Como quase todo millennial, cresci assistindo os animes da era de ouro da televisão aberta: Dragon Ball Z, Sakura Card Captors, Yu-Gi-Oh, Digimon, Pokémon, entre outros… Mas, por algum motivo, o grande hit Sailor Moon acabou passando batido entre essas experiências – tanto que cheguei aos meus 27 anos sem ter visto nenhum episódio do anime, nem mesmo de Sailor Moon Crystal.

Isso não significa que não tive nenhum contato com a saga. Sailor Moon é fenômeno mundial com diversas referências na cultura pop, e por este motivo, acabei criando certas noções sobre os personagens e histórias. Por anos eu tinha a curiosidade de descobrir mais sobre o universo criado por Naoko Takeuchi, mas os 200 episódios da saga original eram intimidadores. Até que, por bobagem, acabo me deparando com Sailor Moon Crystal no catálogo da Crunchyroll e pensei – seria o destino?

Sailor Moon Crystal | Terceira Temporada

Pesquisei a fundo: Crystal estaria a par da história? Apesar de, na minha humilde opinião, eu achar os traços do original mais atraentes, a premissa de Crystal ser mais fiel ao mangá acabou me conquistando (isso, e o fato de haverem muito menos episódios). E foi aqui, caro leitor, que começou uma série de desmitificações sobre os elementos que compunham a minha noção sobre Sailor Moon – e o que estava certo e o que estava errado.

Aviso de spoilers abaixo

A importância do Tuxedo Mask

Uma das minhas maiores surpresas foi o papel de Tuxedo Mask na história. Por conta das reações de fãs na internet e do famoso meme “Você não fez nada”, sempre achei que o personagem fosse uma espécie de alívio cômico na história, alguém com papel recorrente, mas não muito importante. Nunca estive tão errada na vida! Fiquei extremamente surpresa com o fato de que ele é o co-protagonista, com importância tão grande quanto a da própria Sailor Moon.

tuxedo mask e sailor moon você não fez nada
Meme icônico

Quando Chiba Mamoru foi introduzido, minha reação inicial foi ficar preocupada com a aparente diferença de idades entre ele e Usagi, mas logo foi revelado que ele é apenas uns três anos mais velho que ela. Mas, logo depois fui surpreendida com o primeiro beijo deles, que ocorre enquanto Usagi está desacordada (ela ia aceitar teu beijo acordada, já ouvi falar em consentimento, meu querido?). Com o desenrolar da história, tive que começar a desligar um pouco de senso comum (descansa, militante!), já que há pouca coisa saudável no relacionamento co-dependente desses dois. Aceitei pela proposta da autora (uma espécie de Romeu e Julieta reencarnados) e consegui passar a me divertir mais com a história. Só que agora o meme nunca mais terá a mesma graça pra mim, pois – pelo menos em Crystal – é o Tuxedo Mask quem (pelo menos no começo) quase sempre acaba salvando a Sailor Moon, mesmo ela tendo o grande poder do Lendário Cristal de Prata.

Sweet Home Alabama

Como havia mencionado, meu contato com Sailor Moon era derivado da grande hype que engloba a franquia, mas por algum motivo eu nunca havia visto a Sailor Chibi Moon – e depois de terminar o arco Black Moon, acho que sei o porquê: Acredito que a personagem não seja muito popular entre os fãs (corrijam-me se eu estiver errada).

É bizarro que ela está certa em ter ciúmes? É.

A princípio, fiquei intrigada com a introdução da ChibiUsa (que obviamente era a filha da Usagi e do Momo-Chan…), mas logo a curiosidade deu lugar ao aborrecimento. O principal motivo era o fato de que o enredo parecia estar provocando uma rivalidade entre ela e Usagi pelo afeto de Mamoru – e tudo bem, mesmo que ela não fosse filha dele, ela ainda era uma criança (coisa que o próprio Momo aponta, o que restaurou minha fé no personagem!).

Entretanto, o mais espantoso foi que Usagi estava correta em ter ciúmes da criancinha, já que logo é revelado que ChibiUsa tinha sim algum desejo por seu próprio pai, quando ela revela sua forma de Dark Lady.

Freud, corre aqui…

Claro, tudo é revertido e ela volta a ser uma criança normal, que trata seu pai e mãe como… pai e mãe. E na terceira temporada, durante o arco Death Busters, ela se torna uma personagem muito mais interessante. Mas o fato de que ela viveu por 900 anos na forma de uma criança com uma crush pelo pai, e claro, problemas com a imagem da mãe me deixaram com um certo desgosto pela personagem (e pelo futuro do casal principal… já ouviram falar em terapia?)

Representatividade

Uma das coisas que mais me chamavam atenção no anime, antes de assisti-lo, era a representatividade LGBTQ+, pois já conhecia o casal composto por Sailor Netuno e Sailor Urano. Confesso que fiquei um pouco impaciente para vê-las, mas valeu a pena esperar, já que a chegada das personagens deu uma nova vida ao enredo de Sailor Moon.

Sailor Urano em Sailor Moon Crystal

As duas personagens não só trouxeram uma lufada de ar fresco ao elenco com suas personalidades e objetivos, como também superaram minhas expectativas no quesito representatividade, já que Haruka Tennou (Sailor Urano) é canonicamente Gênero Fluído. Também foi muito interessante ver como seu relacionamento com Michiru Kaiou (Sailor Netuno) foi tratado com muita naturalidade, e a questão do seu gênero deixa de ser u mistério para Usagi assim que explicado. A vida é assim!

Antes das suas introduções, no entanto, temos algumas cenas interessantes que podem trazer interpretações voltadas a representatividade. Logo no começo, brinquei com uma amiga que os critérios para as meninas serem recrutadas como guerreiras Sailor era o fato de que todas elas eram, em certo grau, crushes da Usagi. Eu certamente concluí que nossa Sailor Moon era Bissexual na cena que ela vê Rei Hino (Sailor Marte) pela primeira vez – mas é claro, fica aberto para interpretações.

Gals being pals?

JBC anuncia publicação de Sailor Moon Eternal Edition

Os Arcos

Sailor Moon claramente vive de uma fórmula, tal como muitas outras histórias clássicas. A cada arco, temos um chefão final que vai mandando lacaios que são derrotados um a um até que tenhamos o confronto final. Isso atribui ao enredo uma certa previsibilidade, que acaba sendo reconfortante – a verdadeira força da história são os relacionamentos entre os personagens.

Sailor Moon Crystal teve três temporadas, cada uma abordando um arco. O primeiro é o Dark Kingdom, que estabelece a lore central do anime: a história de amor entre Princess Serenity e Prince Endymion, o papel das guerreiras Sailor e o poder do Lendário Cristal de Prata (que estará no centro de todos os conflitos daqui pra frente). A história faz um bom trabalho em introduzir os personagens e fazer com que você se importe com eles e com suas histórias, mas deixa a desejar um pouco na ação – principalmente com o fato de que, nesse ponto da história, Usagi ainda tem pouca agência e não participa muito ativamente das lutas

Sailor Moon: Dark Kingdom

Já o arco Black Moon tem uma premissa boa, com os melhores vilões do anime, mas desperdiça esse potencial ao apostar no protagonismo de ChibiUsa. Usagi funcionou como protagonista, pois sua ingenuidade era crível, visto que ela tem apenas 14 anos, e seu romance com Mamoru tinha o peso da reencarnação envolvido. Já a ingenuidade de ChibiUsa não convence, já que em diversas cenas ela parece ser maliciosa e tudo cai por terra quando é revelado que ela tem mais de 900 anos de idade. Claro que isso não tira totalmente o mérito do arco Black Moon, já que ele também traz vilões interessantes, o conceito de viagem temporal e uma das personagens mais icônicas da saga – Sailor Plutão. 

Segundos antes da desgraça

Falando em Sailor Plutão, chegamos a verdadeira pérola que é o arco Death Busters. Foi na terceira temporada que finalmente entendi porque tanta gente é apaixonada por esta história: Death Busters, apesar de repetir a mesma fórmula dos outros dois, eleva toda a história com seus personagens. Usagi está mais madura, autossuficiente e inteligente; Mamoru e as quatro Sailors passam a ter mais personalidade; ChibiUsa passa por um desenvolvimento interessante; e claro, as novas Sailors trazem tempero à fórmula. 

Não é em vão que tem “pretty” no título

Não somente o altamente superior arco Death Busters é responsável pelo meu entendimento do amor por esta saga, mas também os visuais. Mesmo quando a história está nos seus momentos mais monótonos, a arte de Sailor Moon é muito linda – não é surpreendente que o nome seja “Pretty Guardian Sailor Moon”. Sailor Moon se destaca de outros animes Shoujo não apenas por ser fofinho, mas também por ser icônico.

Tenho um fraco especial por estes cards

Expectativas quebradas e atendidas

Posso dizer que Sailor Moon me surpreendeu muito, seja positiva ou negativamente. Pelo o que tinha visto, achava que a história era mais perto de um grupo de meninas que lutavam contra o crime do que Romeu e Julieta ressuscitados salvando o mundo

Antes de chegar na terceira temporada, temia que este artigo pudesse soar um tanto negativo, mas agora posso finalmente entender a razão da hype que cerca esta história. Talvez Sailor Moon não seja para todos os gostos, mas digo que vale a pena passar pelo sufoco da segunda temporada para se deleitar com a trama da terceira. Digo até mesmo que estou empolgada para assistir Sailor Moon Eternal: The Movie, o novo filme em duas partes que terá sua primeira estreia neste dia 8 de janeiro. E certamente, recomendo essa experiência para qualquer pessoa que, assim como eu, sempre foi curioso para saber qual era a hype circulando Usagi e suas amigas.