Lançado no último dia 4 de novembro, Harvestella é um RPG simulador de vida desenvolvido e distribuído pela Square Enix.
O game acompanha um protagonista que acorda em um local desconhecido e sem memória nenhuma de acontecimentos anteriores. Passando a viver em uma fazenda afastada cheia de mistérios, seu personagem irá encontrar vários aliados para tentar entender o que acontece nesse mundo e a origem do Quietus, a estação da morte.
A convite da Square Enix, pudemos conferir Harvestella na íntegra – acompanhe nossa review abaixo.
O mundo
O protagonista (que chamaremos pelo nome padrão Ein durante essa review) acorda durante o Quietus, um desastre que acompanha o final de cada estação do ano e que destrói toda vida que alcança, desde plantas até animais e pessoas. Os moradores da região em que o desastre acontece são aconselhados a não deixarem suas casas no dia em que ele chega, devido a poeira que infesta o ar e infecta humanos, causando suas mortes: apesar disso, Ein não parece ser afetado pelo fenômeno.
Quando o evento acaba, conhecemos o vilarejo de Lethe, onde os moradores recebem Ein de braços abertos e oferecem a ele uma fazenda que não era utilizada por ninguém. É aqui que os jogadores cuidarão de suas plantações e de seus animais, vivendo calmamente – isso até o momento onde será necessário explorar o mundo do game para entender seus segredos.
Durante as viagens, os jogadores conhecerão as cidades de Nemea, Shatolla e a Capital Sagrada de Argene: cada uma tem suas particularidades, como o clima retratando uma das quatro estações do ano e dungeons com temas únicos. O elemento de maior importância em cada uma das cidades, entretanto, são as Seaslights, cristais gigantes que ditam as estações do mundo.
O jogo de fazendinha
Harvestella é dois jogos em um: sua primeira parte é um clássico jogo de fazendinha como Harvest Moon e Stardew Valley onde os jogadores plantam frutas, vegetais e legumes para vender ou usar em ingredientes na cozinha. É necessário preparar a terra e lembrar sempre de regar suas plantas para que elas cresçam e deem frutos.
Ao cozinhar os ingredientes usando receitas recebidas em missões, o jogador pode vender seus pratos para restaurantes que pedem comidas específicas, ou apenas usar suas criações para recuperar HP e aumento de status durante as sessões de exploração. Também há a possibilidade de processar os alimentos de diversas formas usando máquinas que o próprio jogador constrói, sendo possível produzir sucos, doces, farinha, maionese e muito mais – tudo para melhorar suas habilidades na cozinha ou aumentar sua renda.
Além do cuidado com o plantio, o jogador também pode criar os Cluffowl e os Woolum, animais parecidos com galinhas e ovelhas que oferecem ovos e leite para o preparo de diversos pratos, assim como itens que podem ser vendidos por uma boa quantia. Mas o animal que talvez seja mais importante é o Totokaku, uma estranha mistura entre coelho e veado que serve de montaria para o jogador e que, dependendo do seu nível, pode encontrar diversos tipos de objetos e locais secretos durante suas aventuras.
O RPG
A segunda parte do game é mais condizente com jogos da Square Enix: quando não está cuidando da fazenda, o jogador sai em missões para entender os mistérios do mundo e do Quietus, precisando enfrentar monstros em dungeons temáticas de cada cidade. As missões são dividas em uma espécie de ramificação em nível de importância – por exemplo, o terceiro capítulo do jogo tem divisões A, B e C, ficando a cargo do jogador decidir por onde começar.
Em cada ramo das missões principais, o jogador conhece diferentes personagens que podem atuar como suporte durante os combates e exploração, além de oferecer diferentes aumentos de status. Seus números podem ser melhorados em missões específicas de cada personagem, que contam mais de suas histórias e melhoram o relacionamento com o jogador: esse aumento dos números é importante pois a equipe só pode ter até três personagens, sendo necessário pensar bem sobre os atributos que o jogador prefere ter em batalha.
O combate, apesar de ser influenciado por diversos elementos abordados anteriormente, não é particularmente difícil: Ein tem acesso a diferentes Jobs que possuem técnicas únicas e que são efetivas em tipos específicos de inimigos. As batalhas em tempo real são simples e, muitas vezes, reduzidas apenas ao apertar do botão de ação repetidas vezes, o que torna o combate extremamente enfadonho.
A parte mais difícil da exploração e do combate está na administração do tempo: o jogador só pode ficar fora de casa até as 00h no relógio, caso contrário desmaia de sono e é atacado por monstros. Portanto, é importante ficar de olho no relógio e voltar para casa antes de ser afetado pelo status de sono – o lado bom dessa característica é que nenhuma missão é limitada por tempo, sendo possível começar em um dia e terminar quando o jogador bem entender.
Vale a pena?
Ao olhar rapidamente para Harvestella, é possível enxergar uma ideia muito promissora de misturar dois gêneros populares como o RPG e o simulador de vida para criar um jogo, no mínimo, interessante. Apesar disso, ao adentrar com mais profundidade no título, vemos que ainda falta muito ao game: os gráficos, as mecânicas e o sistema de exploração são extremamente abaixo do padrão, sendo mais próximos de jogos do Playstation 2 do que algo esperado em 2022 (a similaridade de certos elementos do jogo com Naruto Ultimate Ninja 5 é perturbadora).
O combate do jogo também lembra muito a época do PS2, com poucas variações (se não inexistentes) de ataques e de formação de equipe. A IA dos inimigos também é de nível muito baixo, sendo extremamente fácil derrotar até mesmo monstros mais fortes com uma simples repetição de movimento.
Apesar dos (muitos) defeitos, existe um elemento que salva Harvestella e o torna um jogo interessante: sua parte de simulação de vida, gênero conhecido por ser viciante e que cumpre seu papel aqui também. No fim, o combate se torna mais uma forma de captar recursos para a construção e melhoramento da fazenda do jogador, que é a parte com mais detalhes e maior polimento. A história, mesmo que relativamente simples, cumpre sua parte e oferece um norte bem escrito para os personagens, também trazendo alguns plot twists interessantes.
Um elemento que merece destaque é a inclusão de linguagem neutra nos diálogos do jogo, assim como a opção de construir um personagem não-binário, que abrange uma maior parcela da população, permitindo que mais pessoas se identifiquem com o personagem na tela – mesmo que as opções de customização não sejam das mais variadas. Apesar dessa inclusão importante, o jogo não conta com outras opções de acessibilidade, além de não possuir localização para o português-brasileiro.
Harvestella está disponível para PC e Nintendo Switch.
*Key para review para PC disponibilizada por: Square Enix