Infinite Wealth é a grande nova sequência para o  “reboot” que foi Yakuza: Like a Dragon de 2020 e o jogo promete entregar não só um novo capítulo na vida do nosso novo herói, Kasuga Ichiban, como também ser a despedida definitiva de Kazuma Kiryu, o personagem que foi o rosto da série do seu início até hoje.

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Três anos após os eventos do jogo anterior, Ichiban agora trabalha como funcionário público quando um escândalo envolvendo seu passado como Yakuza acaba comprometendo seu emprego. Sem rumo, uma inesperada oportunidade surge para encontrar-se com sua mãe que havia se exilado no Havaí logo após seu nascimento.

Já Kiryu, trabalhando como agente, está no Havaí à procura da mulher que seria a mãe de Ichiban que está sendo procurada por todo o submundo havaiano com a missão de localizá-la e mantê-la em segurança. Os dois agora compartilham o dever de desvendar a trama por trás dessa perseguição.

De férias no Havaí

Infinite Wealth é de longe o jogo mais longo da série, com cerca de 60 horas apenas com a campanha principal e uma gama desconcertante de atividades extras. O jogo é também o mais ambicioso em aspectos técnicos, com o seu novo mapa do Havaí que é gigantesco, mas ainda mantendo o alto nível de detalhe costumeiro da série. O jogo também traz de volta os mapas de Ijincho e Kamurocho que estavam presentes no título anterior.

Muito empenho foi posto para desenvolver o pequeno trecho do Havaí que aparece em Infinite Wealth, o jogo agora conta com um sistema de clima dinâmico (apesar de ainda não possuir ciclo de noite dia), um novo catálogo dos mais diferentes tipos de NPCs populam o mundo e há até mesmo a possibilidade de nadar nas praias do litoral.

Like a Dragon: Infinite Wealth
Com o novo mapa gigante, temos também a opção de usar um biciclo além de um novo recurso de “direção automática”. Reprodução: SEGA

O jogo tem um grande elenco, com nada menos que 10 personagens jogáveis, sendo todos os veteranos de Yakuza: Like a Dragon e 4 novos personagens incluindo o próprio Kiryu que aparece pela primeira vez jogável no sistema de RPG.  

Os novos personagens como Tomizawa e Chitose acabam por roubar a cena em diversas ocasiões e é sempre um deleite ter eles na tela, a química entre todos os personagens funcionam extremamente bem. Contudo, alguns personagens acabam não ganhando tanto tempo de tela como deveriam, que é o caso de Han Joon-gi e de Zhao que são dois personagens super divertidos, mas que acabaram sendo vítimas de uma introdução tardia.

A trama de Infinite Wealth faz questão de tomar todo o tempo que pode para contar a história do jeito e no ritmo dela, e isso diversas vezes significa ficar preso em sequências de estória que podem durar horas inteiras apenas caminhando de cutscene para cutscene. Isso por si só não é exatamente algo ruim ou bom e muito menos novidade para quem acompanha a franquia, mas o jogo também acaba por dar algumas voltas desnecessárias que inflam o tempo desnecessariamente.

Uma caótica festa à fantasia

De longe a maior diferença que Infinite Wealth tem se comparado com o seu antecessor é o grau de elementos adicionados ao combate. Agora o jogador pode controlar a posição de seu personagem até certo nível no campo de batalha e todo o sistema de combate se adaptou para que os jogadores possam tirar vantagem do uso consciente do seu posicionamento.

Like a Dragon: Infinite Wealth
Agora com as novas adições do combate, podemos “mirar” os alvos e aumentar o dano dos ataques.

Utilizando bem do seu posicionamento, todos esses pequenos fatores e interações podem tornar até ataques básicos, que era uma opção sem valor algum em estágios mais avançados do jogo anterior, em uma opção tão ou mais atrativa que o uso de habilidades que custam recursos.

Através do desenvolvimento do vínculo que tanto Ichiban quanto Kiryu tem com seus companheiros de time, novos tipos de interações podem ser desbloqueadas que tornam o combate muito mais engajante e é extremamente divertido ver esse pequeno caos de interações acontecendo de forma espontânea.

