A Viagem para Agartha (Hoshi o Ou Kodomo) é um dos filmes do gênio Makoto Shinkai, que hoje em dia é reconhecido por ser o diretor de Your Name, mas muito antes desse sucesso de bilheteria, Shikai já fez diversos outros filmes. Em Viagem para Agartha o diretor se aprofunda no folclore e misticismo e leva os espectadores a uma aventura fantástica de aceitação da morte e o egoísmo humano.
Uma Jornada Transcendental
No filme vemos a jovem Asuna que é forçada a crescer rapidamente já que seu pai morreu, enquanto sua mãe, uma enfermeira, trabalha longos turnos em um hospital. Asuna então durante seus dias solitários, enquanto estava escutando músicas no seu receptor que foi dado pelo seu pai escuta um peculiar som. Ao voltar voltar para casa em um dia qualquer, ela se depara com um “monstro” terrível e é salva por um garoto misterioso chamado Shun ~Shinkai tem o poder de te fazer se apaixonar por um personagem com pouco tempo de tela~.
Em um filme que contempla paisagens maravilhosas banhadas pelo pôr-do-sol, Shinkai explora um país distante e misterioso chamado Agartha. Asuna que trata a ferida de Shun, logo recebe um choque, sua breve amizade termina repentinamente quando o corpo do jovem é encontrado rio abaixo da montanha. No dia seguinte, um professor substituto de sua classe, o Sr. Morisaki, menciona a terra mítica conhecida como Agartha, onde os mortos podem ser trazidos de volta a vida.
Ao longo da trama, vemos que Asuna encontra um menino cuja aparência é semelhante a Shun. Eles (Asuna e Shin) são então atacados por três soldados armados que parecem estar atrás de um cristal (clavis) na posse do menino (e futuramente do cristal que Asuna usa em seu receptor), que abre o portal para o submundo de Agartha.
Cada um motivado por suas motivações humanas e egoístas, somos convidados a embarcar para essa terra mitológica. A própria Agartha é, por si só, uma figura mitológica, relacionada diretamente à teoria da Terra Oca, de Edmond Halley, bem como os princípios do budismo, ocultismo e até mesmo o hinduísmo. Essa terra seria na teoria uma das 8 cidades sagradas da quarta dimensão, a qual possuiria uma sociedade utópica. No longa podemos ver claramente que essa terra é povoada por várias figuras místicas (deuses/guardiões) intitulados como Quetzalcóatl.
Em Agartha podemos perceber que além de ter divindades provenientes da cultura mesoamericana, é uma terra politeísta, ou seja, com várias crenças de várias culturas. Um fato curioso é que Shinkai mostra que os habitantes da cidade sagrada e os externos (os humanos que buscam o conhecimento de Agartha) não levantam nenhum tipo de questionamento acerca dessa grande fusão religiosa apresentada, o que torna a obra bem inclusiva e questionadora.
A perda de um ente querido motivou os nossos protagonistas, Asuna e Sr. Morisaki, a vagarem por essa terra a fim de alcançar os seus objetivos, a ressurreição daqueles que eles amavam. Após a passagem pelo Portal da Vida e da Morte, vemos a obsessão egoísta de Sr. Morisaki e a grande dúvida de Asuna, que é colocada em perigo pela motivação de seu professor, ao qual ela diz enxergar como pai.
Na verdade Asuna embarcou em uma grande jornada de amadurecimento enquanto tentava entender a perde de Shun, e o que sentia por Shin. Já Sr. Morisaki aprendeu da pior forma que a obsessão não te levará a lugar algum. Um ponto que prejudicou o andamento da trama foi o pouco desenvolvimento da história por trás do pai de Asuna, já que é sugerido que ele poderia ser um Agarthan.
Superando o Luto
Ao final podemos notar que as engrenagens do filme foram movidas por histórias de perdas, seja de um pai, irmão, esposa ou animal de estimação. Os personagens têm que lidar com a perda de seus entes queridos; no entanto, nem todos os personagens lidam com a perda da melhor maneira. Aqueles que ficaram para trás devem aprender a superar sua dor e continuar a viver com felicidade – o desejo final daqueles que morreram.
Este filme tem semelhanças cruciais com o Studio Ghibli e a comparação se torna inevitável, já que Shin é muito semelhante ao Ashitaka de Princesa Mononoke. Na verdade você poderia facilmente acreditar que Miyazaki produziu este filme se pulasse a introdução. Além da semelhança de Shin, temos também a presença de montarias incomuns como um cervo “divino” e um burro. É claro que Shinkai também teve referências como Laputa: Castelo no Céu na cena quando Asuna e Shin caem em uma cachoeira de mãos dadas.
As semelhanças mais aparentes são os Quetzalcóatl de Agartha que são muito iguais às criaturas que vivem na floresta de Princesa Mononoke, além disso os Quetzalcóatl também foram contaminados pela poluição da terra pelo homem. O último Quetzalcóatl que encontramos é essencialmente um robô gigante de Laputa sem um braço. Shinkai soube da melhor maneira usar referências de filmes muito conhecidos e conseguir torná-lo seu.
A Viagem para Agartha já está disponível na Netflix.