Nascido em Nagoia, no Japão, em 6 de junho de 1970, Yoko Taro é diretor e roteirista de jogos conhecido por seus trabalhos na série Drakengard/NieR.
Taro foi estudante na Universidade de Design de Kobe na década de 90. Apesar de não procurar emprego na área de jogos eletrônicos inicialmente, Taro acabou entrando para Namco após se formar. Ele também passou pela Sony antes de chegar no estúdio Cavia em 2001, onde trabalhou no primeiro Drakengard.
O diretor é bastante conhecido por suas excentricidades, que vão desde sua aversão a entrevistas e fotografias (que o leva a usar uma máscara de um de seus personagens), sua obsessão com personagens não-esquecíveis e sua técnica de escrita “invertida”, até seu famoso senso de humor um tanto não-convencional. Vamos conhecer um pouco mais sobre sua relação com jogos e como ele se sente com seu sucesso na Square Enix.
Processo de escrita e ambientações sombrias
Os jogos escritos por Taro são, geralmente, ambientados em mundos sombrios e abordam aspectos do ser humano vistos incomuns ou perturbadores. Essa forma de criar mundos deu a ele uma fama de gostar de deixar seus fãs tristes – em entrevista para o site Gamespot, Taro explicou como ele enxerga a situação, focando mais na reação dos jogadores à história:
“Como eu explico isso… toda vez que eu jogo é lançado, os comentários ou o feedback que ele recebe é baseado não na perspectiva do criador, mas em como os jogadores interpretaram o jogo. Eu não sei se sou capaz de dizer se isso é uma coisa boa ou não!”
Ele próprio não consegue enxergar suas obras da mesma forma que os fãs, e que a sua limitação como criador seria não conseguir ir além deste limite. Taro explica isso usando NieR Replicant e Automata como exemplos:
“[…] Foi bastante deliberado com Replicant fazer esse tipo de jogo triste. Dito isso, o que levou a criar um drama tão triste foi a ideia de querer fazer uma história mais normal. Não era para ter sido uma história especialmente triste […] Com isso, com o próximo título sendo Automata, nós fomos para algo um pouco diferente, com outra perspectiva. Mas no fim, as pessoas também acharam a história triste. Eu acabei percebendo minhas limitações como criador. Eu sinto que o que eu criei se tornou triste de novo e eu não tenho muita variedade para oferecer.”
Essa linha de criatividade talvez seja fruto do seu estilo de escrita, conhecido por roteirização de trás para frente, onde Taro primeiro imagina o final que ele acha bom e constrói uma história a partir dele. Os pontos principais das histórias são escritos com uma técnica secundária chamada pensamento fotográfico, onde ele visualiza e organiza os altos emocionais da história para entender como ele deve prosseguir – ou nesse caso, voltar até o início.
Pessimismo na escrita
Como seus jogos sempre trazem temas pesados com foco em características tidas como ruins da natureza humana, é natural assumir que Taro tem uma visão pessimista da vida. Esse foi o caso no começo de sua carreira, principalmente no desenvolvimento de Drakengard – em um vídeo promocional de Drakengard 3, o diretor conta como a série ganhou vida após ele pensar sobre a glorificação da violência:
“Eu estava vendo vários jogos de antigamente, e eu vi essas mensagens como ‘Você derrotou 100 inimigos!’ ou ‘Erradicou 100 soldados inimigos!’ de uma forma quase exultante. Mas quando eu pensei sobre isso em um estado mental extremamente calmo, entendi que se gabar sobre matar cem pessoas é estranho. Quer dizer, você é um assassino em série se você matou cem pessoas. Me soou como insano.”
Essa linha de pensamento evoluiu com os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, onde terroristas derrubaram as Torres Gêmeas, matando e ferindo centenas de pessoas. Essa data influenciou a criação de NieR Replicant, com o tema de como as sociedades criam inimigos para justificar a violência:
“[…] Depois da experiência dos ataques terroristas de 11 de setembro e da guerra do Iraque, nós estávamos sendo bombardeados com atualizações sobre organizações terroristas e suas atividades até mesmo no Japão. Foi aí que minha opinião mudou. A sensação que eu recebia da sociedade era: você não precisa ser insano para matar alguém. Você só precisa achar que está certo.”
Taro explica que tentou mudar a sociedade com suas críticas, mas que não deu muito certo no fim das contas, talvez pela falta de apelo que video games tinham para adultos na época. Em entrevista para o site Tom’s Guide, ele conta que desistiu dessa ideia:
“Eu falhei antes ao tentar mudar o mundo através de jogos, e eu continuo falhando agora. Mas eu ainda acredito no potencial que os jogos tem, e eu sonho que alguém novo e jovem fará isso para nós.”
Otimismo na vida
Apesar da visão pessimista que ele coloca em seus jogos, Taro parece viver sua vida de uma forma mais agradável. O diretor é conhecido por suas atitudes um tanto bizarras em eventos, entrevistas e vídeos promocionais, sempre demonstrando muito bom humor no que faz.
Talvez sua maior marca seja a máscara do personagem Emil, que ele usa em todas suas aparições públicas. Apesar de parecer que o diretor tem um afeto especial pelo personagem, não é bem esse o motivo de ele sempre usar a máscara:
“Antes de mais nada, a razão pela qual eu uso a máscara de Emil é porque eu, na verdade, não gosto muito de estar em público dando essas entrevistas […] Não é como se eu preferisse usar a máscara de Emil, eu só preciso usar porque não quero meu rosto exposto.” – via Gamespot.
Mesmo com esse problema, Taro sempre demostra gratidão tanto ao seu time quanto à Square Enix, a quem ele atribui todo seu sucesso financeiro após o grande estouro que foi NieR: Automata. Sucesso, inclusive, que permitiu a adição de um novo final na versão atualizada de NieR Replicant que foi lançada recentemente:
“A razão pela qual eu fui capaz de colocar essa ideia [o final E] em prática foi porque nós tínhamos orçamento o suficiente. Obrigado Square Enix. Com Automata sendo um sucesso tão grande, nós agora tínhamos orçamento o bastante para adicionar o final E.” – via Gamespot.
No fim das contas, podemos considerar que o personagem que Yoko Taro performa é o verdadeiro coração desse grande projeto que é a série Drakengard/NieR. Ele é capaz de entrar em assuntos extremamente profundos com seus roteiros, mas também é capaz de fazer todos rirem ao falar coisas completamente inapropriadas em entrevistas ou ao fazer maluquices como rolar no chão com a maior felicidade do mundo enquanto segura uma camisa de Automata.
Com o lançamento de NieR Re[in]carnation e o anúncio de Voice of Cards, vemos um futuro para esse grande nome da indústria, e mais possibilidades que Taro terá de nos surpreender.
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- NieR Replicant | Crítica