Desenvolvido pela Eidos Montréal em conjunto com a Crystal Dynamics e publicado pela Square Enix em setembro de 2018 para PC, Playstation 4 e Xbox One, Shadow of the Tomb Raider é o terceiro e último título da série reboot de Lara Croft.

Ao contrário dos dois títulos anteriores, a Eidos Montréal assumiu totalmente o desenvolvimento do game e teve apenas apoio adicional da Crystal Dynamics, já que o estúdio estava voltado para o início da produção de Marvel’s Avengers na época.

O game teve direção de Daniel Chayer e roteiro de Jason Dozois e Jill Murray, o título também conta com os retornos de Camilla Luddington como Lara Croft e Earl Baylon como Jonah Maiava, melhor amigo da arqueóloga. Ele foi recebido de forma favorável pela crítica especializada, recebendo nota 82 no agregador Metacritic para sua versão de Xbox One e nota 9 pela IGN.

Vamos, então, conferir como Shadow of the Tomb Raider se comporta nos padrões atuais de qualidade em video game. Vale ressaltar que essa não review contém spoilers pesados do enredo do game.

Shadow é o fundo do poço para Lara

Shadow of the Tomb Raider foi concebido como uma evolução natural dos dois primeiros títulos da trilogia em questões de jogabilidade e enredo, abordando Lara em duas frentes distintas: por um lado, a protagonista agora já é uma exploradora experiente, dominando o ambiente a sua volta e sendo capaz de perseguir seus objetivos sem pestanejar – a ideia é que Lara se torne a Tomb Raider que ela sempre quis ser ao final da trilogia.

Por outro lado, a equipe de desenvolvimento também buscava retratar o impacto, tanto social quanto histórico, que uma estrangeira causa ao entrar em terras não-exploradas e saquear tumbas e locais importantes para a cultura local. Não a toa o cenário do game é a Amazônia peruana: entende-se que a personalidade obsessiva de Lara é um empecilho real no enredo, causando todo o problema que coloca a história em movimento e, por consequência, colocando em perigo pessoas que não tinham nada a ver com os assuntos de Lara e da Trindade.

Essa é uma inversão da lógica tradicional de histórias de aventuras similares a Tomb Raider, como Uncharted ou Indiana Jones, onde a exploração sem cuidado geralmente não leva a grandes consequências em termos globais. Inclusive, outro ponto importante no desenvolvimento da personagem que faz parte dessa inversão de lógica é a evolução de sua obsessão: em Rise, esse traço de sua personalidade colocava principalmente ela mesma em perigo; em Shadow, a escalada de sua obsessão passa a envolver todos, fazendo com que as consequências de suas próprias escolhas sejam seus principais antagonistas durante o jogo.

Shadow of the Tomb Raider
Após colocar o apocalipse em curso, até mesmo Jonah aponta o obsessão em crescimento de Lara.

Um belo mundo nem tão aberto assim

Após colocar o apocalipse em curso, Lara parte para tentar impedir que a Trindade cumpra seus objetivos e refaça o mundo da forma que quiser. Nessa jornada, Lara e Jonah acabam na remota vila de Kuwaq Yaku, no meio da Amazônia peruana. Esse é o primeiro hub do game, contendo missões secundárias para completar, tumbas para explorar, mercador para visitar e itens para coletar.

Apesar da intenção de ser uma área viva, onde os NPC tem sua própria rotina e o jogador pode explorar a vontade, existe uma grande limitação no que há para fazer aqui: após completar as tumbas e encontrar os itens, não sobra nada de interessante para ser feito – e essa situação se repete ao longo do jogo inteiro. A área principal do título é a cidade perdida de Paititi, onde encontramos toda uma civilização Inca intocada, com muitos NPC para conhecer, locais para explorar e muito mais, porém ainda assim vazio em questão de conteúdo com a linearidade sendo sua maior característica.

O grande ponto alto do mundo de Shadow é seu level design e direção de arte, que atingem níveis incríveis de beleza e realismo. Inclusive, no quesito realismo, se faz necessário exaltar o trabalho primoroso da Eidos Montréal na pesquisa para a construção dos cenários, principalmente da cidade perdida e do enredo que a cerca: para quem não conhece, Paititi é um reino encantado das lendas Incas (muitas vezes referido como Eldorado), localizado no meio da selva peruana e lar de seres estranhos adoradores do Sol chamados Ewaipanomas.

