Desenvolvido pela Access Games e publicado pela Square Enix, Drakengard 3 foi lançado para Playstation 3 em dezembro de 2013 no Japão e maio de 2014 na América do Norte e Europa.

Como o nome indica, se trata do terceiro título da série Drakengard, cuja história introduz a personagem Zero e seu dragão Mikhail. O objetivo de Zero é relativamente simples: ela precisa caçar e matar suas cinco irmãs, que estão espalhadas por diversas regiões do mundo. Suas razões, entretanto, não são claras e é trabalho do jogador entender a personagem a medida que o enredo avança.

Após as críticas do segundo título da série, Drakengard 3 veio com o intuito de agradar os fãs tanto da série quanto de RPG em geral, buscando entregar tanto uma história densa quanto uma jogabilidade agradável. Por conta disso, o título contou com o retorno da equipe responsável pela criação do primeiro Drakengard e de Nier Replicant/Gestalt, incluindo Yoko Taro na função de diretor criativo, Takamasa Shiba como produtor, Sawako Natori como roteirista e Keiichi Okabe como compositor da trilha sonora.

Vamos conferir como foi o processo de produção do game e entender se a Square Enix e a Access Games conseguiram, de fato, atingir o objetivo de entregar um jogo que agradou os fãs de RPG.

A ambição de Takamasa Shiba

Alguns anos após o lançamento de Drakengard 2, o produtor Takamasa Shiba tomou para si a missão de concretizar uma continuação da série – em uma entrevista para o site Digital Trends em 2013, Shiba afirmou que tinha uma ambição de mostrar que os fãs de RPG eram uma comunidade importante e que eles queriam uma experiência profunda e desafiadora.

Primeiro ele se reuniu com Yoko Taro para trabalharem em conceitos de uma sequência para Drakengard, mas o que acabou saindo desse brainstorming foi NieR Replicant/Gestalt, que foi lançado em 2010 e partiu de um dos finais de primeiro jogo para criar um mundo completamente novo. Após o lançamento de Replicant/Gestalt, Shiba foi novamente até Taro e, dessa vez, eles conseguiram levar a ideia de uma nova entrada da série até os executivos da Square Enix.

A empresa, que estava produzindo menos RPG singleplayer para consoles na época e viu no game a oportunidade de retornar aos dias de glória, utilizou questionários respondidos por fãs para entender o que eles desejavam de um novo jogo da série – o resultado foi que os jogadores queriam uma história mais sombria, parecida com o recém-lançado Nier.

Drakengard 3
Takamasa Shiba, produtor de Drakengard 1, 2 e 3.

O processo de desenvolvimento

Agora que a ideia já estava em processo de criação, era necessário escolher uma empresa para desenvolver o jogo: a escolhida foi a Access Games, conhecida na época pelo título Deadly Premonition (2010) e que, de acordo com Shiba, era muito boa na criação de jogos de ação e que permitiria que as críticas feitas à jogabilidade dos títulos anteriores pudessem ser consertadas ao mesmo tempo em que a história do jogo não fosse deixada de lado.

Além de Taro e Shiba, a equipe principal também teve como destaque o designer de personagens Kimihiko Fujisaka, o ator Shinnosuke Ikehata e a roteirista Sawako Natori. Todos esses nomes fizeram parte de jogos anteriores da série e retornaram para dar continuidade ao seus trabalhos.

Houveram duas linhas centrais que guiaram o desenvolvimento da história e dos personagens: por um lado, Shiba queria que o enredo tivesse um bom equilíbrio entre escuridão e humor, onde houvessem cenas em que as pessoas pudessem dar risada e que, mesmo assim, não tornasse a história boba. Por outro lado, Taro queria que os personagens não fossem simplistas demais e que o público ficasse o tempo todo com uma sensação estranha.

