se que ele é um poderoso instrumento mágico de transporte capaz de guiar alguém para o seu verdadeiro destino.
Os roteiristas não pouparam referências nessa temporada, é impossível não notar a referência do desfecho de Carmilla com a cena de Gabriel adentrando na sala do trono através do espelho em Lords of Shadow.
E elas não param por aí, o “Alucard Shield” é um objeto pertinente para Alucard nessa nova temporada e ele é uma assinatura bem conhecida de Castlevania: Symphony of the Night e Harmony of Despair.
Já sobre a trama, os fãs de longa data da franquia vão perceber que a temporada é uma mistura de Castlevania III: Dracula’s Curse e Castlevania: Curse of Darkness. Isso fica evidente na cena final da temporada que é a reprodução fiel da capa de Castlevania III: Dracula’s Curse.
A trama da temporada também é facilmente identificável na arte da capa de Super Castlevania IV que curiosamente é o game que traz o descendente dos Belmont, Simon! ~será que vem aí?~
Outra referência presente é ao personagem Grant, que é um dos protagonistas de Castlevania lll. A referência ao Grant aparece na personagem Greta de Danasty, que passa a acompanhar o Alucard nessa temporada final. Vale frisar que o nome da cidade é Danasty, como o sobrenome de Grant.
Outros elementos da franquia também estão inseridos e são fundamentais para ajudarem os nossos protagonistas e dar fluidez para a trama.
“Sua natureza é fluida”
Me sinto na obrigação moral de comunicar que o roteiro trabalha tão bem as interações e diálogos entre os personagens que você se sente completamente envolvido por eles e se pega rindo dessas piadinhas internas, até mesmo entre Hector (Theo James) e Leonore.
E por falar em satisfação, o maior deleite que essa temporada nos oferece ~além do seu final~ são extensas cenas de combate completamente animadas sem o uso de CGI, verdadeiras sakugas que chegam até atingir sete minutos sem interrupções. A continuidade dos movimentos é uma coisa assombrosamente incrível, já que é utilizando bastante da trajetória visual por onde os golpes fluem.
Com um design de personagens formidável, essa temporada utiliza bastante o “acting” para ressaltar os momentos de linguagem corporal dos personagens o que torna tudo um grande colírio para os olhos.
A temporada final de Castlevania por ser carregada de combates soube administrar muito bem entre o “Ease In” que são os momentos de desaceleração a partir de uma pose e o “Ease Out”.
Quase perfeita…
Com 10 episódios, Castlevania nos entrega tudo que pedimos, service, lutas, e um bom desfecho que não fecha o caixão definitivamente. Com a vitória temporária sobre o mal por um alto preço, Trevor consegue que o nome Belmont seja respeitado, possibilitando assim que aquele local se torne o lar de sua família e diferentemente do que ocorre em “Castlevania III: Dracula’s Curse” Alucard não retorna para o seu torpor autoinduzido.
Como nem tudo é perfeito, infelizmente Striga e Morana não tiveram muito desenvolvimento, apesar de terem sido guiadas para sua jornada futura. Infelizmente a trama faz com que você também não consiga compreender de forma muito plausível a motivação de Saint Germain sem o achar extremamente burro, afinal o amor pode te cegar!
Como já dito, a quarta temporada de Castlevania apresenta uma trama de reencontro e ressignificação da jornada pessoal de cada um dos personagens com boas pitadas de referências, uma animação de tirar o fôlego e desfechos surpreendentes.