Essas novas interações no combate tomam as mais diversas formas como ataques em conjunto, inimigos colidindo uns com os outros ou um aliado realizando automaticamente um ataque extra em um inimigo derrubado. Até alguns felizes acidentes podem acontecer dado a forma como a colisão entre objetos se dá nesse jogo.

Like a Dragon: Infinite Wealth
Com o novo sistema de combate, se tornou muito mais fácil utilizar objetos dos cenário e cada objeto tem propriedades únicas. Reprodução: SEGA

Um novo recurso muito valioso adicionado ao combate do jogo é uma espécie de Limit Break, onde cada personagem tem uma barra individual que se recarrega um pouco a cada turno e com essa barra completa, o jogador pode escolher utilizar uma habilidade especial sem consumir MP e garantido uma vantagem específica à todos os aliados, ou reunir todas as barras do time para realizar um golpe equivalente ao All-out Attack de Persona que é extremamente poderoso, seja em lutas contra ondas de inimigos ou contra um único chefe.

Outro ponto central para o combate do jogo é a sua versão do sistema de Jobs que ele pegou emprestado de Final Fantasy e atendendo ao cenário paradisíaco do Havaí, muitos jobs temáticos foram adicionados como Pyrodancer e Aquanauta. Alguns jobs do jogo anterior também retornam como por exemplo Cozinheiro e Host para garantir uma boa diversidade de opções, mas também fica claro que os jobs exclusivos de cada personagem ganharam muito mais atenção em Infinite Wealth, com cada job exclusivo oferecendo habilidades únicas e indispensáveis além de também complementar a identidade do seu respectivo personagem.

Like a Dragon: Infinite Wealth
Reprodução: SEGA

E isso é ainda mais verdade no caso do job exclusivo do Kiryu, Dragão de Dojima, onde ele sacrifica qualquer tipo de variedade nos tipos de ataques no seu arsenal para ter força, vida e resistência acima da média e três estilos de combate únicos, cada um trazendo uma função nova para o ataque básicos e essas adições mais que compensam por isso. Ele é de longe o personagem mais poderoso do jogo.

O jogo consegue proporcionar uma experiência bem suave quando se trata dos seus picos de dificuldade. Há sim alguns pequenos saltos de dificuldade, mas eles não serão problema caso você tenha armas adequadas para o ponto do jogo e possuir um nível médio entre seus personagens próximo do nível recomendado de cada encontro. Durante a campanha o jogo irá lhe introduzir a um sistema de dungeons com fases que irão condizer com esses saltos e garantir que você não fique travado.

Mil e uma aventuras no paraíso

Conteúdo extra sempre foi um dos fortes da série Yakuza e em Infinite Wealth esse aspecto do jogo está mais forte que nunca. A quantidade de conteúdo extra presente em Infinite Wealth chega a ser obscena, com a gama usual de dezenas de substories, minigames como jogos de Arcade, Karaokê (que dessa vez vêm com MUITAS músicas) e também jogos de cassino, mas também introduz novos minigames como Crazy Delivery que é uma versão simplificada de Crazy Taxi e também uma versão especialmente bizarra do que seria um Pokémon Snap.

Reprodução: SEGA

É padrão em todos os jogos da série haver um minigame “principal” que é apresentado durante a campanha e ter toda uma trama elaborada com cutscenes especiais, dublagem e sistemas dedicados e no caso de Infinite Wealth temos 2 minigames principais que vão ser a estrela do pós-game.

O primeiro deles é a Liga Sujimon, que é basicamente um jogo inteiro de Pokémon posto em cima do “jogo base” e adaptado para funcionar com a natureza de mundo aberto. No jogo anterior Sujimon era apenas uma referência engraçada a série Pokémon para justificar os inimigos bizarros que Ichiban encontra, mas em Liga Sujimon eles ganham muito mais camadas focando em coletar, criar, batalhar outros treinadores e tem até mesmo o seu próprio desafio especial de coletar insígnias e desafiar a “Elite dos 4”.

