De acordo com um estudo científico da equipe do MinuteEarth foram ranqueados diversos dragões da cultura pop para escolher dentre eles qual seria a criatura mais provável de habitar o nosso mundo, respeitando, claro, as leis da física e da biologia que regem as formas de vida que conhecemos.

Levando em conta esses e outros representantes, uma batalha foi travada, isso mesmo, foram destacados alguns patamares que impõem barreiras das leis naturais a serem superadas, caso os dragões passem por essas barreiras eles seguem para a próxima eliminatória, até que consigam provar que são naturalmente aptos para existir na Terra.

O fogo:

O primeiro patamar leva a característica geral mais fantasiosa dos dragões, a habilidade de cuspir fogo, para checar a possibilidade disso, primeiramente, deve-se pensar se há no reino animal característica semelhante, e a resposta todos devem saber, não existe. Porém, há o besouro-bombardeiro, um inseto que consegue liberar uma substância calcinante do seu abdôme, esse jato quente expelido pelo besouro é a reação de peróxido de hidrogênio e hidroquinona, substâncias que ficam armazenadas separadamente dentro do animal e ao serem expelidas se encontram e provocam uma reação explosiva. Acontece que a seleção natural cuidou bastante para que esse mecanismo não destruísse o inseto, para que o mesmo ocorra com os dragões (já que fogo é fora de cogitação) seria necessário não só bolsas de armazenamento dessas substâncias como um revestimento capaz de aguentar a força e violência da reação. Pensando assim, nenhum dos dragões passariam, mas pensando que a natureza pode sim produzir um “dragão-bombardeiro”, todos os dragões podem ser encaixados nesse patamar.

Os membros:

Agora chega a discussão mais polêmica acerca dos dragões, a quantidade de membros que as criaturas possuem, de acordo com as representações ocidentais mais clássicas, os dragões tem 4 patas e 2 asas semelhantes as de um morcego, o que é muito importante de se notar já que essas se comportam como braços. Há ainda as representações de dragões com 2 patas e 2 asas, que muitos chamam de Wyvern, mas será que é mesmo?

Bandeira do Pais de Gales

Levando em conta que o dragão seria um animal reptiliforme, e esses animais evoluíram de um peixe tetrápode, com 4 membros, e esse formato de corpo é uma regra para todas as criaturas ósseas que descendem desse peixe, incluindo todos os animais ósseos voadores, como os morcegos, aves e pterossauros. Portanto só poderiam existir dragões com 4 membros, seja com 2 patas e 2 asas (que agem também como patas) ou um dragão com 4 patas e um voo mágico, como as representações orientais.

Mas pensando no caso dos insetos, que tem asas que surgiram de apêndices corporais e não necessariamente de membros, um “dragão inseto” poderia até ser real, em tamanho bem menor, claro, devido as restrições biológicas desses animais. E um dragão réptil com desenvolvimento de um apêndice? A única estrutura corporal que poderiam se desenvolver em asas seriam os ossos escapulares, combinado com uma musculatura forte poderiam formar um apêndice parecido com as asas, mas duvido que seria funcional.

Sendo assim, os dragões que passariam para o próximo patamar são os de 4 membros, todos os outros foram eliminados da possibilidade de existir no nosso mundo.

As asas e o voo:

Nessa parte o que tem que ser checado são as possibilidades biológicas e físicas do voo. Para voar, as criaturas precisam respeitar algumas regras, primeiramente, elas precisam bater as asas, para isso as aves tem uma estrutura óssea chamada quilha, que fica na parte peitoral do corpo e tem a função de sustentar os músculos que são utilizados no bater das asas, sem isso, eles não conseguiriam fazer o movimento necessário para voar, já que as asas ou são muito grandes em relação ao corpo ou batem muito rápido. Dessa forma, todos os dragões de peito liso, como Noivern (Pokémon) e Pesadelo Monstruoso (como treinar seu dragão) são eliminados aqui mesmo.

O último grande desafio é simplesmente checar qual dragão conseguiria realmente voar, para isso deve-se checar um proporção física de peso, tamanho de asa e velocidade de voo, onde a fórmula básica diz que P = 0.3ρV²S, ou seja, quão mais pesado for o corpo do animal, maior tem que ser as suas asas ou mais veloz tem que ser o seu voo. Olhado para os pinguins que tem quilha e asas minúsculas, poderiam voar, desde que atingissem uma velocidade equivalente a um avião comercial, porém, isso destruiria seus corpos, então não seria tão simples assim só resolver a proporção.

Como estamos falando de criaturas enormes, precisamos checar outras criatura enormes voadoras, a maior delas que já existiu, foi o Quetzalcoatlus, um pterossauro de 250kg em média, que tinha asas de 12 m de envergadura e por isso sabemos que deveria voar a uma média de 80 km/hora, velocidade semelhante de uma ave de rapina dos dias de hoje. Esse animal tinha dimensões parecidas com uma girafa, o que já é bastante grande, os dragões que conhecemos são maiores ainda, será que eles poderiam voar? Bom, dentro das suas obras todos conseguem voar, mas olhando através das leis físicas e biológicas citadas, nenhum deles conseguiria verdadeiramente voar.

Todos os dragões da ficção que chegaram até esse patamar apresentam asas muito pequenas em relação ao seu peso e tamanho corporal, para equilibrar isso, teriam que voar a uma velocidade absurda, Drogon (Game of Thrones) e Smaug (Hobbit: A desolação de Smaug) que o digam, teriam que alcançar a marca de 470 km/hora para poder se manter no ar, mas voar a essa velocidade, mesmo para eles que são assustadoramente poderosos, seria fatal.  Portanto, nenhum dragão da cultura pop conseguiria chegar ao patamar de vitorioso, então o prêmio de mais realista vai para aquele que tem as maiores asas em relação ao seu peso, e o grande vencedor é o Rabucórneo Húngaro (Harry Potter e o Cálice de fogo), já que pelo tamanho da sua asa teria que voar a uma velocidade de 260 km/hora, a menor entre os dragões.

Por fim, já não é tão difícil imaginar os dragões na nossa realidade, eles poderiam ser criaturas colossais com asas bem maiores que imaginamos, o que pode ser muito mais terríveis do que já são, ou poderiam ser pequenos lagartos voadores cuspidores de ácido, o que seria igualmente terrível, levando em conta o pânico que uma abelha ou barata já causam.

 

Fontes:

MinuteEarth

Tennekes, H. (2009). The simple science of flight: from insects to jumbo jets. MIT press.Azuma, A., Azuma, S.,

Watanabe, I., & Furuta, T. (1985). Flight mechanics of a dragonfly. Journal of experimental biology, 116(1), 79-107.

Habib, M. (2013). Constraining the air giants: limits on size in flying animals as an example of constraint-based biomechanical theories of form. Biological Theory, 8(3), 245-252.