Mangás esportivos são um nicho bem específico aqui no Brasil. Quem acompanha o mercado percebe que títulos voltados para essa temática são quase nulos por essas bandas. Uma pena que temos tão poucas obras, pois temas esportivos nos proporcionam belas histórias, como a que vemos em Slam Dunk, um dos mangás mais famosos da história do Japão.
“Eu sou um gênio”
É com essa frase extremamente autoconfiante vinda do protagonista que começo o artigo falando sobre o aclamado Slam Dunk! Pensaram no quê? Supercampeões? Não! Se é para falar de um mangá esportivo, que seja com muito estilo.
Aproveitando a “deixa”, é curioso como um país que se cultua tanto o futebol não ter tantos mangás falando sobre o esporte número um dos brasileiros. Por aqui temos apenas Inazuma Eleven (Vulgo Superonze) e Pride. Teremos outro mangá de esporte por aqui, mas não é de futebol.
Começa o jogo
Escrito e desenhado por Takehiko Inoue, o primeiro volume saiu no Japão em 1990, encerrando-se em 1996, com um enorme sucesso. Inoue criou Slam Dunk baseando-se em como ele gostava de basquete na época do segundo grau. O fato de Sakuragi ter entrado para o basquete para pura e simplesmente agradar uma menina foi baseado exatamente no que Inoue fazia quando adolescente.
No volume 31 do mangá, naquele tradicional espaço onde o autor coloca algumas palavras, Inoue diz que logo que o mangá começou a ser publicado, ele recebeu várias cartas de leitores, relatando que passaram a jogar basquete após ler Slam Dunk.
Não é a primeira vez que um mangá de esporte influencia pessoas a praticarem o jogo em si, mas isso fica para outro dia.
Primeiro Quarto
Slam Dunk conta a história de Hanamichi Sakuragi, um valentão temido por todos devido à sua vasta cabeleira vermelha, e por fazer parte de uma “gangue”. Mas não se engane, Sakuragi tem um bom coração.
A obra começa exatamente no ponto em que Sakuragi recebe seu 50° fora de mulheres (Sim! Foram CINQUENTA FORAS. Recorde mundial) e é azucrinado por seus amigos, zoando com ele de todas as formas possíveis. Por esses fatores, Hanamichi Sakuragi é bem impopular com as garotas.
Ao entrar no segundo grau, na escola Shohoku, Hanamichi vê a jovem Haruko Akagi e se apaixona por ela. A garota, ao ver o tamanho e o tipo físico de Sakuragi, pergunta se ele é jogador de basquete. Ele, para impressioná-la, diz que sim, que ele é um jogador de basquete, e assim entra no time da escola.
50 foras é um recorde
A grande graça do mangá de Slam Dunk é o fato de que Sakuragi apenas diz que joga basquete para impressionar Haruko, mas no final das contas ele não sabe absolutamente nada do esporte. Quando digo “nada”, é nada mesmo.
Esse é o enredo básico de Slam Dunk, onde, daqui para frente, se desenrola a história de Sakuragi e suas desventuras no time de basquete, aprendendo aos poucos como se joga.
O grande objetivo do Shohoku é participar do intercolegial (o campeonato nacional), e para isso precisa primeiro passar pelas eliminatórias regionais, enfrentando os times mais fortes da cidade. Com o desenrolar da história, somos apresentados aos outros integrantes do time, que compõem a trama.
Shohoku Basketball Team
O time de basquete da escola Shohoku sempre foi conhecido como “o time de um homem só”, por ter apenas o pivô Akagi como um ótimo jogador, e o resto do time de caras medianos para baixo. Sendo assim, o Shohoku não conseguia se classificar para o intercolegial, ficando sempre atrás das principais forças da cidade. A coisa muda de figura com a chegada de quatro jogadores que mudariam a história daquele time para sempre. Os titulares do Shohoku são:
Takenori Akagi – O pivô e capitão do time. Também conhecido como GORI (Gorila), apelido dado por Sakuragi. Está no terceiro ano e seu maior sonho é disputar o intercolegial, mas nunca conseguia por não ter bons companheiros à altura. É o mais rígido do time e seus treinos são sempre puxados.
Hisashi Mitsui – Ala-armador. É especialista em bolas de três pontos e já foi o MVP (jogador mais valioso) na época do ensino fundamental. Desiludiu com o basquete após uma lesão e virou membro de gangue. Arrumou briga (literal) com o time do Shohoku e depois se arrependeu ao rever o técnico do time, o Professor Anzai.
Ryota Miyagi – Armador. Esquentadinho, é o menor do time, mas compensa com velocidade e muita técnica. Estava afastado do time por conta de uma briga com a gangue de Mitsui, onde foi parar no hospital. Assim como Sakuragi, sua motivação para jogar é uma garota, no caso a assistente Ayako. É o melhor amigo de Sakuragi.