Ichiban e seu grupo de Sujimon esquizitões. Reprodução: SEGA

O segundo minigame principal é Ilha Dondoko, que ganhou um trailer focado apenas nele e é tão grande que poderia facilmente ser seu próprio jogo. Em Dondoko, Ichiban é incumbido de revitalizar uma ilha que está sendo utilizada como lixão em um resort paradisíaco bem no estilo Animal Crossing, lentamente coletando recursos, construindo móveis, cuidando da sua pequena fazenda e ficando amigo do povo local.

É realmente um modo de jogo bem diferente do esperado e sem nenhuma pressão, onde você pode exercitar a sua veia de design de interiores montando uma colônia de férias paradisíaca com do seu próprio jeito.

Localização e acessibilidade

Like a Dragon: Infinite Wealth não possui dublagem em português, mas ele possui tradução para PT-BR completa de cutscenes e menus no lançamento. A tradução é bem competente e poucos foram os erros que pude perceber durante meu tempo com o jogo, apesar de haver algumas decisões de localização bem questionáveis de tempos em tempos.

O jogo possui algumas opções de acessibilidade para pessoas com daltonismo e também uma opção para desligar os comandos de ação que as habilidades geralmente apresentam, mas o destaque aqui vai para as diversas customizações possíveis para as legendas, podendo adicionar um fundo e também alterar as cores e contraste.

Veredito

A proposta inicial de Infinite Wealth sempre foi ter dois protagonistas, sendo eles Ichiban que é a “nova” cara da série e Kiryu, que talvez seja o personagem mais icônico da Sega perdendo apenas para o Sonic e está efetivamente se despedindo neste título. Contudo, ter o Kiryu dividindo o protagonismo com Ichiban nesse jogo é até um pouco injusto já que a estória tende a entregar mais momentos para o veterano e no geral perder um pouco mais da “fantasia” que havia no título anterior quando o novato tinha o jogo só para ele.  

Nos últimos títulos da série, Like a Dragon parece ter encontrado mais o seu caminho com a trama, tornando os dramas dos protagonistas parte central dos temas do jogo e isso com certeza foi positivo pra série já que cada novo título agora tem mais significado pra jornada dos seus protagonistas, mas Infinite Wealth acaba pecando um pouco nisso.

Reprodução: SEGA

Kiryu merece sem dúvidas um jogo de despedida, celebrando tudo que ele viveu, mas o papel e o envolvimento de Ichiban com os temas do jogo fica um pouco diluído. Por sorte, Ichiban ainda é extremamente carismático na sua pureza de coração e carrega muitos momentos nas costas. 

Yakuza: Like a Dragon foi uma tentativa muito sólida de um primeiro RPG do RGG Studio usando, vários outros títulos desse gênero como inspiração e também pegando emprestado muitos elementos de JRPGs famosos, mas Infinite Wealth consegue ir além das suas inspirações e faz mudanças e adições que combinam perfeitamente com o jogo que veio anteriormente.

Like a Dragon enquanto série foi uma das únicas que conseguiu manter o Beat ‘em Up relevante por mais de uma década e no processo sempre manteve um alto nível de qualidade técnica, mecânica e narrativa, mas agora com Infinite Wealth a série consegue se manter de cabeça erguida entre os seus iguais no JRPG. 

Like a Dragon: Infinite Wealth será lançado no dia 26 de Janeiro para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series e PC via Steam.

*Chave para review cedida por SEGA. Review realizada no PlayStation 5.

REVER GERAL
Enredo
Direção
Trilha Sonora
Jogabilidade
Localização
Design
critica-like-a-dragon-infinite-wealthYakuza: Like a Dragon foi uma sólida primeira tentativa de RPG pelo RGG Studio que pegava emprestado muitos elementos de JRPGs famosos, mas Infinite Wealth consegue ir além das suas inspirações e faz mudanças e adições que combinam perfeitamente com o jogo que veio anteriormente. Like a Dragon sempre manteve um alto nível de qualidade em todos os quesitos e com Infinite Wealth a série finalmente pode se manter de cabeça erguida entre os seus iguais no JRPG.