Zero e suas irmãs, as Intoners, tiveram seu design escolhido relativamente rápido: Taro pediu para que Fujisaka se inspirasse no anime Puella Magi Madoka Magica e no conceito clássico de garotas mágicas onde cada personagem tem uma cor específica e um grande traço de personalidade que as definem. Apesar do visual bonito, vários dos aspectos tanto de Zero quanto de suas irmãs foram feitos para serem incômodos, especialmente se tratando da protagonista, com temas de conteúdo sexual sendo a principal fonte de referência. A ideia também foi aplicada aos discípulos das Intoners, com cada um possuindo algum tipo de fetiche ou conduta sexual que molda suas personalidades.

Mesmo mantendo os temas mais sombrios e tocando em assuntos relativamente pesados, característica da série, Taro chegou a afirmar para o Gematsu que o jogo “não é Drakengard ou Nier. Se você está esperando por isso, ficará decepcionado.”

Drakengard 3
Zero e suas irmãs são o ponto central da trama de Drakengard 3.

Lançamento e recepção

Como Shiba queria que a história do jogo fosse um mistério, houveram poucas revelações anteriores ao lançamento. A chegada de fato ao mercado ocorreu em dezembro de 2013, após um adiamento de dois meses feito pela Square Enix para que a equipe pudesse polir melhor o jogo: não que isso tenha feito tanta diferença.

Apesar dos personagens bem construídos e enredo interessante, o desempenho do jogo prejudicava muito a experiência dos jogadores. Haviam problemas de queda brusca de FPS, câmera que não obedecia o comando dos jogadores e múltiplas situações de screen tearing (onde aparece um “rasgo” na tela). Além disso, apesar dos belos designs de Fujisaka, as texturas, gráficos e modelos dos personagens eram dignos da era do Playstation 2.

Com tudo isso em consideração, o jogo foi recebido de forma mista: enquanto veículos como Famitsu e Destructoid destacaram a qualidade do enredo e dos personagens e atribuíram notas altas ao jogo, outros veículos como IGN e Eurogamer criticaram os gráficos, escolha de paleta de cores e os problemas de desempenho, também destacando a lentidão com a qual a história se desenrola.

Talvez a nota que melhor resuma seja a média dos críticos no site agregador Metacritic: 61 de 100, uma nota mediana que reflete o produto final.

Drakengard 3
Mesmo com o excelente trabalho nos design de personagens e enredo, Drakengard 3 não conseguiu convencer completamente a crítica.

Vale a pena jogar hoje em dia?

Em termos de conteúdo bruto, Drakengard 3 é, sem dúvidas, o mais interessante da trilogia: além do jogo em si, foram lançados dois mangás escritos pela roterista suplementar Emi Nagashima sob o pseudônimo Jun Eishima (Drag-On Dragoon: Utahime Five e Drag-On Dragoon: Shi ni Itaru Aka, que funcionam como prequela e sequência do jogo, respectivamente), DLCs com seis capítulos extras que contam as histórias das irmãs de Zero, uma novela que recontava a história do Drakengard original e um romance chamado Drag-On Dragoon 3 Side Story, que conta uma série de eventos inéditos que conecta o título ao primeiro jogo da trilogia.

O conjunto do jogo e dos conteúdos extras criam um mundo extremamente interessante que, mesmo que sofra com a falta de muitos personagens de qualidade, os poucos que se destacam são o bastante para construir excelentes histórias que carregam todo o conteúdo nas costas.

Porém, a baixíssima qualidade do jogo e a dificuldade de acesso aos conteúdos de forma legal no ocidente, torna a recomendação do game muito difícil. Caso você seja capaz de ignorar os inúmeros problemas de performance do título, encontrará uma história com personagens cativantes – mas é completamente compreensível caso os problemas são demais para aturar. Uma provável solução seria um remaster ou remake do jogo por parte da Square Enix, algo que os fãs vem pedindo a muito tempo, mas não há nenhum indício de que isso vá acontecer.

 

Drakengard 3
A história de Zero e suas irmãs é um dos muitos casos de jogos que se beneficiariam bastante de um remaster ou remake.

Drakengard 3 está disponível exclusivamente para Playstation 3.

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