Trazendo de volta Ales Kot nos roteiros, artes e cores de Piort Kowalski, Brad Simpson e Kevin Enhart, foi lançado em 2019 a HQ Bloodborne: A Song of Crows. Assim como as outras, publicada pela Titan Comics. Sendo mais abstrata que as analisadas até então, temos aqui um material que apresenta diferentes pontos e desafia o leitor ao combinar elementos narrativos.
Vem conferir a análise!
Narrativa
Trazendo o protagonismo para Eileen, O Corvo, temos na narrativa a nossa atenção chamada para um personagem conhecido dos jogos. Logo de início, o vemos desenterrando corpos em uma região congelada, para então revisitar memórias e ver um pouco de sua juventude, rituais e comentários bastante breves sobre seus pensamentos. Então, o vemos em uma perseguição, que aos poucos assume cada vez mais um tom lúdico que beira a loucura.
É difícil descrever a narrativa de forma mais precisa, uma vez que Eileen se mostra perdido no tempo e perseguido por uma espiral que o leva sempre para memórias de idades mais tenras que envolvem um antigo ritual e um amigo que caiu em um lago de gelo.
O que preciso saber?
Mesmo podendo ter seus simbolismos entendidos por leitores que não acompanham mais de perto este universo, alguns conceitos são interessantes de serem descritos para esta análise. O primeiro deles é o vínculo com o Sonho do Caçador. Vemos isso de forma bastante clara com a caçadora protagonista de The Death of Dream.Quando vinculado ao Sonho, ao morrer o caçador retorna para a caçada, como vivendo um ciclo de vida e morte sem fim.
Outro ponto é o efeito do uso do sangue. Em Bloodborne, não só os caçadores, mas principalmente eles, usavam o sangue dos antigos como uma forma de melhorar seu desempenho e curas nas caçadas. Porém, o uso prolongado e a perda do vínculo com o Sonho do Caçador pode levar a loucura e a transformação dos caçadores em feras.
Neste cenário, Eileen é uma personagem presente no game que é bastante marcante por caçar outros caçadores que se tornaram feras. Ainda no game, seu destino depende das ações do jogador, o que pode trazer diversas teorias e interpretações quando vinculamos os eventos do jogo com o quadrinho.
Arte e diagramação
Para reforçar o aspecto abstrato de sua narrativa, a arte usa a diagramação de forma calculada para caminhar para frente com a narrativa. Por exemplo, inicialmente temos algo mais “pé no chão” para o que é apresentado neste universo, então, aos poucos elementos lúdicos são inseridos e mostrar a loucura para qual a personagem principal se encaminha.
Parte da loucura se mostra real pelas páginas divididas e com imagens repetidas, que podem simbolizar um espelhamento ou repetição, também combinando com o desenho circular que aparece repetidas vezes na narrativa.
Veredito
Bloodborne: A Song of Crows é um quadrinho que pode dividir opiniões pela sua abordagem abstrata e praticamente sem diálogos. Sua composição narrativa é muito boa ao combinar sua arte, diagramação e pensamentos, assim, permitindo que o leitor faça suas inferências e combine os elementos para obter o sentido da narrativa e o que podemos obter dela a partir das simbologias apresentadas
Aqui, devido a protagonista ser preexistente no game, saber quem ela é previamente e suas ações traz um peso maior para a leitura, seja pelos sentimentos para com a personagem ou de sua lore como um todo. Entretanto, não exclui leitores que gostem de narrativas com enredos intrigantes ou finais abertos.
Como dito anteriormente, sua arte e diagramação é uma das melhores quando comparamos com as duas primeiras edições. Assim, não posso afirmar que seja uma indicação certa para todos os públicos, mas sim, para quem gosta de ter uma leitura mais cuidadosa e detalhada é um prato cheio!