Desenvolvido pela antiga Square Soft e lançado em agosto de 1995 no Japão e na América do Norte, Chrono Trigger é um jogo de RPG originalmente feito para o Super Nintendo.
Sempre lembrado nas listas de melhores jogos já feitos, Chrono Trigger teve em sua equipe de produção uma rara junção de alguns dos maiores nomes da indústria como Hironubu Sakeguchi (produtor da franquia Final Fantasy), Yuji Horii (diretor dos jogos de Dragon Quest), Akira Toriyama (mangaká autor de Dragon Ball), Nobuo Uematsu (compositor das músicas de Final Fantasy) e Kazuhiko Aoki (designer dos jogos de Final Fantasy).
A própria concepção do jogo foi pensada tendo em mente que ele seria um título revolucionário e que criaria um novo padrão de excelência em jogos com seus gráficos e sistema de combate de altíssima qualidade, trilha sonora premiada e história dramática com vários finais – não a toa o chamado Dream Team foi reunido para sua produção.
Para comemorar os 26 anos do lançamento do game nas Américas, voltaremos até o início dos anos 1990 para entender um pouco da produção deste clássico atemporal.
O início de tudo
Tudo começou em 1992, quando Sakeguchi, Horii e Toriyama estavam viajando para pesquisar sobre computação gráfica nos EUA. Lá, os três conversaram sobre criar algo que ninguém jamais havia feito – essa seria a semente do que mais tarde juntaria alguns dos maiores nomes da história dos jogos em um único projeto.
O trio passou a maior parte do ano seguinte pensando sobre as dificuldades de criar um jogo do zero, até que Aoki, na época funcionário da Square Soft que havia trabalhado nos designs de Final Fantasy III e IV, ficou sabendo da ideia e os contatou, se oferecendo para produzir o jogo. O agora quarteto passou quatro dias juntos planejando detalhes do projeto para então levá-lo para a Square.
A empresa reuniu de 50 a 60 funcionários para trabalhar no jogo, incluindo o escritor Masato Kato. A produção começou em 1993, inicialmente como um título da série Mana com o nome Maru Island, que seria lançado para o futuro Super NES CD-ROM feito em parceria com a Sony. Quando a parceria foi dissolvida, o projeto foi migrado para o Super Nintendo tradicional e foi rebatizado de Chrono Trigger, se tornando um jogo independente.
Desenvolvimento
A equipe propôs que o tema central do jogo fosse viagem no tempo, cujo qual Kato foi inicialmente contra por temer que a jogabilidade acabasse se tornando monótona, mas acabou sendo convencido. Ele se reuniu com Horii durante várias horas por dia ao longo de 1993 para escrever o enredo do jogo.
A ideia de Kato era evitar ao máximo as chamadas fetch quests: uma longa série de tarefas onde o jogador precisa ir do ponto A até o ponto B buscar algo para algum NPC, retornar para o ponto A e entregar o objeto. Houveram várias reuniões ao longo da produção para garantir a fluidez do enredo, cortando vários destes momentos indesejados. Ele também pensou no sistema de múltiplos finais para evitar grandes ramificações na história, entregando a Yoshinori Kitase e Takashi Tokita a responsabilidade de escrever as subtramas.
O design dos personagens, monstros, veículos e das diferentes épocas ficaram a cargo de Toriyama, contando com ideias de Kato e de Sakaguchi no processo de criação. Outros designers conhecidos que participaram do projeto foram Tetsuya Takahashi, Yasuyuki Honne, Tetsuya Nomura e Yusuke Naora, todos vindos na época de Final Fantasy.
Sakaguchi também foi o responsável pelo sistema geral do jogo, também adicionando elementos menores como a participação de personagens secundários ou da relação entre alguns personagens específicos. Também foi ele que incluiu o recurso do New Game+ no jogo, para atender a necessidade de viajar no tempo mais uma vez que os testadores beta demonstravam:
“Sempre que podíamos, tentávamos fazer com que uma ligeira mudança em seu comportamento causasse diferenças sutis nas reações das pessoas, até nos menores detalhes […] Acho que a segunda jogatina terá um interesse totalmente novo.”
Trilha sonora
Mesmo com todo esses grandes nomes na produção e com todos os elementos que eles trouxeram para o jogo, é provável que a maior característica pela qual Chrono Trigger seja lembrado é a sua trilha sonora.
Ela foi composta principalmente por Yasunori Mitsuda: descontente com sua posição na Square, Mitsuda pensava em deixar a empresa quando Sakaguchi o abordou e ofereceu o cargo de compositor no projeto. Contente com a oportunidade, Mitsuda chegou a dormir no escritório durante meses seguidos apenas para se manter imerso no trabalho e entregar grandes faixas. Ele também perdeu quarenta músicas que estavam em desenvolvimento em um problema com um Disco Rígido, mas sua dedicação deu origem a maioria das faixas do jogo. Porém, perto do final do projeto, ele acabou desenvolvendo úlceras estomacais e precisou ser afastado.
Foi então que o quinto membro do Dream Team entrou de vez em ação: Nobuo Uematsu, que até então estava apenas auxiliando Mitsuda por estar ocupado com outros projetos, assumiu o final da produção e compôs cerca de dez músicas para o jogo. A trilha sonora terminada foi considerada uma obra prima, se tornando uma das maiores de todos os tempos e inclusive rendendo a comercialização de um CD triplo no Japão.
Recepção e legado
Na época de seu lançamento, Chrono Trigger foi aclamado pela crítica por todos os seus aspectos: história bem escrita, belos gráficos, trilha sonora emocionante, jogabilidade bem trabalhada e alto valor de replay devido aos múltiplos finais. O jogo vendeu 2,36 milhões de cópias no Japão e 290.000 no exterior, terminando o ano atrás apenas de Dragon Quest VI e Donkey Kong Country 2.
Hoje em dia ele é constantemente lembrado nas listas de melhores jogos já feitos, também ganhando novas versões ao longo do tempo – uma para Playstation 1, com adição de cenas animadas do próprio Toriyama; outra para Nintendo DS, que tem dungeons extras e um novo final para conectá-lo com sua continuação, Chrono Cross; além dos ports para Android, iOS e PC, todos baseados na versão de DS.
Os fãs continuam esperando algum tipo de novidade do jogo: já houveram tentativas de remakes feitos de forma independentes que não foram continuados, mas nada oficial vindo diretamente da Square Enix. O que nos resta é aproveitar a versão original de Chrono Trigger, que mesmo em 2021, ainda é um dos melhores jogos já feitos e em nada perde para os jogos AAA da atualidade.
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