Lançado hoje (02) pelo estúdio Empty Head Games para PC, Playstation e Switch, Saviorless é um jogo de plataforma 2D com grande foco na narrativa.

Além de ter a narrativa como ponto principal, Saviorless também apresenta um conjunto excelente de gameplay, cenários e trilha sonora, que trabalham juntos para criar uma atmosfera que lembra muito jogos como Gris ou Journey.

O Empty Head Games, estúdio responsável por seu desenvolvimento, é oriundo de Cuba, sendo o primeiro estúdio independente do país. O estúdio pôde publicar o game graças a sua parceria com a publisher francesa Dear Villagers. A convite deles, O Megascópio jogou o game na íntegra e com antecedência – confira nossa crítica abaixo.

*review contém spoilers de Saviorless

O processo de contar uma história

Muitos jogos usam seu enredo como seu grande ponto de venda, seja com histórias tocantes, marcantes ou épicas. O caso de Saviorless, entretanto, é menos comum: seu enredo é sobre como narradores afetam as histórias que contam, e como suas histórias os afetam de volta.

No início do game conhecemos um trio de narradores, um mais velho e outros dois novatos, que estão contando a história de Antar, um jovem guiado por sua curiosidade que busca uma forma de chegar nas Ilhas Sorridentes. Aqui o game segue uma perspectiva simples de plataforma e resolução de puzzles, com Antar sendo um personagem extremamente frágil aos perigos a sua volta.

A história parece ser normal, até mesmo chata para os narradores mais novos, que decidem assumir o controle e ver o que aconteceria se introduzissem outro personagem: Nento é um caçador obcecado com controle que, após receber a atenção dos narradores, acaba virando um protagonista inesperado da história em paralelo a Antar.

Ao explorar e seguir o enredo dos narradores, Antar irá chegar nas Ilhas Sorridentes, cenário principal do game. Lá, ele irá se deparar com um grande poder, sendo capaz de se tornar um Salvador, um avatar com habilidades de combate que permitem que Antar revide contra os perigos da ilha, tornando-o essencialmente outra pessoa.

É essa dinâmica entre os dois personagens e os três tipos de gameplay que dita o ritmo de Saviorless: de um lado, uma criança frágil e curiosa com foco em exploração que, em dado momento, irá receber uma nova faceta poderosa; do outro, um caçador brutal e louco por controle que não deixará ninguém ficar em seu caminho.

Saviorless
Os narradores de Saviorless. Reprodução/Empty Head Games

Os perigos das Ilhas Sorridentes

Apesar de ter uma seção relativamente longa fora das ilhas, o game realmente acontece quando Antar chega nas Ilhas Sorridentes em busca de deter Nento. Além dos puzzles ambientais que o jogador lida no caminho para as Ilhas –  puxar e empurrar coisas em seus devidos lugares para criar um caminho ou então atravessar rapidamente plataformas instáveis – aqui temos também mais perigos em forma de inimigos que destroçam Antar com apenas um ataque, sendo necessário pensar bem no que fazer para alcançar a segurança.

Do outro lado, Nento tem uma gameplay mais violenta, sendo capaz de atacar os inimigos e destruí-los com sua força. Seu estilo de jogo inspira as seções com o avatar de Salvador de Antar, que traz mais momentos de combate e a capacidade de revidar os ataques dos inimigos.

Apesar de ter um bom destaque durante o jogo, o combate é extremamente simples, funcionando apenas com um botão de ataque e sem nenhum tipo de combo ou nada parecido. O jogo não é feito para isso, de qualquer forma: a ideia principal é mostrar a diferença crua entre Antar e o avatar de Salvador, e como isso afeta a história do game.

Saviorless
Exemplo de inimigo em Saviorless. Reprodução/Empty Head Games

A parte técnica de Saviorless

Deixando a história um pouco de lado, Saviorless também se destaca por seus gráficos e por sua trilha sonora. O estilo 16-bit aliado a um traço estranhamente realista e surreal ao mesmo tempo o torna algo único no cenário: as expressões faciais e corporais dos inimigos, em particular, traduzem bem não só a atmosfera do game, mas também sua qualidade no geral.

Os cenários são simples mas vívidos, passando perfeitamente a sensação de perigo e escuridão que rondam as Ilhas Sorridentes. Destacamos aqui as cores, que são expressivas e complementam perfeitamente os traços dos cenários e também dos personagens.

A trilha sonora também se destaca não só pela simplicidade, mas principalmente pelo seu uso na construção da atmosfera, sendo muitas vezes suave durante os momentos de exploração mais calmos, mas explorando bem a tensão que o encontro com inimigos poderosos podem trazer.

No geral, trata-se de um jogo muito bem amarrado pelos desenvolvedores, apresentando zero problemas em quesitos técnicos e brilhando quando se trata de sua parte criativa.

Saviorless
Os cenários de Saviorless são simples mas muito bonitos. Reprodução/Empty Head Games

Veredito

Saviorless não é apenas um exemplo de um excelente jogo independente no geral, mas também um exemplo do que estúdios fora dos centros mundiais, como Estados Unidos ou Europa, são capazes de produzir quando dado os meios para fazê-lo.

O enredo, em particular, é um ótimo trabalho por parte do Empty Head Games, usando perfeitamente a dinâmica entre os personagens para contar uma história cheia de reviravoltas, sendo apoiada pela gameplay, visuais e músicas.

O game está disponível com textos completamente localizados em português-brasileiro, e seus controles relativamente simples conseguem suprir um pouco a parte de acessibilidade, porém o jogo não possui nenhum elemento específico voltado para essa área.

É importante destacar que o game foi desenvolvido mesmo através de problemas com orçamento, de tensões políticas em Cuba e dificuldades técnicas no geral, e deve ser exaltado por isso. Novamente, se trata de um belo exemplo do que os estúdios na América Latina, particularmente, são capazes de produzir se tiverem os recursos para tal.

Saviorless
Saviorless é um excelente jogo indie que merece a atenção do público. Reprodução/Empty Head Games

Saviorless está disponível para Playstation 5, Nintendo Switch e PC via Steam, Epic Games Store e GOG.

*chave de review para PC recebida via Dear Villagers

REVER GERAL
Direção
Enredo
Jogabilidade
Trilha Sonora
Design
Matheus
Fã de Yu-Gi-Oh!, Drakengard/NieR e Tomb Raider. Nas horas vagas, analista de Relações Internacionais e professor de inglês.
critica-saviorless-e-um-plataforma-2d-indie-de-altissima-qualidadeSaviorless não é apenas um exemplo de um excelente jogo independente no geral, com bom enredo, jogabilidade, arte e trilha sonora, mas também um exemplo do que estúdios fora dos centros mundiais, como Estados Unidos ou Europa, são capazes de produzir quando dado os meios para fazê-lo.