O mais novo jogo do estúdio Mistwalker, fundado pelo criador de Final Fantasy, Hironobu Sakaguchi, finalmente ganhou um relançamento para múltiplas plataformas em Fantasian Neo Dimension após 2 anos de exclusividade no iOS.

Leia também:

Fantasian é o projeto mais recente do próprio Hironobu Sakaguchi e também tem sua trilha sonora assinada por Nobuo Uematsu, que esteve ao lado de Sakaguchi na criação de Final Fantasy e permaneceu como compositor principal da série por décadas.

Inicialmente o jogo havia sido imaginado como exclusivo para iPhone para promover o lançamento da Apple Arcade em 2022 tendo o seu maior ponto de destaque todos os cenários serem digitalizações de centenas de dioramas reais.

A história de Fantasian já começa com o bonde andando. Leo é o nosso protagonista com amnésia que inicia o jogo sendo perseguido em uma fábrica de um mundo futurista. Após alguns eventos ele consegue sair dessa fábrica e se encontra com Kina, uma menina órfã que foi criada na floresta. Kina habita a única memória restante de Leo.

FANTASIAN Neo Dimension
Todos os flashbacks da história são narrados como Visual Novels. Reprodução: Square Enix/Mistwalker

Logo ambos se veem na missão de encontrarem o próprio destino, seja ele descobrir o seu passado ou decifrar uma mente com amnésia.

Um espetáculo visual, mas de um jeito inesperado

O que esperar do criador de Final Fantasy que assinou todos os jogos da série até os da era do PS1? Um RPG da era do PS1 feito com os recursos de hoje.

E isso não é necessariamente sobre qualidade, mas sim sobre seu formato e sobre como ele escolhe fazer algumas coisas na estética, mecanicamente e também durante a história.

Por exemplo, todos FFs do PS1 possuem cenários pré-renderizados, onde são essencialmente fotos coladas no fundo de certas cenas que vendem a ilusão de um cenário. Os cenários compostos por dioramas acabam proporcionando a mesma função, só que estamos no século 21 e dessa vez os cenários têm alta definição.

Fantasian Neo Dimension
A glória dos cenários feitos com dioramas. Reprodução: Square Enix/Mistwalker

Como há uma grande diferença no senso estético dos personagens e do cenário, um sendo modelos 3D simplificados e com cores mais simples e chamativas e outro mais realista com cores e padrões mais complexos, dá para perceber que um estilo não orna muito bem com o outro, mas não é algo que vá te tirar do jogo completamente.

A história de Fantasian é, ao mesmo tempo, super clichê e também desafia alguns outros clichês. Por exemplo, já sabemos ainda nas primeiras horas de jogo quem vai ser o antagonista real e a sua natureza divina, mas em contrapartida a personagem feminina principalmente tem o papel de curandeira do grupo e em muitas ocasiões ela e o protagonista têm tensão romântica.

O Legado de ser um jogo mobile

Fantasian como um todo funciona como a experiência de um RPG da era do PS1, só que simplificado para fazer sentido em uma plataforma móvel.

Seu elementos de HUD são muito grandes, o combate por turno não oferece muitas opções, mantendo apenas duas ações principais em destaque e qualquer outro comando ter que ser selecionado de uma lista. 

Outro ponto que evidência que e jogo não foi feito com consoles em mente é que, apesar a câmera possuir ângulos fixos, a transição dinâmica de ângulos em tempo real acaba fazendo com que o jogador perca um pouco do controle de para onde ele está guiando o personagem. No fim do dia, isso é só uma característica inofensiva, mas é um pouco frustrante ver seu personagem fazendo curvas por conta própria com a mudança da câmera.  

Só deixa eu ajustar só mais um pouquinho!

Seu artifício principal, que faz o combate se diferenciar, é a definição de trajetórias para todos os projéteis que os personagens podem utilizar. A “mira” dessas trajetórias sempre dá certa satisfação em alinhar o máximo de alvos possíveis para tirar todo o  valor de todos os seus ataques e definitivamente seria algo impressionante com as telas sensíveis ao toque dos smartphones, mas na transição de celular para console, esse charme acaba se perdendo um pouco.

Fantasian Neo Dimension
Poder definir a tirar o máximo de proveito de cada ataque é o que faz o combate de Fantasian ser engajante. Reprodução: Square Enix/Mistwalker

Apesar de ser um recurso divertido e muito inventivo até, apenas o recurso de “mirar” suas habilidades não é o suficiente para manter o jogador entretido por BEM mais que 20 horas de campanha.

Outro elemento, que é funcionalmente uma melhoria na qualidade de vida, seria o Dimengeon (entendeu? É Dimension com Dungeon) que remove os encontros aleatórios do jogo, mas os reserva até que uma quantidade limite de monstros seja armazenada e o jogador possa encarar encontros com até 30 monstros de uma só vez.

Dimengeon provavelmente é o aspecto mais interessante de Fantasian porque ele oferece uma solução para a chatice que era a alta taxa dos encontros aleatórios em JRPGs clássicos quase 30 anos depois de Chrono Trigger ter deixado todos os encontros visíveis e com a possibilidade de serem evitados em 1995. Isso se tornou quase que o padrão universal para os mais diversos tipos de JRPGs desde então (Chrono Trigger sendo um projeto que o próprio Sakaguchi estava diretamente relacionado).

Seria o próximo passo agora poder armazenar os encontros apenas com inimigos selecionados enquanto ignorar os outros? Eu com certeza não reclamaria disso, me economizaria muito tempo de grind por níveis.

Reprodução: Square Enix/Mistwalker

Trilha sonora e outros recursos

A trilha sonora de Fantasian Neo Dimension, apesar de ser assinada pelo lendário Nobuo Uematsu, não se destaca muito exceto por faixas muito específicas. Ironicamente ela sofre de algo muito incomum em games que é as músicas serem mais interessantes de ouvir isoladamente do quê dentro do contexto do jogo.

Ironicamente, por sorte nesse relançamento publicado pela Square Enix, temos opções para alterar a música de batalha padrão com algumas de Final Fantasy e elas funcionam muito melhor que a música de batalha original do jogo. Claro, batalhas importantes ainda terão os temas originais, mas é bom ter essa flexibilidade.

Fantasian Neo Dimension não tem tradução ou dublagem em português do Brasil. O jogo também não possui nenhuma configuração adicional de acessibilidade para jogadores PCD.

Veredito

Fantasian tem suas particularidades, mas ele não se destaca de verdade no mar de JRPGs que temos sendo lançados todos os anos.

Nada vai diminuir a tarefa hercúlea que foi realizar todos os cenários do jogo em diorama, mas infelizmente o jogo em si acaba não sendo muito interessante para prender o interesse do jogador por muito tempo nem pela história e nem pelo gameplay.

Infelizmente ele é muito mais interessante como “um jogo do criador de Final Fantasy” do que interessante pelos próprios méritos.

Fantasian Neo Dimension estará disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Nintendo Switch e PC via Steam no dia 5 de dezembro!

Chave para review cedida por Square Enix.

REVER GERAL
Enredo
Direção
Trilha Sonora
Jogabilidade
Design
critica-fantasian-neo-dimension-e-um-port-aceitavel-de-um-jogo-medianoNada vai diminuir a tarefa hercúlea que foi realizar todos os cenários do jogo em diorama de Fantasian Neo Dimension, mas infelizmente o jogo em si acaba não sendo muito interessante para prender o interesse do jogador por muito tempo nem pela história e nem pelo gameplay. Infelizmente ele é muito mais interessante como “um jogo do criador de Final Fantasy” do que interessante pelos próprios méritos.