Foram mais de sete anos de desenvolvimento e muitas expectativas criadas para o lançamento de Cyberpunk 2077. Parte da confiança no jogo vinha não só da qualidade da CD Projekt Red e seu trabalho com a franquia The Witcher, mas também pelo processo de desenvolvimento envolver Mike Pondsmith, o criador do RPG Cyberpunk 2013, que tem continuidade em relação a sua história em Cyberpunk 2077. Inicialmente seu lançamento foi planejado para Xbox One, PlayStation 4 e PC, sendo anunciado posteriormente para Google Stadia.
O tempo passou, uma nova geração de consoles foi anunciada, assim, foram adicionados a lista de presença do jogo o PlayStation 5 e Xbox Series X|S. Então, o mais recente título da CDPR chegou a meio de uma troca de geração, lançado em 10 de dezembro de 2020, após vários adiamentos, para as seguintes plataformas: Xbox One, Xbox Series S|X, PlayStation 4 e 5, PC (via GOG e Steam) e Google Stadia. Nos consoles de nova geração o jogo roda pela retro compatibilidade enquanto suas devidas versões não são lançadas. Em ambos os consoles o jogo que roda via retro compatibilidade será atualizado gratuitamente.
Dado o histórico, podemos falar mais do lançamento turbulento do game. Muitas expectativas foram criadas com um excelente marketing, porém logo em um primeiro contato muitos problemas que afetavam a jogabilidade e visual foram encontrados. Isso acabou encobrindo diversas qualidades que só se revelaram após algumas correções.
Do que se trata o jogo?
Cyberpunk 2077 se passa no mesmo universo dos RPGs Cyberpunk 2013 e Cyberpunk 2020, dando continuidade à história e abordando de forma direta diversos acontecimentos. Entre eles está a resposta da pergunta “que aconteceu com Johnny Silverhand?”, como está a megacorporação Arasaka e outras questões. Um fator importante para entender o universo, mesmo que não tenha tido contato com o gênero, é perceber que nele a tecnologia para alterações corporais já está extremamente difundida. Assim, é seguida a máxima de alta tecnologia e baixa qualidade de vida.
Em meio a um mundo de caos, o jogador assume o papel de V, que pode ter aparência masculina ou feminina. De forma geral, buscando uma vida melhor a personagem acaba em Night City trabalhando como mercenária. Após uma missão dar terrivelmente errada, V presencia a morte de seu parceiro Jack e acaba com um chip com o engrama de Johnny Silverhand em sua cabeça. Agora, desnorteada e sem seu amigo, V deve realizar missões e resolver seus problemas com o passageiro rockstar em sua cabeça lhe atazanando ou aconselhando.
A premissa parece genérica, porém a história é repleta de personagens marcantes e que ganham cada vez mais profundidade ao explorar a lore presente principalmente na linha de algumas missões secundárias. Assim, quando explorado de forma completa conseguimos perceber e viver as ligações com os RPGs, tendo uma sensação de que personagens icônicos como Alt Cunningham e demais membros da banda Samurai, Adam Smasher e Lizzy Wizzy evoluíram. Além disso, personagens criados para o jogo como Panan e Judy apresentam enredos e missões divertidas.
Missões e conteúdo
O jogo possui diferentes finais, porém para libera-los é preciso realizar missões secundárias de personagens específicos. Isso faz com que o jogador experimente mais do universo e se itere em muitos acontecimentos importantes, por exemplo, ao jogar mais com Johnny Silverhand, conhecer seu passado e a relação com os outros membros da banda Samurai. Além disso, permite explorar mais o mapa e conhecer a cultura nômade ou realizar mergulho com a Judy.
Se algumas missões levam a finais diferentes, muitas das secundárias são repetidas e poderiam ser agrupadas facilmente em uma única missão. Isso deixa a impressão que elas foram destrinchadas para fazer volume. Além dos tipos de missões citadas anteriormente, o jogo também apresenta trabalhos de corrida e resolução de assaltos que ocorrem pela cidade.
Customização e escolhas inicias
Abordando a construção do personagem, o jogador apresenta amplas opções para a configuração de V. O corpo masculino e feminino não limita a adição de características, assim, é possível jogar com uma V feminina que possua um pênis e inclusive escolher o tamanho. Tal configuração pode faz sentido com o universo e contexto tecnológico e que o jogo se passa. Se é possível alterações drásticas como uma porta chip na cabeça, por que não o órgão genital? Ou seja, aqui o corpo é o de menos.
Outro ponto que escolhemos logo no início do game é qual será a origem de V, sendo possível optar entre Nômade, Corp ou Street Kid. Cada uma delas apresenta os primeiros minutos bem diferentes e dão um contexto interessante e único para o personagem. Entretanto, após cruzar seu caminho com Jack, que está presente em todas as escolhas, a rota se torna padrão e pouco ou nenhum impacto da escolha de origem é carregado com o personagem. Dependendo da escolha de origem diálogos únicos são desbloqueados, porém se sente pouca diferença no desenrolar dos acontecimentos. O que pode tornar sua escolha inicial praticamente nula.
