Em entrevista para a IGN, o diretor Naoki Yoshida explicou a falta de representatividade negra em Final Fantasy XVI, tema que vem chamando a atenção dos fãs nos trailers mais recentes do jogo.

Precisão histórica?

Ao prestar atenção nos trailers de FF XVI, é notável a falta de diversidade étnica no elenco do jogo – o problema foi endereçado por Yoshida durante a entrevista, que utilizou o argumento de precisão histórica para justificar a falta de representatividade no jogo:

“Nosso conceito de design desde os estágios iniciais de desenvolvimento sempre envolveu a Europa medieval, incorporando padrões históricos, culturais, políticos e antropológicos que eram prevalentes na época. Quando estávamos decidindo que cenário combinava mais com a história que queríamos contar. Sentimos que ao invés de criar algo de escala global, era necessário limitar o escopo para um único território — que fosse geograficamente e culturalmente isolado do resto do mundo em uma era sem aviões, televisão ou telefones.”

O argumento segue a ideia de outras produções de caráter medieval como Game of Thrones e The Witcher. Essas obras também influenciam o jogo de acordo com Michael-Christopher Koji Fox, diretor de localização do título, que afirmou que é inevitável “encontrar alguns pontos de similaridade nos temas da narrativa e design de personagem.”

Revisionismo

É interessante notar, porém, que o argumento de precisão histórica deixa de lado a existência de vários grupos não-brancos que ocuparam a Europa durante todo o período da Idade Média – um exemplo simples são os mouros, grupo de mercadores e mercenários negros que dominaram a Península Ibérica por, pelo menos, oito séculos.

Esse fato foi apontado por Nikolas Draper-Ivey, artista e corroteirista dos quadrinhos de Super Choque, que também apresentou rápidas ideias de como incluir personagens negros no jogo e ainda se manter na tal da precisão histórica:

“Fico chocado que eles nem pensaram em incorporar um único design sequer baseado nos mouros em um jogo de Final Fantasy. Quando eu olho para alguns trabalhos do [Yoshitaka] Amano, simplesmente grita isso pra mim.”

O buraco é mais embaixo

O problema da falta de representatividade em Final Fantasy XVI reflete também em outros jogos da Square Enix: temos como exemplo Tidus, protagonista de Final Fantasy X, que é retratado pela empresa de forma inconsistente em diversas ocasiões e tem sua etnia alterada dependendo do público alvo do produto em questão.

Não é possível, também, acusar falta de conhecimento sobre o tema, pois a tendência da indústria da cultura pop é de trabalhar cada vez mais com inclusão, como provam as séries A Casa do Dragão, prequela de Game of Thrones, e The Witcher da Netflix, que fizeram uso de personagens negros que se encaixam perfeitamente em sua temática fantasiosa.

Não existe mais espaço para o discurso de precisão histórica como desculpa para excluir personagens não-brancos de histórias de fantasia, e esperamos que as empresas como um todo entendam isso o quanto antes.

Final Fantasy XVI chegará para Playstation 5 em 2023.

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