Lançado originalmente em 1999 para Playstation, Chrono Cross é um JRPG desenvolvido e publicado pela antiga SquareSoft, atual Square Enix.

O game é uma espécie de continuação de Chrono Trigger e foi desenvolvido pelo roteirista e diretor Masato Kato, contando também com outros retornos da produção de seu antecessor como o diretor de arte Yasuyuki Honne, o produtor Hirochimi Tanaka, o compositor Yasunori Mitsuda e o planejador de som Minoru Akao. A equipe também foi composta pelo designer de personagens Nobuteru Yuki.

O título foi aclamado pela crítica na época de seu lançamento, chegando a obter nota 10.0 pela GameSpot e alcançando um score agregado de 92,28% de aprovação no antigo site GameRankings – hoje, o jogo tem nota 94 no Metacritic de acordo com a crítica especializada e 8.8 de acordo com os usuários.

Apesar do sucesso e das mais de um milhão e meia de cópias vendidas e de ter versões com os selos Greatest Hits e Ultimate Hits Series, o game nunca chegou a ser relançado para outras plataformas que não o Playstation 1, sendo disponibilizado apenas em 2011 para download na Playstation Network – porém, isso está prestes a mudar.

Em anúncio feito em fevereiro deste ano, um remaster de Chrono Cross chegará para as novas plataformas, permitindo aos jogadores reviver a grande experiência que o jogo proporciona. Para nos prepararmos para o relançamento do game, vamos conferir como foi o seu processo de desenvolvimento mais de 20 anos atrás.

Um sucessor para Chrono Trigger

Logo após o lançamento de Xenogears em 1998, a SquareSoft voltou novamente seus olhos para a produção de uma sequência para Chrono Trigger – novamente porque o próprio Xenogears foi inicialmente concebido para preencher esse papel, mudando de rumo a medida que seu desenvolvimento aconteceu.

O diretor Masato Kato já tinha diversas ideias que poderiam ser usadas desde o lançamento de Radical Dreamers, uma aventura em texto que atua como uma espécie de continuação para Trigger e que foi disponibilizado só no Japão em 1996. Com os executivos a frente da Square apontando Hiromichi Tanaka como produtor e pedindo para que Kato dirigisse o projeto, um novo Chrono entrou em desenvolvimento em meados de 1998.

O chamado Chrono Cross Team chegou a ter 80 membros no auge da produção do jogo, também contando com cerca de 10 a 20 artistas com foco em cut-scenes e 100 funcionários de teste de qualidade. Kato e Tanaka também contrataram Nobuteru Yuki para trabalhar como designer de personagens e Yasuyuki Honne para direção de arte e artes conceituais – apesar do número massivo de pessoas envolvidas, o time ainda tinha que lidar com a pressão de continuar o trabalho do chamado Dream Team que desenvolveu Trigger. 

Chrono Cross
Masato Kato, diretor de Chrono Cross.

Um desvio de caminho

Quando recebeu o aval da SquareSoft de fazer uma continuação para Trigger aos moldes de Radical Dreamers, Kato optou por continuar trabalhando os personagens da aventura em texto por achar que o jogo foi lançado antes de ter sido propriamente finalizado – seu principal objetivo era continuar a história da personagem Kid, que assume papel central em Cross.

Então, juntamente com Tanaka, Kato tomou a decisão de produzir uma sequência indireta para Trigger, ao invés de continuar trabalhando nas histórias de Crono, Marle e Lucca: a ideia do diretor era que, ao usar um elenco diferente, os jogadores que não eram familiarizados com Trigger poderiam aproveitar Cross sem problemas. Essa decisão também afetou elementos do jogo como a falta do uso massivo de viagens no tempo e o grande número de personagens disponíveis para jogar.

Kato também fez questão de reforçar publicamente em mais de uma ocasião que Cross nunca foi pensado para ser um Chrono Trigger 2 – podemos ver isso em uma fala do diretor ao Procyon Studio em 1999:

“Sim, a plataforma mudou; e sim, existiram várias partes do trabalho anterior que foram mudadas drasticamente. Mas em minha visão, o ponto de criar Chrono Cross era fazer um novo Chrono com as melhores tecnologias e habilidades de hoje. Eu nunca tive nenhuma intenção em só pegar o sistema de Trigger e movê-lo para o Playstation. É por isso que acredito que Cross é Cross e não um Trigger 2.”

Ainda em 1999 e com o trabalho finalizado, a Square chegou a lançar uma pequena demonstração com o primeiro capítulo do jogo juntamente com as compras de Legend of Mana. Mesmo sendo lançado no mesmo ano no Japão, foram necessários três meses de tradução e mais dois meses de trabalho de debugging antes do lançamento da versão norte-americana do jogo. Já em relação a Europa, o jogo chegou a ser registrado com a União Europeia, mas nunca foi oficialmente lançado.

Chrono Cross
Radical Dreamers, de 1996, é continuação de Chrono Trigger.

Recepções

Em cerca de três anos de vida no mercado, Chrono Cross vendeu 850 mil unidades no Japão e 650 mil no exterior. O jogo ganhou dois relançamentos, ambos para o Playstation 1: um como parte do Sony Greatest Hits nos Estados Unidos e outro como parte do Japanese Ultimate Hits no Japão. Fora isso, o game foi disponibilizado na Playstation Network em 2011, tanto em terras japonesas quanto norte-americanas.

A crítica especializada, em termos simples, classificou o jogo como uma obra de arte: sua narrativa complexa, sistema de batalha inovador, variedade de personagens, trilha sonora emocionante, gráficos vibrantes e seu sucesso em romper com seu predecessor foram só alguns dos pontos destacados pelos veículos da época.

A Electronic Gaming Monthly, revista estadunidense especializada em video games, deu o título de Gold Award para o jogo, que alcançou duas notas 10 e uma 9,5 em seu formato de três críticos. Já a GameSpot deu nota 10 para o game, que se tornou um dos 16 jogos dentre os 40 mil listados pelo veículo a receber essa nota. Por último, a consagrada revista japonesa Famitsu classificou o jogo com nota 36/40 em uma média entre quatro críticos.

Masato Kato, particularmente, ficou muito orgulhoso do rumo que Cross tomou: na mesma entrevista com o Procyon Studio citada anteriormente, o diretor chegou a comentar como ele considera que Cross é o melhor trabalho que eles poderiam ter feito na época, e que as diferenças entre esse título e Trigger não deveriam ser motivos para não gostar do jogo:

“Cross é, sem dúvidas, o Chrono de maior qualidade que podemos criar agora. (Não vou dizer que é o ‘melhor’ Chrono, mas…) Se você não pode aceitar isso, então sinto muito em dizer mas eu acho que o seu Chrono e o meu Chrono tomaram caminhos totalmente diferentes. Mas eu gostaria de dizer obrigado por se apaixonar por Trigger.”

Chrono Cross
Chrono Cross é aclamado em todos seus aspectos tanto pela crítica quanto pelos fãs.

23 anos depois de seu lançamento, Chrono Cross finalmente será relançado para as plataformas atuais, e assim poderemos – alguns pela primeira vez e outros não – experimentar e nos apaixonar pelo enredo de um jogo que, mesmo se distanciando tanto de seu predecessor, ainda assim foi capaz de entregar uma das mais belas obras de arte do mundo dos video games.

Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition estará disponível a partir de 7 de abril de 2022 para Playstation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC via Steam.

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