Nesta sexta-feira, 15 de maio, finalmente foi liberada a última temporada de She-Ra e as Princesas do Poder na Netflix. A série criada por Noelle Stevenson teve um começo polêmico devido às diferenças da série original dos anos 80, mas conseguiu captar fãs fieis que certamente estavam no aguardo da quinta temporada e suas conclusões.
Para fins de trazer conteúdo àqueles que já viram a temporada e ainda estão decidindo se devem ou não assistir She-Ra e as Princesas do Poder na Netflix, esta crítica será dividida entre a parte sem e com spoilers.
Sem spoilers
A quinta temporada de She-Ra e as Princesas do Poder conclui brilhantemente os arcos construídos até o momento na narrativa, o que não é surpreendente, já que a criadora da série tinha a trajetória da história planejada desde o início. Para aquele que não conhecem o enredo, She-Ra segue sua protagonista, uma órfã chamada Adora que foi criada para servir Hordak, um tirano que aterroriza o planeta Etheria. Entretanto, com o desenvolver da trama, Adora encontra uma espada mágica e se transforma em She-Ra, revelando que tudo que ela acreditava sobre Hordak e horda era mentira, levando à sua associação à rebelião liderada pelas Princesas do Poder.
Mas claro, o verdadeiro ponto alto de She-Ra são os relacionamentos e a forma que a narrativa aborda temas como abandono, abuso emocional e luto, e esses aspectos brilham na última temporada da animação. Um dos pontos centrais que desenvolvem a trama de She-Ra é o relacionamento de Adora e sua amiga de infância Catra, já que a amizade delas é abalada, ou até aparentemente encerrada, quando Adora abandona a horda para se juntar à rebelião. Toda a tensão culminada nas temporadas anteriores leva à um final bem desenvolvido, abordando temas vitais para o enredo.
O restante dos personagens também possuem conclusões satisfatórias, apesar dos personagens mais secundários não possuírem arcos tão definidos. A nova temporada também consegue inserir novos personagens que acrescentam à lore de She-Ra, além de manter o humor característico dos capítulos anteriores. Diferente das primeiras temporadas, a quinta também mantém seu momento, utilizando todo o tempo de tela para se aprofundar nos temas e desenvolver a história desse rico universo.
Com Spoilers
A quinta temporada começa com o status-quo completamente abalado, devido aos eventos que levaram à chegada de Horde Prime. Adora não possui mais os poderes de She-Ra, Catra e Glimmer (Cintilante) estão cativas no espaço e a rebelião está aos poucos perdendo as forças contra um inimigo ainda mais poderoso. Claro, isso é um prato cheio para uma história e vemos como esses pontos ajudam a desenvolver a narrativa.
Como protagonista, Adora possui grande foco durante essa mudança, com seu complexo de herói – já mostrado nas temporadas anteriores – exacerbado. Mesmo sem os poderes de She-Ra, Adora havia sido manipulada por Shadow Weaver (Sombia) durante toda sua vida para achar que era especial e que somente ela poderia resolver os problemas do mundo. E vemos essa perspectiva sendo desafiada com perguntas sobre destino, através da volta de Catra na vida de Adora e quando Mara, a antiga She-Ra, pergunta “E o que você quer?“. Aqui vemos Adora precisando confrontar todos os momentos onde ela achava que precisava ser a pessoa a se sacrificar, que somente ela poderia salvar a todos, mesmo que isso custasse sua própria felicidade. Esse tipo de pensamento é muito comum no desenvolvimento do arquétipo do herói e o questionamento trazido em She-Ra permite se aprofundar no que realmente importa sobre a personagem. Entretanto, um possível ponto que pode contradizer essa mensagem é o fato de que Adora recupera os poderes de She-Ra sem nenhuma explicação mais profunda, deixando a questão sobre sua conexão com She-Ra ser ou não obra do destino.
Além de Adora, Catra é a personagem que mais tem a atenção dos escritores, finalmente passando por um arco de redenção. A antagonista felina finalmente precisa encarar suas ações, e depois de ouvir umas boas verdades de Adora na terceira temporada e de Double Trouble na quarta, finalmente começa a agir pra corrigir seus erros. Mas para ser uma redenção satisfatória, não poderia ser fácil, e isso é entregue de forma muito bem pensada pelos escritores. Quando Catra vai pro lado do bem, há um tempo de adaptação e ela é confrontada por sua culpa – seja por si mesma ou outros personagens – e precisa entender que a mudança será uma questão gradual. A conclusão do arco de redenção, é claro, vem na forma de um dos momentos mais comentados da temporada, quando Catra e Adora finalmente admitem seus sentimentos e, no maior estilo Disney, salvam a galáxia com um beijo. Mas além de deixar todos os fãs enlouquecidos, esse último ato de Catra na temporada serviu para mostrar a evolução da personagem, que parou de culpar os outros por seus problemas e finalmente percebeu a verdadeira força que há em ser vulnerável.
Além dos desenvolvimentos de Catra e Adora, a temporada também faz um ótimo trabalho em redimir Glimmer (Cintilante) por seus erros na quarta temporada, em tornar Bow (Arqueiro) um personagem mais tridimensional, em solidificar Scorpia como uma favorita dos fãs, terminar o arco de Entrapta e (aparentemente) confirmar seu relacionamento com Hordark! Falando em Hordak, seu momento triunfal foi satisfatório, mas perdeu um pouco do impacto devido à imediata possessão que se sucede. Shadow Weaver (Sombria) também possui um momento especial, mas apesar de sua morte heroica, está longe de ser redimida por seus anos de abuso com Catra e Adora.
A série também finalmente dá atenção à Netossa e Spinnerella, duas personagens que nunca haviam tido nenhum desenvolvimento. As outras Princesas do Poder não possuem arcos tão distintos, mas continuam sendo personagens divertidos que contribuem no desenvolver do enredo. Falando em divertido, os novos personagens também conseguem expandir nosso entendimento do universo e entreter nos momentos certos, em especial o Hordak Errado, que possui umas das cenas mais engraçadas da temporada.
Em resumo, a série de She-Ra é concluída com um final digno de novela, mas o sentimento é de merecimento. Os personagens lutaram e sofreram muito por esse final feliz, logo, ele traz uma sensação de satisfação. Como todo o enredo foi planejado desde o começo, não houveram pontas soltas e existe um enorme potencial de voltar e rever a série desde o início, observando todas as sementes plantadas e já sabendo como elas irão florescer.
PS.: Quando assistir, não deixem de observar a abertura! Toda mudança importante nas lealdades dos personagens é devidamente representada na abertura, o que acaba tornando-a muito divertida de assistir.