Essa lenda foi trazida a tona em 2001 pelo arqueólogo italiano Mario Polia, quando ele descobriu relatos do padre Andrea Lopez contando como, teoricamente, os jesuítas chegaram no local por volta do século XVI. Esses relatos foram incorporados ao jogo em forma de documentos que o jogador encontra e que expande seu conhecimento sobre o lugar e sobre as lendas peruanas, demonstrando o respeito que a Eidos teve com o país e sua história.

Shadow of the Tomb Raider
A fidelidade e beleza dos cenários são seus pontos mais alto, sem dúvidas, com construções e natureza extremamente bem trabalhados.

Jogabilidade, combate e mecânicas

Em quesitos de jogabilidade, o game recicla muitas das mecânicas dos títulos anteriores como o uso de várias armas com ampla gama de melhorias, roupas que aumentam certos atributos e mais, mas a grande novidade fica por conta da detalhada árvore de habilidade que Lara recebe: ao mais clássico estilo RPG, é possível escolher dentre três grupos (caçada, combate e exploração), onde cada upgrade dá a Lara um pouco mais de capacidade para sobreviver.

O problema dessa adição está em como o jogador consegue os upgrades para Lara – ao invés de acontecer como um MMORPG, onde se escolhe um estilo de combate e seus pontos são usados para construir esse estilo, “ignorando” os outros atributos, em Shadow você provavelmente terminará o jogo com todas as habilidades desbloqueadas caso jogue de forma normal. O que era para funcionar como uma escolha de build para os jogadores, acaba se tornando apenas mais um sistema de level up um pouco mais sofisticado.

O combate também não tem nenhum tipo de adição relevante se comparado a Rise ou ao título de 2013, apenas com mais armas para escolher e maior foco nos ataques sorrateiros, inclusive sendo muitas vezes incentivado que os jogadores não revelem sua posição para os inimigos e ataquem de forma discreta. Novos itens que aumentam a resistência de Lara e a capacidade de ver o posicionamento de seus inimigos também são novidades.

Por fim, em questão de mecânicas, a principal diferença está na escalada, sendo possível agora também descer montanhas e precipícios de rapel. No mais, a familiaridade com as mecânicas de Rise serão o suficiente para os jogadores se darem bem com os desafios do game – desafios esses que estão mais grandiosos que nunca. As tumbas e criptas estão espalhadas por todos os mapas, atreladas a missões tanto principais quanto secundárias. O design das tumbas de Shadow são os melhores da trilogia, valendo a pena realizar cada uma das 9 disponíveis.

Shadow of the Tomb Raider
A mecânica de rapel é a única grande adição em questão de movimentação no game.

Veredito

Shadow of the Tomb Raider evoca um misto de satisfação com decepção. Por um lado, o desenvolvimento de Lara é fechado de forma magistral, com a Eidos Montréal honrando a proposta do reboot de trazer uma arqueóloga diferente da que conhecíamos e trabalhá-la de modo mais humanizado. Shadow faz uso das partes mais obscuras da mente de Lara de um jeito que torna o jogo muito mais intimista do ponto de vista dela, deixando que nós, os jogadores, possamos entender mais o que se passa em sua cabeça.

Os cenários são lindos o tempo inteiro e a história por trás de tudo, sendo mostrada através dos documentos do jogo, assim como as tumbas e criptas, são de altíssima qualidade, o que só demonstra a competência do estúdio.

Porém, os outros aspectos do game passam a sensação de que algo a mais poderia ter sido feito: a Trindade, inimigo presente desde o primeiro jogo do reboot, acaba ficando em segundo plano, colocando em foco um personagem que até então não tinha nem sequer aparecido e que possui motivações fracas; os personagens secundários, com a exceção de Jonah, continuam sendo verdadeiras placas 2D que não demonstram nenhum tipo de importância para o enredo ou para Lara; o combate é muito simples e os inimigos, mesmo na dificuldade mais alta, não oferecem qualquer tipo de perigo.

Shadow of the Tomb Raider poderia ser muito mais do que é, mas mesmo assim oferece um encerramento no mínimo digno para a jornada em três capítulos dessa nova Lara Croft. O game está disponível para Playstation 4, Xbox One e PC.

Veja também:

REVER GERAL
Enredo
Direção
Trilha Sonora
Jogabilidade
Localização
Design
Matheus
Fã de Yu-Gi-Oh!, Drakengard/NieR e Tomb Raider. Nas horas vagas, analista de Relações Internacionais e professor de inglês.
shadow-of-the-tomb-raider-2018-criticaShadow of the Tomb Raider apresenta algumas novidades na trilogia, mas no fim não convence a todos e poderia ser muito mais do que é, mas mesmo assim oferece um encerramento no mínimo digno para a jornada em três capítulos dessa nova Lara Croft.