Os jogos de The Legend of Zelda são famosos e aclamados, sempre acompanhando gerações de fãs em diversos consoles da Nintendo nesses 37 anos de franquia. Para entrar no clima do lançamento de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom decidimos comentar uma das mídias pouco comentadas no Brasil: Os mangás de The Legend of Zelda.
As adaptações para mangá de The Legend of Zelda talvez não sejam tão famosas ou primordiais quanto a experiência dos jogos, porém trazem versões que diferem ou reforçam os melhores aspectos dos diversos enredos dessa da franquia.
Vale lembrar que os mangás de Akira Himekawa (pseudônimo de uma dupla de mangakás mulheres A. Honda e S. Nagano) foram lançados até recentemente com o selo de produto oficial licenciado pela Nintendo desde 1999. Todos com supervisão do produtor dos jogos, Eiji Aonuma. Também chegou a ser muito popular a adaptação para mangá em formato ocidental e colorido de A Link to the Past realizado por Shotaro Ishinomori.
Entretanto, poucos leitores sabem que essa aventura da Nintendo pelos mangás de The Legend of Zelda é muito anterior às adaptações que conhecemos e começou por diversas tentativas até se firmar como uma mídia importante e que tem o seu valor dentro da franquia. Para começar esse assunto, vamos para o ano de 1989.
Os primeiros mangás de The Legend of Zelda
Quando localizamos as primeiras adaptações para mangá dos jogos The Legend of Zelda, pode-se verificar que elas ocorreram quase que ao mesmo tempo em diversas revistas e por autores diferentes. Essa chuva de adaptação de mangás ao mesmo período (1989) pode ter sido uma tentativa da Nintendo de alcançar sucesso nessa mídia.
Nessa época os jogos de Zelda já eram um sucesso, iniciado em 1986 com o primeiro jogo lançado para Famicom (Nintendinho) e o segundo jogo Zelda II: The Adventure of Link, lançado no ano seguinte, ambos criados por Shigeru Miyamoto e Takashi Tezuka.
A necessidade de expandir a franquia para outras mídias ocorreu justamente em 1989 quando foi lançada a primeira adaptação animada de The Legend of Zelda para a TV, com produção do estúdio americano DIC Entertainment, além das diversas publicações de Zelda em revistas de mangá.
O primeiro mangá The Legend of Zelda tem o mesmo nome homônimo, e foi escrito e ilustrado por Maru Ran, começando a serialização já em 1986 na revista shounen Monthly Wanpakku Comic, e finalizando o encadernado em 1989. Essa obra adapta o primeiro jogo e foi seguida por uma continuação nos anos 90 de The Adventure of Link com 3 volumes.
O curioso é que a identidade visual dessa obra, o Link usa roupas verdes, tem traços de criança e cabelos na cor rosa e alaranjado, uma coisa que só vai aparecer no jogo A Link to Past.
A segunda adaptação que localizamos nesse período, com o mesmo título The Legend of Zelda, também baseando-se no primeiro jogo, foi escrita e ilustrada por Yuu Mishouzaki, com apenas 1 volume, serializado na revista japonesa de mangás Shounen pela editora Takarajimasha. Essa obra também recebeu uma continuação nos anos 90 com o título The Adventure of Link em mangá feita pelo mesmo autor, mas dessa vez com apenas 1 volume.
Notamos que nessa obra já tem uma pegada um pouco mais adulta, incluindo Link em momentos íntimos com Zelda. No mangá, o visual já trazia um Link de cabelos castanhos e que na continuação vai ganhando contornos loiros.
A terceira adaptação desse período inicial, também adaptando o primeiro jogo, está mais voltada para a comédia e para o público infantil. Dessa vez o nome foi modificado para The Hyrule Fantasy: The Legend of Zelda, escrito e ilustrado por Kobayashi Susumu.
Não há muitas informações sobre a editora em que foi publicado, apenas o nome da revista One Pack Comics, serializado entre 1986-87 e lançado em encadernado como volume tankobon em 1989. Não tiveram continuações dessa obra, sabe-se que ela serviu também como guia para os jogadores do primeiro jogo de The Legend of Zelda (1986).