Evolução
A evolução das habilidades de V é variada e complexa. Para gastar os pontos adquiridos ao subir de nível temos cinco atributos: reflexo, corpo, inteligência, habilidade técnica e credibilidade. As qualidades como manuseio de armas, espada, construção e outros também podem ser melhorados realizando as respectivas ações. Além disso, cada um deles possui outras duas árvores que liberam habilidade de bonificação de características e melhoria de craft. Vale ressaltar que o nível do personagem e habilidades adquiridas podem influenciar na utilização de armas e demais equipamentos.
Também é possível realizar melhorias adicionando implantes em praticamente todo o corpo de V. Assim, por que não ganhar pulo duplo ao adicionar cyberwares nas pernas? Ou ter uma arma fatal como a lâmina louva-deus em seu antebraço? Estas alterações podem definir seu estilo de jogo, pois o pulo duplo possibilita uma abordagem silenciosa mais precisa ao dar acesso a lugares mais altos e inimigos inalcançáveis com o pulo normal. Da mesma forma que implantar os “braços de gorila” favorece uma ação corpo-a-corpo mais efetiva.
Além do personagem, podemos evoluir e modificar os equipamentos utilizados. Assim, é possível adicionar tecnologias em roupas e transformar armas letais em não letais com certos itens. Também é possível adicionar mira e silenciador em praticamente todas as armas de fogo.
Gameplay
Em relação a sua gameplay, temos inicialmente um controle padrão para combates de armas de fogo e corpo-a-corpo que é competente. Entretanto, em combates físicos o jogador pode se sentir um pouco desnorteado ao desviar de ataques, já que a câmera do jogo não oferece recursos para acompanhar a movimentação do inimigo. O padrão de combate acaba sendo alterado com a adição de cyberwares que permitem novas formas de movimentação e ataques. Já que falamos de armas, vale ressaltar que elas são bastante variadas e oferecem diferentes funcionalidades, como as armas tradicionais ou as inteligentes, cujas balas são direcionadas para seu alvo mesmo quando disparadas de outra direção. As armas de dano fisco também são variadas e efetivas.
O jogo também adiciona atividades diferentes, como a exploração de NDs (Danças Neurais) e pilotagem de veículos. As NDs oferecem uma experiência mais investigativa em que temos que analisar o ambiente explorando elementos visuais e sonoros. A primeira experiência com uma ND é arrastada, porém é um tutorial competente, já as demais são curtas e divertidas. Sobre a pilotagem, ela auxilia bastante na locomoção, porém sofre com a ausência de física. Ela é sentida ao pilotar quando os veículos apresentam a mesma sensação de peso e uma dificuldade chata de fazer curvas de forma correta.
BUGS
Até aqui falamos sobre diversos pontos do game, incluindo alguns problemas. Agora, vamos direto aos reais problemas enfrentados: dublagem, bugs visuais e continuidade de missões. Iniciando pela dublagem, ela em si não é um problema. Sua localização foi muito bem feita e as vozes escolhidas para as versões de diferentes países foram certeiras. Destaca-se aqui as dublagens dos Vs e da personagem Panan para o português do Brasil. O problema foi especificamente na versão de Xbox One, cuja versão pt-br encontrava-se ausente no lançamento.
Em relação a bugs visuais, em todas as plataformas, foram encontrados diversos problemas de renderização de personagens e objetos. Muitos destes bugs não afetam a gameplay em si, porém torna o game menos imersivo quando encontrado, ainda mais quando ocorre com certa frequência. Já os problemas de continuidade se davam com diversas missões cujos objetivos não eram concluídos e impediam que a campanha progredisse. Uma ocorrência comum deste erro era na missão do desfile. Atualmente esse erro já foi corrigido.
A inteligência artificial de Cyberpunk também falha em vários momentos. Entre os mais estranhos está os npcs que não desviam de objetos, assim, ao parar um carro no meio na rua podemos facilmente formar um congestionamento sem reação nenhuma dos habitantes de Night City.
Situação Atual
Na primeira semana de lançamento do game foram lançados cerca de três patchs de correções. Assim, a atualização resolveu parte dos problemas de continuidade que afetavam a gameplay e reduziu os erros de renderização. Até o momento em que esta crítica está sendo feita é planejado mais dois grandes patchs com melhorias, com o primeiro para ser lançado este mês (janeiro) e outro para fevereiro.
Veredito
Cyberpunk 2077 é um bom jogo mesmo com seus problemas. Seu lançamento foi problemático, porém ele possui uma gameplay divertida, mecânica de evolução interessante e uma história fascinante. Suas missões secundárias que levam aos diferentes finais são interessantes e impactantes ao revelar com mais profundidade a lore do universo em que está situado.