Desenvolvido pela Odd Meter e publicado pela 11 Bit Studios, Indika chamou a atenção pela sua premissa diferente e que prometia uma mistura de gêneros bastante curiosa. Hora flertando com um drama cômico, hora com o psicodélico, o game também se mostra variado na forma de explorar sua narrativa. Vem com o Mega e saiba mais da história da freira, seu demônio e outras inquietações apresentadas no game.
Em relação às plataformas, o título foi lançado em Maio de 2024 e já está disponível para xbox Series X|S, PlayStation 5 e PC (via Steam).
Origens e caminhos
O game se passa na Rússia do século XVII, dando ao jogador o controle da protagonista que dá nome ao jogo. Vivendo como uma freira, o jogo tem início com a conturbada rotina em que vemos o quão as outras irmãs do convento não gostam de Indika.
Além do desdém explícito, ela também é excluída de atividades e submetida às tarefas mais árduas do convento. Mas dentre todas as mulheres que ali habitam ela tem um diferencial de conversar com o próprio diabo, que a faz realizar ações incompreensíveis aos olhos de outros – como falar sozinha ou no culto em que derruba a comunhão – e expõe para si seus sentimentos contraditórios que ela tanto quer suprimir.
A vida da protagonista muda quando recebe a tarefa de levar uma carta até a cidade. Este simples objetivo se mostra mais complexo e com muitos desafios quando a irmã se vê envolta de conflitos e perseguida por soldados e um cachorro gigante. Assim, começa a aventura.
Partindo desta premissa, temos uma história interessante e que traz elementos de diferentes gêneros. Pensar na figura do diabo pode trazer a impressão de que teremos uma aventura aterrorizante e cheia de suspense, sendo suas “aparições” resultam em um clima mais psicodélico que altera o cenário e cria parte dos puzzles que devem ser resolvidos. Além disso, seus comentários acabam caindo como uma parte cômica dentro do enredo ao expor as contradições da personagem e de outras irmãs.
Para os fãs da literatura russa, a narrativa remete bastante a elementos vistos em textos de Dostoiévski. Assim, sendo bem trabalhada, interessante e um dos melhores pontos do título. Dito isso, vale ressaltar que a aventura pode ser completada em cerca de cinco horas, o que se mostrou tempo suficiente para desenvolver a personagem e apresentar uma história reflexiva.
Diferentes visões de jogo
Por ser extremamente focado na narrativa, o game apresenta somente mecânicas básicas para a aventura, como andar, mover objetos e rezar. A movimentação fica óbvia que é para a locomoção e a resolução de puzzles, estes que também são complementados com a mecânica de reza.
Em determinados momentos, a voz do diabo que conversa com a protagonista causa distorções no ambiente, porém a reza o reajusta. Nestes momentos a mudança de ambientes podem liberar novos caminhos para, por exemplo, alcançar uma caixa ou local mais alto para chegar até a saída.
Quando o cenário é alterado a trilha sonora também é mudada, sendo substituído o som ambiente e entrando no lugar a batidas eletrônicas e ritmos caóticos que conseguem representar bem a conturbada mente da freira. Tais momentos são legais e realçam os elementos de contradições que permeiam a história.
Inclusive, são bastante funcionais para a imersão nos sentimentos da personagem. Os contrastes também estão nos coletáveis do jogo, que entre eles podemos encontrar diversas moedas características de jogos pixelados. Elas evoluem uma árvore de habilidades que é praticamente inútil, mas que conversa com o passado da personagem.
Justamente quando o passado do personagem é contado temos uma mudança bastante criativa e corajosa na gameplay. Em sua maioria, a gameplay é focada em terceira pessoa, como conhecemos nos jogos mais tradicionais lançados atualmente.
Entretanto, quando falamos do passado de Indika, somos levados a fases curtas que trazem como elemento personagens pixelizados e cenários de plataformas. Tais momentos são curtos e trazem um grande complemento narrativo ao se relacionar com um passado mais feliz – e talvez – que pudesse resultar em um presente mais satisfatório.
Visual e Som
Visualmente o jogo é bonito, seja nas partes mais realistas ou nos trechos de plataforma. Os ambientes mais bucólicos, vilas abandonadas e as sujeiras da cidade são bem detalhadas e fazem jus a geração atual de consoles.
Entretanto, a parte técnica da narração deixou um pouco a desejar, podendo ser incomoda em alguns pontos. O incômodo não vem dos momentos em que o mundo de Indika é distorcido ou quando está exposto ao som ambiente. Mas sim, durante as falas das personagens que em sua grande parte é abafado.
Por exemplo, no momento em que os personagens estão em ambientes mais fechados, a fala abafada faz sentido e é coerente com a acústica do local. Porém, quando saem para uma área ao ar livre – principalmente após a metade do jogo – o efeito de abafado continua e destoa da ambientação geral. Felizmente, o problema não afeta de forma significativa a compreensão e gameplay, mas pode trazer um incômodo a muitos jogadores. Pequenos cuidados como esse podem manter a atenção e a imersão durante a gameplay.
Veredito
Indika é um jogo curioso que se baseia na sua narrativa pouco ortodoxa para fisgar o jogador e o manter não só entretido, mas apresentando pontos que podem levar a reflexões. Para o que é proposto no título, sua gameplay é funcional e não deixa a desejar, sendo fáceis os comandos para interagir com os puzzles e como os elementos devem ser utilizados no cenário. Falando em cenário, o game é bem ambientado e traz um visual bastante caprichado e detalhista.
Apesar da questão do som abafado que não condiz com ambientes abertos, como visto principalmente após a metade do jogo, o som ambiente (incluindo os momentos do mundo distorcido) são bem feitos e colaboram muito para a imersão do jogador. Também é de se elogiar a proposta de diferentes formas de gameplay para tratar os diferentes momentos de vida da protagonista.
Sem dúvida, Indika é um game que vale a pena ser visitado, podendo fornecer uma experiência bastante única e diferente.
*Chave para review enviada para Xbox Series pela 11 Bit Studios