Produzido pela Metro-Goldwyn-Mayer, Warner Bros. Pictures, GK Films e Square Enix, Tomb Raider – A Origem é um filme de 2018 baseado nos títulos reboot da franquia de Lara Croft.

O longa é dirigido por Roar Uthauq e escrito por Genebra Robertson-Dworet e Alastair Siddons. O roteiro foi baseado em uma história escrita por Evan Daugherty e Robertson-Dworet, que por sua vez foi baseada no título de 2013 e sua sequência de 2015.

O elenco é formado por Alicia Vikander como Lara Croft, Dominic West como Lord Richard Croft, Walton Goggins como Mathias Vogel, Daniel Wu como Lu Ren e Kristin Scott Thoman como Ana Miller.

Com críticas majoritariamente negativas, o filme foi rotulado no site Rotten Tomatoes como uma “abordagem mais pé no chão com uma protagonista que se encaixa no projeto – mas nada disso funciona devido a uma história de origem sem inspiração”, alcançando nota de 5,3.

Vamos entender o motivo do filme ser tratado dessa forma, como o projeto foi conduzido e se ele é mesmo tão ruim quanto parece. Vale ressaltar que essa review conterá spoilers do filme e dos games de Tomb Raider.

Enredo e atuações

Lara Croft é uma jovem no auge dos seus 21 anos que passa seus dias fazendo entregas de bicicleta e praticando luta. Ela vive um aperto financeiro atualmente, não conseguindo manter em dia o pagamento da academia, e por isso decide participar de uma competição onde ela seria perseguida por outros ciclistas e, caso escapasse, receberia uma boa quantia em dinheiro.

Ao ler esse resumo do início do filme, talvez você se pergunte: onde está a expedição para Yamatai, o navio afundando, os nativos e os cultos? A resposta é ao mesmo tempo simples e triste – o enredo de Tomb Raider é extremamente raso, assim como seus personagens.

Em uma tentativa de trabalhar uma releitura do reboot da franquia, o filme acabou levando Lara para um lado sem propósito. Por exemplo, a famosa arqueóloga na realidade não é formada em arqueologia no longa – ela nem sequer foi para a faculdade. A ideia era construir uma Lara mais pé no chão e trabalhadora, mas que na realidade só se transformou em uma personagem sem personalidade.

Sabendo disso, é importante ressaltar que nada disso cai nos ombros de Alicia Vikander, a atriz escolhida para viver Lara: ela trabalhou muito bem com o que lhe foi dado, se destacando principalmente pela parte atlética da personagem, cuja qual o filme sempre faz questão de destacar com cenas de ações corridas, apesar de pouco inspiradas.

Isso também é verdade para os outros atores do longa: o fato de Lord Richard, há muito desaparecido, não saber se está louco após 7 anos em Yamatai ou se é apenas um pai normal preocupado com a filha diz muito mais sobre a construção do personagem por parte dos roteiristas do que sobre as habilidades do ator.

Esperava-se que, por ter um material-fonte tão bem trabalhado, não fosse problema para os roteiristas ter uma linha clara para seguir: definitivamente não foi esse o caso.

Tomb Raider - A Origem
Daniel Wu como Lu Ren e Alicia Vikander como Lara Croft.

Jogos x Filme

Para aqueles que jogaram tanto Tomb Raider de 2013 quanto Rise of the Tomb Raider, o que não faltam são easter eggs e referências para serem encontradas: a roupa que Lara usa, o machado de escalada que ganha destaque nas cenas de ação, o arco que ela usa, a cena em que o avião despenca da cachoeira, e muito mais – o problema é que referências aos jogos não bastam para construir uma boa narrativa.

A parte central da história, o tanto que importava para construir um enredo, foi completamente modificada, com um ponto específico muito importante sendo completamente descaracterizado: não existe nada sobrenatural em Yamatai. Não existe uma rainha da antiguidade tentando possuir o corpo de uma descendente, não existe um exército de samurais imortais que defendem sua rainha, não existe um culto que tenta satisfazer a rainha para sair da ilha – nada.

