Criado para ser um “Mario killer”, Alex Kidd foi a segunda tentativa da Sega nos anos 1980 de dominar o mercado de jogos, na época completamente tomado pela Nintendo e seu NES. Apesar da vida relativamente curta, principalmente comparado com seu rival e com seu sucessor, Alex Kidd marcou a infância de muitos com seus socos que destruíam pedras e batalhas contra chefes jogando pedra, papel ou tesoura.
Agora que Alex Kidd in Miracle World DX, remake do primeiro título da série, está quase chegando, vamos voltar um pouco no tempo e relembrar (ou conhecer) um pouco mais do mascote pré-Sonic da Sega.
“Mario Killer”
Conhecemos Alex em seu primeiro título, Alex Kidd in Miracle World, lançado para o console Sega Master System em 1 de novembro de 1986 no Japão. O garoto usava um macacão vermelho, tinha costeletas e orelhas grandes, e era usuário de uma técnica de luta chamada Shellcore, que permitia que ele aumentasse o tamanho e força de suas mãos, possuindo poder o bastante para destruir pedras.
O jogo foi um enorme sucesso em seu lançamento, fazendo com que o personagem se tornasse o mascote oficial da Sega e rival de Mario. As versões seguintes do Master System, o II e III no Brasil, vinham com o game na memória. Em Miracle World, Alex, príncipe de Radaxian, passa por um mundo de plataforma derrotando inimigos com socos, braceletes mágicos, helicópteros, motos e lanchas, com o objetivo de salvar seu irmão das garras do Rei Janken, que tomou conta do país.
Em seu caminho, ele também enfrenta chefes em jogos de pedra, papel ou tesoura valendo sua vida. Os jogadores podiam tentar a sorte e vencer cada chefe apenas chutando qual escolher, mas também era possível decorar a ordem de cada jogada ou ainda usar um item que permitia saber o que o chefe planejava jogar. Foi uma mecânica que diferenciou o título dos outros jogos de plataforma da época, ajudando na construção de sua reputação.
Carreira e o começo do fim
Apesar do sucesso do primeiro título, os próximos jogos do Alex não foram tão bem assim. Entre 1986 e 1989, a Sega lançou 3 títulos que não fizeram sucesso: Alex Kidd With Stella: The Lost Stars, para arcade e para Sega Master System; Alex Kidd BMX Trial, lançado exclusivamente no Japão; e Alex Kidd in High-Tech World, que na realidade não é um jogo do Alex, e sim uma versão ocidental de Anmitsu Hime com sprites alterados e mudanças na história.
O mascote só voltou a ganhar um bom título na geração 16-bits com Alex Kidd in the Enchanted Castle, para Mega Drive, lançado também em 1989. O game teve melhora na tela de escolha de itens e veículos, que agora podiam ser desselecionados, e também teve mudança nos inimigos, que agora variavam entre aves, brinquedos, monges e um mascarado com machado. As partidas de pedra, papel e tesoura agora eram disputadas em palcos na frente de uma plateia, e seus ataques físicos também incluíam voadoras. O jogo foi um dos primeiros títulos de peso do Mega Drive.
Porém, apesar da qualidade, o próximo título da série retornou para o Master System em 1990 com Alex Kidd in Shinobi World, feito para ser uma paródia mais fofa do primeiro jogo da famosa série Shinobi, também da Sega. O game, mesmo sendo uma mistura estranha entre franquias, foi considerado bom pelo público e também fez sucesso. Apesar disso, esse seria o último título principal da série de Alex Kidd.
A chegada de Sonic
Com a entrada nos anos 1990, a guerra de consoles estava a todo vapor, e a Nintendo acabava de lançar seu novo console, o Super Nintendo, junto com o mais novo título do Mario, o Super Mario World. Para combater o sucesso do encanador do time adversário, a Sega então resolveu mudar a estratégia de marketing e apelar para a juventude com um personagem que fizesse sentido com essa geração.
Nascia, então, Sonic the Hedgehog, um ouriço azul super veloz e estiloso, que lutava contra um cientista malvado para recuperar as Esmeraldas do Caos e salvar os animais de sua terra. O primeiro título do ouriço fez um sucesso avassalador, colocando o Mega Drive no mesmo patamar, ou até superior, que o Super Nintendo.
Com os outros jogos do Sonic também fazendo grande sucesso com o público, Alex Kidd acabou sendo deixado de lado pela Sega, deixando de receber jogos novos e entrando em um hiato longíssimo. O Mega Drive era visto como um console da juventude, e isso ia contra a imagem de Alex, visto como um personagem mais infantil. Assim, Alex Kidd entrou na geladeira, apenas fazendo aparições em alguns jogos específicos como easter egg ou como personagem jogável em crossovers.
Legado e retorno
Dentre suas aparições como easter egg, Alex aparece em Quartet (1987) na tela de teste de som do jogo; em Kenseiden (1988), seu rosto aparece em algumas fases; em Altered Beast (1988), seu nome e o de sua namorada, Stella, aparecem em tumbas; e em Shenmue (1999) e Shenmue II (2001), aparece como boneco colecionável. Já como personagem jogável, Alex aparece, ironicamente, em dois spin off de corrida dos jogos do Sonic: Sonic & Sega All-Stars Racing (2010) e Sonic & All-Stars Racing Transformed (2012).
Seu sucesso nos anos 80 e 90 perdurou principalmente na América Latina. No Brasil, especificamente, os consoles da Sega sempre foram trabalhados pela Tec Toy e, como a Nintendo não tinha uma representação nacional, era mais fácil achar consoles e jogos da Sega no país. Também há o fator do menor poder de aquisição do brasileiro, que fez com que jogos e consoles antigos ficassem em evidência por um período maior, dando mais tempo para mais pessoas conhecerem Alex.
Porém, após viver tanto tempo apenas nas memórias, Alex finalmente está de volta. Com remake anunciado em junho de 2020, Alex Kidd in Miracle World DX é uma nova versão do primeiro e mais famoso título da série e que trará o antigo mascote da Sega de volta do ostracismo.
Se você tiver interesse na guerra de consoles dos anos 80 e 90, você pode conferir o documentário Console Wars, da HBO, inspirado em livro de mesmo nome. Alex Kidd in Miracle World DX estará disponível em 24 de junho para Playstation 4 e 5, Xbox One e Series X|S, e PC via Steam. Confira o trailer do game abaixo: