Não tem sido fácil para fãs de musicais da Broadway nos últimos anos. Foram muitas adaptações questionáveis para o cinema (incluindo, principalmente, uma horrorosa adaptação do renomado musical Cats), mas ainda há esperança para o gênero em Hollywood. A adaptação de In the Heights, do aclamado escritor de Hamilton – Lin Manuel Miranda – é um sinal de que é possível mudar essa onda de azar dos musicais. Assista o trailer e leia a nossa crítica de In the Heights (sem spoilers).

Enredo de In the Heights

In the Heights possui uma história simples, mas cativante. O foco é nos habitantes de Wahsington Heights, um bairro na periferia Nova Iorquina com uma grande população de imigrantes latinos, e seus sonhos – sejam eles grandes ou pequenos.

A história também possui um ponto que revolve em um prêmio de loteria de 96000 dólares, que sabe-se que foi ganho por alguém da comunidade, mas não sabe-se quem. A ideia do prêmio é bem utilizada no enredo, pois torna-se uma ferramenta para descobrir as ambições dos personagens, mas não torna-se o centro da história.

Os protagonistas são Usnavi, dono de uma bodega no bairro que sonha em voltar a Porto Rico; Nina, uma jovem que teve problemas com seus sonhos na Universidade de Standford; e Vanessa, uma manicure que sonha em se tornar estilista. Os coadjuvantes também possuem histórias bem desenvolvidas que contrabalançam os protagonistas, como Abuela Cláudia e sua história de luta e acolhimento; e Sonny, com o clássico sonho americano. 

Uma clássica reunião de família, né?

Já de cara vemos a imagem criada pelo autor. Lin Manuel Miranda disse que queria mostrar um lado dos imigrantes pouco visto na mídia: de um povo trabalhador. A história cerca a questão de identidade de latinos de segunda geração, questões de imigração, gentrificação e a luta para alcançar os sonhos.

A união entre música, coreografia e ambientação

Em um musical, a trilha sonora e a coreografia devem ser o principal ponto do filme, e In the Heights entende isso. O filme explora a espetacular trilha da Broadway (Lin Manuel Miranda é um ícone!) e a expande com a liberdade diretorial de um filme. Ou seja, agora que o ambiente não está mais limitado ao palco, podemos ver muito mais de Washington Heights, seus habitantes e explorar a criatividade com a coreografia.

O filme tem grandes números, como a abertura “In the Heights”, “96000”, “The Club” e “Carnaval del Barrio”. É possível sentir a energia dos dançarinos a todo vapor através das músicas. “96000” em particular mostra muito bem a liberdade diretorial ao adaptar um musical dos palcos para as telas, criando toda a coreografia em uma piscina pública que elevou o número (que já era bom!). Parabéns ao diretor Jon M. Chu!

As músicas emocionais também acertam em cheio. Minha favorita na adaptação foi “Paciencia y fe”. As escolhas de ambientação, figurino e coreografia transformaram uma música, já impactante, em uma bomba emocional.

Os primeiros oito minutos do filme já dão uma boa ideia do tipo energia que você pode esperar dos números, curte só:

Comparando com o original

Claro que, como toda adaptação, houveram mudanças em relação com o original. Isso não é necessariamente uma crítica a In the Heights, mas há algumas mudanças que valem ser mencionadas.

A personagem Nina foi a mais afetada, com um papel bem diminuído para o filme. A mudança eliminou canções do seu arco, eliminou a presença da sua mãe na história e até mesmo implicou na redução das falas de Benny, seu interesse romântico. Em contrapartida, Vanessa teve muito mais relevância na história, incluindo todo um sub-plot original envolvendo um novo sonho de ser estilista.

Outra mudança foi a importância da loteria na história, que acredito ter sido mais acertada. Com a alteração, os desejos dos personagens parecem mais realistas e próximos da audiência. 

E claro, o enquadramento! Como vemos pelos trailers, Usnavi está numa praia contando a história do bairro para crianças. Isso permitiu o enquadramento do filme ser mais criativo, mas como prometido, sem spoilers!

Referências a outros musicais

In the Heights não é somente uma carta de amor a cultura latina, mas também a outros clássicos da Broadway. Já no teatro, havia referências ao clássico West Side Story, mas o filme adicionou mais referências.

Fãs do Lin com certeza notaram uma referência a “You’ll be back” de Hamilton. E claro, o próprio Lin no papel de Piraguero! E na cena pós-créditos, vemos o próprio George Washington (Chris Jackson) em Whashington Height!

E eu, como boa fã de Hadestown, não pude deixar de gritar com a partição de Patrick Page no elenco – uma lenda da Broadway – e me entristecer que ele não cantou no elenco.

Veredito

Sobretudo, In the Heights entende o que faz uma boa adaptação. A produção respeita o talento de seu time, utilizando a direção de filmagem de forma a otimizar a exposição das coreografias e utilizando técnicas vocais que são saudáveis para seus atores.

Depois de desastrosas adaptações no passado recente de Hollywood, In th Heights traz a esperança de novos títulos com a qualidade esperada de uma produção da Broadway. Estou aqui de dedos cruzados esperando Dear Evan Hansen e West Side Story!

Acredito que nem preciso dizer que recomendo a experiência, né? Se você é fã de musicais, é um filme indispensável. Se você já não curte muito o gênero, talvez não seja a melhor escolha, já que 90% do enredo é cantado – mas quem sabe o ritmo latino não seja um diferencial e você vire um apreciador de musicais?

In the Heigths está disponível na HBO Max, que chegará ao Brasil no dia 29 de junho.

Ouça nosso podcast sobre Hamilton

REVER GERAL
Roteiro
Trilha Sonora
Atuação
Fotografia
Figurino
Coreografia
Julia Barcelos
Professora de inglês, bacharel de engenharia e stan da Yennefer em tempo integral.
in-the-heights-renova-a-esperanca-dos-musicais-em-hollywood-criticaIn the Heights entrega um musical completo: excelentes músicas e coreografias, atuações memoráveis, direção impecável... e esperança para um futuro de boas adaptações da Broadway.