As diversas adaptações de A Link to the Past
Em 21 de novembro de 1990, a Nintendo lançou seu novo console, o Super Famicom (SNES ou Super Nintendo). No ano seguinte um dos jogos mais prestigiados da franquia The Legend of Zelda seria lançado.
O jogo A Link to the Past trouxe mais backgrounds para os conflitos em Hyrule, o Ganondorf foi retratado ainda como um porco antropomorfizado, e renderia uma das notas mais altas para jogos de RPG, o que influenciou a maioria de jogos de aventura da época. A adaptação dessa obra para mangá seria certa. Talvez essa seja o jogo com maior número de adaptações para mangá.
Em 1992, o primeiro autor a se aventurar numa adaptação de A Link to the Past foi ninguém mais, ninguém menos que o grande Shotaro Ishinomori. A forma em que esse mangá foi publicado pela primeira vez é pouco convencional, mas entendível já que a franquia The Legend of Zelda fazia bastante sucesso no ocidente.
Ishinomori lançou A Link to the Past numa revista oficial americana da Nintendo, a Nintendo Power em formato ocidental e completamente colorido. No ano seguinte, o mangá foi publicado numa revista japonesa de mangás, a Tentou Mushi Special. A obra adapta o jogo de forma resumida, mas contém uma das artes mais bonitas em mangás da franquia.
A segunda adaptação de A Link to the Past ocorreu em 1993, quase que ao mesmo tempo da publicação da adaptação de Ishinomori numa revista japonesa. O mangá de Junko Taguchi também adaptou o jogo de forma resumida com apenas 199 páginas. Há pouquíssimos registros sobre esse mangá, apenas que ele foi serializado na revista Hippon Super.
Por último, em 1995, o autor Ataru Cagiva publicou seu mangá Triforce of the Gods na revista shounen Monthly G Fantasy da editora Enix (antes da fusão com a Square). A obra foi uma adaptação do jogo A Link to the Past, finalizada com 3 volumes, desta vez trazendo mais elementos do jogo, incluindo personagens originais.
O autor seguiu adaptado a continuação de Link’s Awakening na mesma revista com o título Dreaming Island, finalizado em 2 volumes. Essa foi uma das obras mais duradouras para mangá de The Legend of Zelda, porém o visual oficial da franquia nos mangás seria definitivo por outra obra.
Alguns outros capítulos e One-shots foram sobre Zelda foram lançados, mas sem muita repercussão. Vale notar que nenhuma dessas obras, com exceção de A Link to the Past por Shotaro Ishinomori, seriam traduzidos para outras línguas, ou teriam o selo oficial de produto licenciado oficialmente pela Nintendo para fora do Japão. Essas obras servem de registro como tentativas da franquia de alcançar a mídia dos quadrinhos, mas essa conquista só foi acontecer plenamente após o lançamento de Ocarina of Time.
Akira Himekawa e os mangás mais importantes de The Legend of Zelda
A franquia The Legend of Zelda já era uma série bastante respeitada no universos dos jogos, porém um grande marco de renovação da série foi Ocarina of Time, lançado para Nintendo 64 em 1998. Esse foi um dos primeiros jogos de aventura, fantasia no formato 3D, e que redefiniu muito do que seria feito em jogos de RPG tridimensional. Um mangá adaptando essa obra seria inevitável.
No ano seguinte, em 1999, começou a ser serializado na revista infantil (Kodomo) Shougaku Gonensei, da editora Shogakukan, o mangá de Ocarina of Time. Em 2000 saiu o primeiro encadernado, e o segundo volume saiu 3 meses depois. A autoria é curiosa pois é formada por uma dupla de mangakás mulheres que utilizam o pseudônimo Akira Himekawa; são elas, A. Honda e S. Nagano.
Juntas elas já trabalhavam em outras obras como na versão mangá de Legend of Crystania de Ryo Mizuno (Record of Lodoss War), o que chamou a atenção da Nintendo, até que elas foram convocadas pelos editores da Shogakukan para trabalharem oficialmente na franquia The Legend of Zelda.