No lugar do sobrenatural, foi criada a narrativa de que Himiko, ao invés de ser uma pessoa cheia de poderes, era portadora de um vírus mortal e que transformava humanos em criaturas sem propósito que não seja exterminar os outros. Para tentar privar o mundo dessa maldição, Himiko resolve se trancar em Yamatai e a Trindade (que nem sequer aparece no primeiro título do reboot) quer reaver o corpo da rainha para seus propósitos de dominação mundial.

Essa transformação no mundo de Tomb Raider acaba retirando todo o charme da história: todo o crescimento de Lara nos jogos está ligado ao fato de que há algo a mais lá fora, algo que ela não entende completamente e que pode destruir ela mesma e o mundo caso não seja tratado da forma correta. Não é a toa que os três games do reboot trazem elementos sobrenaturais para o enredo – em uma extensão, é também por esse motivo que histórias de caçadores de artefatos, como Indiana Jones, sempre acabam esbarrando em lendas que eram verdadeiras. Mudar essa característica muda o mundo em que os personagens vivem e, por consequência, mudam os próprios personagens – nesse caso, para pior.

Tomb Raider - A Origem
Mesmo com figurino fiel aos jogos, o filme não consegue entregar um enredo do mesmo nível.

Quem é essa Lara?

Um último ponto importante para discutir é a própria Lara Croft: como mencionado antes, Lara não é uma arqueóloga de fato – ela é só uma jovem tentando encontrar seu caminho na vida enquanto vive com o peso de não saber onde o pai está. Ao encontrar uma pista sobre seu pai após tanto tempo, Lara parte para Hong Kong e tenta encontrar uma forma de chegar a Yamatai. Nesse caminho ela conhece Lu Ren, que a leva de barco até a ilha onde eles são capturados por Mathias.

Note que, ao contrário dos jogos, Lara tem um motivo pessoal para estar ali. No primeiro título do reboot, Lara é uma jovem que foi convidada para a expedição até Yamatai – ela é guiada por sua curiosidade. Aqui, ela segue sua angústia de não saber o que houve com o pai.

Porém, como o roteiro não sabe dizer se essa Lara que estamos vendo é a mesma dos jogos ou uma outra pessoa, a todo momento há referências a personagem do reboot, a antiga Lara dos jogos de Playstation 1 e da interpretação de Angelina Jolie nos cinemas (inclusive com referência às pistolas duplas e ao penteado na cena pós-créditos), e até mesmo da Lara que o filme introduziu como perdida na vida.

Esse conflito consigo mesma faz a personagem parecer rasa, sem saber dizer o que quer nem por que está ali – casando perfeitamente com o roteiro, que também não sabe o que quer passar para o espectador.

Tomb Raider - A Origem
Vikander durante a cena pós-créditos do filme, fazendo referências às famosas pistolas de Lara.

Veredito

Falhando em tudo que se propõe, o filme de Tomb Raider não consegue trazer a nova Lara do reboot para o cinema: o enredo é raso, os personagens não tem motivação nenhuma, e muito acontece sem haver uma progressão na história. O único ponto que pode ser considerado positivo são as cenas de ação, pois Vikander consegue passar muito bem a ideia de que essa Lara tem grande aptidão física e se daria bem nessas situações.

Já há confirmação de que uma sequência está sendo produzida, com Misha Green atuando como diretora e produtora. Apesar de ainda não haver uma data exata de lançamento dessa sequência, podemos afirmar que há muito trabalho para ser feito se os estúdios envolvidos querem que a recepção ao novo filme seja diferente.

Tomb Raider – A Origem está disponível para comprar ou alugar no Google Filmes e no Youtube, e também está no catálogo do serviço de streaming da Telecine.

REVER GERAL
Enredo
Direção
Trilha Sonora
Figurino
Fotografia
Matheus
Fã de Yu-Gi-Oh!, Drakengard/NieR e Tomb Raider. Nas horas vagas, analista de Relações Internacionais e professor de inglês.
tomb-raider-a-origem-criticaFalhando em tudo que se propõe, Tomb Raider - A Origem não consegue trazer a nova Lara do reboot para o cinema: o enredo é raso, os personagens não tem motivação nenhuma, e muito acontece sem haver uma progressão na história.