Kaede Rukawa – Ala. É o craque do time. Conhecido como “O Supernovato”, devido às suas habilidades acima da média. É o típico anti-herói. Tem um jeitão distante e é o oposto de Sakuragi: as garotas são apaixonadas por ele, além de sua habilidade.
Hamamichi Sakuragi – Ala-pivô. O já dito personagem principal. Apesar do porte atlético, nunca pegou em uma bola de basquete. Sua especialidade são os rebotes e sua determinação em quadra.
Mitsuyoshi Anzai – Técnico. Era conhecido como “O Demônio dos Cabelos Brancos” por seu método espartano de treinos, mas ao assumir o time do Shohoku, se mostra uma pessoa extremamente calma e simpática, ganhando o apelido de “Buda dos Cabelos Brancos“. Estrategista nato, é considerado um dos melhores treinadores do Japão. É alvo constante das brincadeiras de Sakuragi, mas ele não se importa.
Bola de três
Slam Dunk foi um mangá que me prendeu do começo ao fim. Eu nunca tinha ouvido falar da obra e só me interessei inicialmente justamente por ser um mangá esportivo. E, sinceramente, lhes digo: não me arrependi em nenhum momento.
É um mangá muito bem escrito, tem um ótimo desenvolvimento dos personagens principais, tem comédia na medida certa – Sakuragi é muito engraçado – e o elenco é carismático.
Inoue não se prende no já conhecido conceito de “protagonista gênio” que faz tudo, vide Echizen Ryoma, de Prince of Tennis, que desde o começo é um deus no esporte.
Takehiko Inoue trabalha bem essa questão, mostrando a evolução de Sakuragi, tanto como jogador, tanto como pessoa. Se antes o protagonista agia por impulso e pensando somente nele, ele passa a pensar no coletivo do time, chegando a colaborar com a pessoa que ele mais detesta. E mesmo não entendendo nada de basquete no início, Sakuragi se autointitula o gênio do esporte. Fora outras atitudes com outras pessoas e com o meio em que vive.
Coisa de gênio
Eu nem vou me ater à elogiar os traços, pois seria chover no molhado. Quem conhece o autor sabe que o cara é um mestre. Em uma das imagens que ilustram este artigo, é possível ver a evolução (e, consequentemente, a melhoria) dos traços do Inoue.
E, se à despeito da maioria dos mangás esportivos que têm o exagero como ponto forte, e você achar que Slam Dunk tem jogadas exageradas, pode esquecer. Todos os jogos são realistas.
Falando em jogos realistas, essa é a outra grande característica do mangá: absolutamente todos os jogos são emocionantes. Foi tão comum eu me pegar questionando “será que agora o Shohoku perde?” em vários momentos da obra. Eu considero o final de Slam Dunk o melhor final de mangá que já vi. De qualquer gênero.
Slam Dunk é demais!
Slam Dunk sofreu forte influência do basquete dos Estados Unidos. Os quatro principais times da região de Kanagawa (onde a história se passa) têm seus uniformes baseados em times da NBA, tendo o Shohoku as cores do Chicago Bulls, time arrasa-quarteirão da década de 90, que era liderado pelo mítico Michael Jordan.
Além disso, os jogadores do Shohoku foram baseados em jogadores da NBA, como, por exemplo, o protagonista Sakuragi, que foi claramente inspirado em Dennis Rodman, conhecido por sua extravagância capilar e sua raça dentro de quadra, pulando em todas as bolas para salvá-la. Takenori Agaki, o Gori, foi inspirado em Patrick Ewing, grande pivô da década de 90. E assim vai.
Acaba a partida!
Slam Dunk tem um anime de 101 episódios, mas que não é completo. O anime saiu em 1993, com três anos de publicação do mangá. E ele vai até 1996.
Sinceramente, não sei o motivo, mas o anime não cobre justamente o melhor arco do mangá: o campeonato nacional, com um final surpreendente. Mas ainda assim é bom.
Até hoje os fãs pedem para que Inoue faça uma continuação, mas eu sinceramente não gostaria. A história fechou um ciclo perfeito, e o final é o melhor possível.
Infelizmente não posso me alongar neste artigo, pois queria muito citar alguns jogos marcantes da obra, mas aí eu também atrapalharia a experiência de vocês, não é?
Então vamos combinar assim: Leiam o mangá e depois venham conversar comigo aqui no site ou nas outras redes do Megascópio. Terei o maior prazer em lembrar com vocês os melhores momentos.
Por fim, Slam Dunk foi publicado pela primeira vez no Brasil em 2005, pela Conrad, com 31 volumes, no formato “original”. A Panini republicou o mangá, em um novo formato, de luxo, com 24 edições.
Você pode comprar esse maravilhoso mangá aqui. É só clicar e comprar.
Até logo, gênio!
P.S.: Em seu twitter, Takehiko Inoue anunciou que sua aclamada obra terá um filme. O anúncio foi feito em janeiro de 2021, gerando boas expectativas nos fãs.
Real, a outra obra de basquete do autor, será publicada no Brasil pela Panini.