Fernanda Montenegro, a grande dama do cinema e dramaturgia do Brasil, aos 92 anos foi eternizada na Academia Brasileira de Letras, a ABL na quinta-feira (04).
Única concorrente a vaga, foi eleita ao receber 32 votos a favor, do total de 34. Para que a atriz fosse eleita, precisava de pelo menos a metade dos votos, sendo esses últimos 2 em branco.
Fernanda é a nona mulher eleita pela instituição em 124 anos, e também será a primeira mulher a assumir a cadeira de número 17 que pertencia ao diplomata Affonso Arinos de Melo Franco (1930-2020).
Sendo a única candidata a essa eleição na ABL, outros nomes também foram cogitados para concorrer, mas retiraram a candidatura quando souberam que a atriz seria a concorrente.
“Fernanda me mandou um recado: ‘Vá em frente, depois nos encontramos’.” Disse Ignácio de Loyola Brandão que é contista, romancista e jornalista eleito imortal pela academia em 2019 para uma entrevista ao Correio Braziliense. “Ela seria eleita, sem dúvida alguma, mas eu era incerteza. Deu no que deu, fui eleito por unanimidade. Agora, espero a chegada dela.” Finalizou Loyola.
A atriz, feminista atuante, levantou um ponto alto durante entrevistas que concedeu para Malu Gaspar, pelo Jornal O Globo: “Já não teve nenhuma mulher (Na ABL). Isso (Mulheres ocupando cadeiras na Academia) não vai parar. Vai chegar uma hora que talvez tenha mais mulheres do que homens. Certamente, a chegada das mulheres vai ter força e será aceito. É do tempo atual, da justiça em torno da existência humana”.
Ainda nessa entrevista, Fernanda Montenegro disse que ficou espantada com o resultado da candidatura, pois a academia escolheu uma atriz como imortal, já que considera a arte da atuação efêmera.
Não é novidade para ninguém sua visão política, bem como uma artista que viu a própria arte ser prejudicada várias vezes por conta do atual governo.
“Esse atual governo é uma forca, um vômito, é uma apunhalada no ventre. Mas vai acabar. Uma hora vai acabar. A grande tristeza é que ele entrou pelo voto. (…) As pessoas votaram no Bolsonaro. E por que votaram? Talvez porque os governos anteriores cumpriram só metade do prometido. Talvez tenha causado uma desilusão” Criticou.
Desde o Século XIX, a ABL não tinham muitas vagas disponíveis para novos integrantes.
Nesses últimos dois anos, com a morte de cinco acadêmicos, sendo eles: Tarcísio Padilha, Affonso Arinos de Mello Franco, Murilo Melo Filho, Alfredo Bosi e Marco Maciel, nomes que vão desde filósofo até mesmo a ex-vice-Presidente da República, houve a abertura de vagas para ocupar as cadeiras.
Marco Lucchesi, presidente da ABL, reconheceu que a presença de Montenegro enriquece os profundos laços da Academia com as artes cênicas, sendo a atriz uma intelectual engajada e sensível leitora do real, além de um dos grandes ícones da cultura brasileira.
Com uma sólida carreira no teatro e na TV, a atriz fez sua primeira peça em 1950 e em 1951 foi a primeira contratada pela TV Tupi.
Em 1965, estreou no cinema com o filme “A Falecida” (1965), de Leon Hirzsman. Também foi escalada para “Eles Não Usam Black-Tie” (1981) do mesmo diretor.
Já na Globo, atuou em mais de 30 obras, mas foi consagrada em 1999 ao ser a única brasileira indicada ao Oscar de melhor atriz, no clássico filme “Central do Brasil” de Walter Salles.
Em 2012 ganhou o Emmy internacional de melhor atriz pelo seriado “Doce de Mãe” com direção de Ana Luíza Azevedo, Jorge Furtado.
Também participou de filmes memoráveis como “O Auto da Compadecida” (2000) de Guel Arraes e “A Vida Invisível” (2019) de Karim Aïnouz.
Sendo Fernanda uma artista completa, para comemorar seus 90 anos, lançou uma única obra, o livro de memórias “Prólogo, Ato, Epílogo” que foi lançado pela Companhia das Letras em 2019.
Na obra, conta não apenas sobre sua trajetória pessoal, mas também suas visões a respeito do Brasil.
Embora um dos requisitos para entrar na ABL seja o da relevância cultural, independente do número e gênero de obras publicadas, a Academia que é conhecida como uma entidade dedicada à literatura, tem procurado ser mais aberta à cultura popular, incorporando outras artes.
Fernanda Montenegro deve assumir o posto em março de 2022, quando o órgão volta do recesso de fim de ano.
Veja também:
• Natalie Portman presta homenagem a mulheres esnobadas no Oscar 2020