Lançado no longínquo ano de 2003 para Playstation 2, Drakengard é um game RPG de ação desenvolvido pelo estúdio Cavia e publicado pela Square Enix. É o primeiro título da série que viria a dar origem anos depois a NieR Gestalt/Replicant.
Ele foi anunciado primeiramente na E3 de 2003, e contou com Yoko Taro na direção, e com Takamasa Shiba (Final Fantasy Tactics) e Takuya Iwasaki (Ghost in the Shell: Stand Alone Complex) como produtores. Já a trilha sonora ficou por conta de Nobuyoshi Sano (Tekken 3) e Takayuki Aihara (Street Fighter EX), e a arte ficou a cargo de Kimihiko Fujisaka (The Last Story).
O jogo foi bem recebido no Japão e teve nota 29 de 40 da revista Famitsu, vendendo 122 mil unidades em sua semana de estreia. Já no ocidente, sua recepção foi mista e teve notas variando entre 7.9 pela IGN e 63 no Metacritic, com sua história sendo o ponto mais elogiado e a jogabilidade e gráficos sendo os pontos mais criticados.
Com essas informações iniciais em mente, vamos conhecer um pouco mais sobre esse título.
Personagens e enredo
O jogo se passa em um mundo fictício chamado Midgard, um lugar que é protegido do Caos por objetos chamados de Selos, que são ligados a uma mulher que ganha o título de Deusa do Selo. Os Selos e a Deusa devem ser mantido a salvo, caso o contrário, seres chamados Watchers trariam o fim para a humanidade.
O enredo segue o jovem príncipe deposto da União chamado Caim. Ele lidera um exército em uma guerra religiosa contra o Império, e seu maior objetivo é proteger sua irmã Furiae, a Deusa do Selo. No calor da batalha, Caim é ferido mortalmente e, para se salvar e continuar lutando, ele acaba fazendo um Pacto com um dragão vermelho – um Pacto é um contrato feito entre humanos e feras e tem como objetivo fundir a força vital de ambos, aumentando também suas forças.
Ao longo do jogo, outros personagens são introduzidos: Leonard, um homem que acabou perdendo seus irmãos durante um ataque do Império; Arioch, uma elfa que cedeu à loucura após assistir sua família ser assassinada; Seere, um jovem do Império que perdeu seus pais em um ataque de um culto; Inuart, amigo de Caim e ex-noivo de Furiae, que ainda sonha em salvá-la do papel de Deusa e reconquistar seu amor; Verdelet, sacerdote que tem como missão proteger a Deusa do Selo; e Manah, a irmã perdida de Seere e líder do culto dos Watchers.
O jogo tem cinco finais diferentes, que são influenciados pela quantidade de inimigos que Caim derrota durante a gameplay: ao matar determinado número de inimigos, armas secretas serão desbloqueadas e que podem ser melhoradas, levando a mais armas secretas, e assim por diante. Esse looping possibilitará o desbloqueio de todos os finais, nos quais a máxima de Taro para o jogo é sempre reforçada: ninguém pode ter um final feliz.
Inspirações e produção
A ideia do jogo foi concebida por Shiba e Iwasaki como uma versão de Ace Combat (um jogo de simulação de combate aéreo) com dragões. Porém, com o sucesso de Dinasty Warrior 2 no Japão, executivos da desenvolvedora quiseram que mecânicas de ação e hack ‘n slash fossem adicionadas ao título, dando origem a um híbrido com jogabilidade de ação e batalhas aéreas cujo público-alvo, de acordo com o próprio presidente da Square Enix na época Jun Iwasaki, eram os jogadores de títulos de ação que procuravam uma história mais profunda. O combate foi inspirado em filmes como Coração de Dragão, O Escorpião Rei e A Múmia.
Essa decisão de incluir um tipo de jogabilidade totalmente diferente do planejado acabou se provando uma das maiores dificuldades para a equipe. Anos depois do lançamento do game, Shiba comentou que o estúdio não tinha nenhuma experiência em jogos de ação, e isso resultou na jogabilidade travada do game no combate no chão e também gerou um grande problema em encontrar um equilíbrio na transição entre as batalhas aéreas e terrestres.
Já em relação a história, junto com a roteirista Sawako Natori (NieR Replicant), Yoko Taro escreveu o roteiro do jogo com um tom mais sério e sombrio, propositalmente diferente de franquias famosas de RPG como Final Fantasy e Dragon Quest. Possuindo como tema central a imoralidade, a ideia era abordar assuntos que podiam ser considerados problemáticos, como o desenvolvimento de sentimentos românticos entre irmãos, ou uma relação parasitiva/romântica entre um dragão e um humano, ou ainda pedofilia e canibalismo.
Taro teve diferentes inspirações para diferentes elementos da história: a indicação de relacionamento incestuoso foi inspirado no anime Sister Princess; já a utilização de elementos comuns para esconder temas mais sombrios teve inspiração em Neon Genesis Evangelion; e o mundo do jogo com suas paisagens e mitologias foram inspirados principalmente no folclore da Europa Setentrional e no revisionismo japonês.
Críticas e legado
O grande ponto forte do jogo é, definitivamente, sua história: a interação entre esses personagens não-convencionais consegue gerar momentos que são desconfortáveis mas que são muito consistentes no geral. Na época, a crítica especializada destacou o uso de temas complicados em um mundo de fantasia e que a história, apesar de ser difícil de acompanhar por vezes, é o principal motivador para completar o jogo.
Já no que toca os pontos negativos, não são poucos: a jogabilidade engessada, principalmente no combate terrestre, afasta pessoas que se interessam pelo título, e o combate aéreo não é menos complicado de dominar. Os gráficos também não foram recebidos de forma positiva, que, apesar de não serem horríveis, também não são bons. A dublagem também não é das mais convidativas, mas a trilha sonora, por mais escassa que seja, consegue entregar bons momentos.
Esse título com recepções mistas para negativas conseguiu construir um legado como um jogo considerado cult e que levou a criação de duas franquias interligadas: de um lado, a continuação da trilogia Drakengard, que gera controvérsias no que diz respeito a qualidade; do outro lado, a criação de uma nova série com jogos de sucesso como NieR: Automata, assim como aventuras em mares diferentes como os jogos mobiles com NieR Re[in]carnation.
Ainda assim, fica a questão – vale a pena jogar Drakengard? E a resposta pra isso é: talvez. A jogabilidade definitivamente é algo a ser levado em consideração, e simplesmente pode não ser divertido aprender a lidar com todos os problemas. Outra coisa que pode ser um problema é a exclusividade do título para Playstation 2, por não ter vendido tão bem a ponto de ser portado para outros consoles. Porém, para os fãs da série NieR que querem ver as origens dessa história, pode ser interessante provar um pouco do jogo e ver com seus próprios olhos.
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