A série de The Witcher na Netflix mal teve sua primeira temporada e já foi confirmada como um sucesso para a plataforma de streaming. Mesmo antes do seu lançamento já haviam inúmeras análises do conteúdo, devido ao fato de que a franquia já possuía fãs devotos – fossem dos livros, jogos ou ambos. Uma dessas conversas originaram-se na revelação do elenco, com pessoas debatendo a inclusão de atores de etnias diversas. Em entrevista com a revista polonesa wyborcza.pl, o autor dos livros – Andrzej Sapkowski – deu sua opinião sobre o assunto.
Na entrevista foi feita a seguinte pergunta: Muitos espectadores têm um problema aparente com, por exemplo, Nilfgaardianos e Nortenhos negros. Por que você acha que poucos espectadores prestam atenção às Zerrikanas negras (que eram loiras no livro), mas tantos não conseguem superar um elfo negro?
Em sua resposta, Sapkowski disse o seguinte: Tanto quanto me lembro, a cor da pele não é discutida em detalhes nos meus livros, então os adaptadores podem expressar livremente sua arte, tudo é possível e tudo é permitido. Poderia ter sido assim, afinal. Eles fizeram minhas Zerrikanas loiras terem cabelos escuros nos quadrinhos, porque o artista tinha sua liberdade artística. Em “Troy: Fall of a City”, da Netflix, Aquiles é interpretado por um ator negro. Aquiles era, como sabemos, filho do rei Peleu da Tessália e da nereida Tétis. A série parece questionar esse “como sabemos” e sugerir uma interferência núbia. E isso poderia ter acontecido também, afinal.
A saga de The Witcher, apesar de ter se tornado um fenômeno mundial, também é um patrimônio muito importante na Polônia. Muitos fãs eslavos se preocuparam com a aparente indiferença às raízes polonesas em favor de uma abordagem mais norte-americana, mas Sapkowski também se pronunciou sobre o assunto respondendo a seguinte pergunta: Você já enfatizou muitas vezes que The Witcher não é uma história medieval nem eslava. Você está surpreso com as constantes tentativas de atribuir origem polonesa aos seus personagens?
Estou muito surpreso. O bruxo Geralt tem um nome bonito e “eslavo”, existem algumas vibrações “eslavas” nos nomes de pessoas e lugares. Há o leshen e a kikimora – mas você também tem a pequena sereia de Andersen e a fera de Jeanne-Marie Leprince de Beaumont. Eu acho que é necessário repetir isso: The Witcher é uma fantasia clássica e canônica, há tanto espírito eslavo nela quanto veneno na ponta de um palito de fósforo, citando as palavras de Wokulski para Starski *.
O posicionamento do autor certamente não é uma surpresa para aqueles que acompanham seu trabalho, mas certamente pode ajudar a ver as escolhas feitas pela equipe da Netflix com outros olhos. Continue acompanhando o Megascópio para mais notícias sobre o universo de The Witcher e confira abaixo uma entrevista com Sapkowski e Lauren Hissrich, showrunner da série, legendada em nosso canal do YouTube.
*Personagens de “A Boneca”, livro de Bolesław Prus.