Lara Croft é uma personagem que com certeza fez parte da vida de muitas pessoas, seja pelos jogos da era do Playstation 1 ou pelos filmes protagonizados por Angelina Jolie. Possuindo tantas adaptações em diferentes mídias, seria possível repensar Lara? Essa seria uma nova personagem ou só uma cópia dos títulos já consagrados? Essas são perguntas que a Crystal Dinamics e a Eidos Montréal, em parceria com a Square Enix, tentaram responder na trilogia reboot de Tomb Raider.
Uma jovem sobrevivente
O primeiro título do reboot foi lançado em 2013 e intitulado apenas como Tomb Raider. Nele somos apresentados à uma nova Lara Croft, ainda uma arqueóloga novata, em sua primeira expedição. Seu objetivo é encontrar a ilha de Yamatai e, consequentemente, a verdade por trás do mito da deusa Himiko.
Após o naufrágio de seu navio, Lara se encontra sozinha em uma caverna, em uma situação aterrorizante envolvendo algum tipo de culto, cadáveres e explosões. O desespero de Lara é evidente, e essa é uma característica crucial para ela nesse início: ainda longe de se tornar a Tomb Raider que não tem medo de nada nem de ninguém, Lara é apenas uma jovem sendo obrigada à lutar por sua vida.
Três acontecimentos são os precursores da mudança na personagem: ter que matar um animal com as próprias mãos para se alimentar, assistir alguns de seus colegas de expedição serem assassinados sem dó e, por fim, ser obrigada a matar um ser humano pela primeira vez – a partir desse último ponto, Lara percebe que é matar ou morrer, o que a faz cometer assassinatos em massa sem pestanejar, fazendo de tudo para salvar a si mesma e seus amigos.
Ao fim desse primeiro título, após um número incontável de assassinatos e perdas de pessoas queridas, Lara dá seu primeiro passo em direção à se tornar uma Tomb Raider – testemunhar tantos acontecimentos sobrenaturais desperta nela uma vontade quase insaciável de exploração e, antes uma jovem assustada, ela agora é uma exploradora decidida a encontrar a verdade.
Segredos de uma infância traumática
Em Rise of the Tomb Raider, segundo título da trilogia lançado em 2015, encontramos uma Lara diferente: mais confiante de suas habilidades de pesquisa e exploração, ela se envolve profundamente no passado de seu pai. Uma organização chamada Trindade está à procura de um artefato chamado Fonte Divina, que supostamente garante imortalidade – esse é o mesmo artefato que o pai de Lara passou seus últimos dias procurando e que o levou à total infâmia, à perda da esposa e, por último, ao suicídio.
Apesar de não acrescentar tanto no desenvolvimento de Lara individualmente, em Rise nós vemos uma exploradora obcecada com a verdade, com uma disposição tão além do saudável que a coloca em posições de extremo perigo, como enfrentar um Urso Pardo armada apenas com um arco e flecha, ou ainda, invadir bases soviéticas cheias de soldados inimigos em busca de vingança contra aquela que traiu seu pai.
Assistir seu pai ser difamado para depois morrer, assim como perder sua mãe, teve um impacto mais significativo em Lara do que ela gostaria de demonstrar: ela possui um lado sombrio, que não se importa tanto com autopreservação, mas sim com ver sua vingança ser concluída. Mesmo após matar seus inimigos, Lara não descansa, deixando que sua obsessão e sede de sangue aumentem mais e mais.
O ápice da obsessão e suas consequências
Lançado em 2018, Shadow of the Tomb Raider é o terceiro e último título do reboot de origem da personagem. Nele vemos Lara continuar sua perseguição pela Trindade, que agora está atrás de um artefato com poderes capaz de refazer o mundo. Sendo o maior título da trilogia, Shadow também é o que mais apresenta desenvolvimento individual para Lara: sua obsessão atinge o ápice e, após retirar um artefato de um templo sagrado, ela coloca o Apocalipse em curso.
Por causa de suas ações, milhares e milhares de pessoas inocentes morrem – é quando ela percebe, com ajuda de Jonah (seu melhor amigo e companheiro de expedição), que ela foi longe demais, destruindo tudo pela frente com a “desculpa” de estar tentando parar a Trindade. Após esse acontecimento, algo muda dentro de Lara: ela passa a tentar ajudar as outras pessoas, em uma tentativa de compensar por seus erros.
Ainda era necessário, porém, que Lara confrontasse de verdade seus fracassos e superasse seu passado, e isso é realizado em dois acontecimentos: após achar que Jonah estava morto, ela perde completamente o controle de sua sede de vingança e ataca descuidadamente uma das bases da Trindade, matando cada soldado lá dentro de uma forma fria, sem nenhum traço de remorso – só para no final encontrar Jonah vivo e perceber o monstro que ela se tornou, uma verdadeira máquina de matar. Já o segundo acontecimento toma parte no final do jogo, onde, em uma ilusão, ela vê como poderia ter sido sua vida se sua família não tivesse morrido e, mesmo possuindo o poder para tornar aquilo realidade, Lara escolhe deixar seu passado ir.
Shadow é o último passo de Lara em direção ao “título” de Tomb Raider: ao abrir mão de seu passado e deixar suas mágoas irem embora, ela se torna aberta às histórias e possibilidades que o mundo apresenta. Com isso, ela declara não mais precisar explorar cada segredo da humanidade.
O caminho de uma Tomb Raider
O papel que o reboot se dispôs a desempenhar foi feito de uma forma magistral: reimaginar uma personagem tão presente na memória cultural de tantas pessoas não é um trabalho simples, mas optar pela construção de uma origem, de uma jovem cheia de medos e traumas à uma pessoa completa e pronta para viver no presente, foi uma escolha acertada da Crystal Dinamics e da Eidos Montréal. É seguro dizer que essa Lara Croft é uma personagem própria, com um desenvolvimento muito bem feito e capaz de render boas histórias sem precisar depender do passado.
Vale lembrar que os três títulos do reboot estão disponíveis para Playstation 4, Xbox One e PC.