A situação criativa da produção dos mangás por Akira Himekawa tem controle e sugestões da Nintendo. Após dirigir Ocarina of Time e Majora’s Mask, Eiji Aonuma se tornou produtor responsável por tudo relacionado à franquia The Legend of Zelda e também, supervisor dos mangás de Himekawa-sensei.
No início, a ideia era que as autoras expandissem elementos do enredo que não puderam ser transportados para os jogos, mas logo depois, principalmente com a produção do mangá de Majora’s Mask em que o jogo ainda não tinha sido finalizado e o ritmo de produção de uma revista mensal exigia capítulos novos, as autoras foram compondo elementos originais como personagens ou criando tramas de resolução mais curtas já que não havia jogo para se basear.
O resultado é que mesmo com as diferenças, os mangás de The Legend of Zelda por Akira Himekawa fez muitos fãs, além de ser uma das adaptações mais respeitadas e licenciadas no mundo.
Neste trabalho, entre os anos 90 até os anos 2000, as autoras adaptaram para mangás os jogos com os respectivos títulos: Oracle of Ages (2001) e Oracle of Seasons (2001), A Link to The Past (2001), Four Swords (2004), Four Swords Adventures (2005), The Minish Cap (2006) e Phantom Hourglass (2009). Posteriormente esses mangás foram compilados em 10 volumes em formato tankobon, e mais tarde receberam a edição definitiva Perfect Edition em 2016, lançado no Japão com 5 volumes.
No Brasil, o mangá foi licenciado em 2017 pela Editora Panini. Em cada uma dessas obras, personagens e cenários recebem caracterizações particulares, pois a maioria dos jogos de The Legend of Zelda são fechados em si mesmo, representando as diversas reencarnações do Link e Zelda entre as eras e nas diferentes linhas do tempo da franquia.
Ao que se sabe, esses são os mangás da franquia The Legend of Zelda mais traduzidos para fora do Japão, ganhando traduções americanas, francesas, alemãs, espanholas e para o português brasileiro.
O prestígio internacional é tão grande que as autoras já foram convocadas para diversos eventos de comics fora do Japão, como o New York Comic-Con (NYCC) de 2017, onde as autoras Akira Himekawa foram convidadas para um painel de entrevista e sessão de autógrafos. Em 2018, as autoras receberam o prêmio do XXIV Salon Del Manga de Barcelona pelas contribuições artísticas nos mangás. Elas receberam diversas honrarias na europa e que vocês podem conferir aqui.
Após o lançamento dessas obras, em 2016, as autoras receberam o aval da Nintendo para adaptar Twilight Princess. A publicação em mangá ocorreu de maneira diferente, 10 anos após o lançamento desse jogo homônimo para os consoles GameCube e Wii. Além disso, as autoras foram migradas para outra revista, indo para o formato online da Ura Sunday com o aplicativo Mangá One, da também editora Shogakukan.
Nela contemplam publicações gratuitas de revistas lançadas semanalmente. Essa obra sombria foi um grande desafio para as autoras, porém elas tiveram tempo para desenvolver a obra, por isso, o mangá foi finalizado recentemente, em 28 de março de 2022, com 11 volumes no total. Essa é uma das adaptações mais aclamadas e mais adulta em relação aos mangás anteriores de Zelda.
Em 2011, as autoras publicaram uma one-shot prelúdio de Skyward Sword com apenas 32 páginas dentro do livro comemorativo de 25 anos da franquia, o The Legend of Zelda: Hyrule Historia. E nos dias 18 e 19 de setembro de 2021 ocorreu a grande exposição Akira Himekawa Original Art Exhibition: Looking back on The Legend of Zelda Manga, em Tokyo.
Mais de 200 artes foram exibidas e vários colecionáveis das autoras foram vendidos no local. Esse evento marcou o 22º ano das autoras com mangás de Zelda e representou grande prestígio nas carreiras das artistas.
Atualmente, as autoras já confessaram interesse em escrever e ilustrar uma adaptação para mangá de Breath of The Wild, inclusive costumam postar artes das Divine Beasts no site oficial. O que será que o futuro nos revela? Precisamos esperar para saber se teremos mais aventuras de Akira Himekawa nos mangás de The Legend of Zelda.
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