Desenvolvido pelo estúdio Cavia e distribuído pela Square Enix no Oriente e pela Ubisoft no Ocidente, Drakengard 2 é o segundo título da série. O jogo foi lançado em 2005 no Japão e em 2006 na América do Norte e Europa, exclusivamente para Playstation 2.
A produção do jogo contou com o retorno de vários dos responsáveis por Drakengard, como o produtor Takamasa Shiba, a roteirista Sawako Natori e o character designer Kimihiko Fujisaka. Porém um nome muito importante não participou ativamente do desenvolvimento do game: Yoko Taro. Por estar muito ocupado com outros projetos na época, Taro apenas acompanhou o processo de desenvolvimento, sem muito envolvimento.
Por conta disso, a direção do jogo ficou por conta de Akira Yasui (Metal Gear 4: Guns of the Patriots, Resident Evil: The Darkside Chronicles). O diretor optou por construir uma linha de narrativa que fosse o total oposto do primeiro Drakengard: um mundo mais colorido, com menos temas polêmicos e mais atrativo para o público.
Talvez por isso, Drakengard 2 é considerado uma espécie de renegado dentro da série, sem ter muitas semelhanças com os outros títulos da família. Neste artigo, vamos tentar entender os motivos para essas mudanças de rumo e como isso afetou o jogo como um todo.
Conflitos criativos e afastamento do material original
O game foi anunciado em 2004, logo após o relativo sucesso de Drakengard, especialmente no Japão. Muitos dos responsáveis pelo desenvolvimento do primeiro jogo retornaram para trabalhar na sequência, que a princípio teria a premissa de ser uma aventura espacial com dragões, vetada quase que de imediato. Essa ideia foi proposta por Yoko Taro, antes do diretor se envolver em outros projetos que o afastariam da produção de Drakengard 2. Assim, Taro apenas acompanhou o desenvolvimento do projeto, sem participar ativamente das decisões. Ele só retornaria ao projeto na reta final, para trabalhar como editor de vídeo.
Akira Yasui foi chamado para assumir a posição de diretor, e decidiu imprimir uma série de mudanças com o objetivo de tornar o jogo o total oposto do primeiro título. O jogo seria mais colorido, com menos temas maduros e sem muitos tabus, e muito disso se deve a própria Square Enix: Takamasa Shiba, um dos produtores do game, revelou que a desenvolvedora queria tornar o título mais atrativo para o público, apesar de não querer que o jogo deixasse de ser uma continuação.
Portanto, alguns dos temas centrais do primeiro Drakengard, como guerra, imoralidade e morte, foram mantidos. Outro retorno foi da personagem Manah, figura central do Culto dos Watchers e que agora está em uma jornada de redenção – o tema de redenção e superação do passado também é algo muito presente no jogo como um todo através da própria Manah e do protagonista do jogo, Nowe.
Esse tema também é refletido nos conflitos criativos que o diretor Yasui teve como Yoko Taro: ambos passaram muito tempo divergindo um do outro porém, como Taro não estava oficialmente na equipe, suas ideias foram ignoradas. Anos depois, Yasui chegou a descrever a relação dos dois como de amor e ódio, e que inclusive gerou uma arma para o jogo inspirada nesse relacionamento.
Esse afastamento da origem do jogo, apesar de manter alguns elementos e personagens, deu vida a um game amplamente criticado em diversos aspectos e mal visto entre os fãs da série.
Críticas
Assim como o primeiro título da série, Drakengard 2 teve um bom número de vendas no Japão, sendo considerado um sucesso comercial: foram vendidas cem mil cópias na semana de seu lançamento, alcançando o total de 206 mil unidades ao final de 2005. A famosa revista Famitsu deu nota 30 de 40 para o título, mas, no geral, o restante da crítica especializada não seguiu essa mesma linha de pontuação.
Novamente, o ponto mais bem avaliado foi a história, que foi descrita como um enredo que continuava “admiravelmente o mundo bizarro e fantasticamente medieval que foi estabelecido no jogo original” pela IGN, e como “interessante […] com muitas viradas e revelações” pela Gamespot. Porém, o protagonista Nowe não imprimiu a mesma boa impressão que Caim no primeiro jogo: de acordo com a Eurogamer, Nowe é “um pouco enjoativo de se assistir enquanto o enredo pesado e sombrio (e muito bom) se desenrola”.
A jogabilidade e os gráficos foram os maiores alvos de críticas, sendo descritos como antigos e sem imaginação: acontece que a tentativa do diretor Yasui de tornar o jogo mais suave aos olhos acabou entregando um mundo muito genérico e sem nada a oferecer. A jogabilidade continuou a mesma do primeiro título, com lutas contra hordas gigantes de inimigos e combate extremamente simplista, sem necessidade de estratégias e com controles bastante duros e complicados de se acostumar.
Legado e seu lugar na franquia
Em 2005, um livro com o mesmo título do jogo foi escrito por Jun Eishima e lançado com o intuito de recontar a história do game de uma forma mais concisa. Alguns anos depois, Yoko Taro e Takamasa Shiba se reuniram para tentar escrever uma sequência para o jogo, mas acabaram criando NieR Replicant/Gestalt, lançado em 2010 para Playstation 3 e que se desenvolve a partir do quinto final de Drakengard 1.
Algum tempo depois, Shiba tentou novamente liderar a produção de uma continuação, mas acabou falhando. Drakengard 3 foi eventualmente produzido pela AccessGames em 2013 para Playstation 3. A história do jogo se passa antes do primeiro game da franquia.
Mesmo se tratando de um Drakengard, como tanto as sequências quanto as prequelas ignoram completamente a existência desse jogo? A resposta é bem simples: Drakengard 2 é o único que se passa em um universo alternativo. A Midgard do game está situada em uma realidade resultada de uma combinação entre os finais A e B do primeiro Drakengard. Portanto, o jogo não se encaixa na lore da série Drakengard/NieR.
Dito isso, aqueles que jogaram NieR: Automata ou até a versão recente de NieR Replicant podem ter se interessado no primeiro jogo da série e experimentado a história, e talvez se perguntem se vale a pena visitar Drakengard 2. E, ao contrário do primeiro, esse jogo é totalmente passível de ser deixado de lado.
Não se engane: se trata sim de uma história interessante com personagens minimamente funcionais. A questão é que, em termos de relevância para a série, Drakengard 2 simplesmente não é importante. Também vale ressaltar que o combate horrível e os controles difíceis de se acostumar também são pontos para serem levados em consideração e, somado com a falta de importância do jogo, resultam em uma experiência que não é necessária para apreciar a série como um todo.
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