Hoje é lançado The Signifier, um novo jogo da Raw Fury e da Play Me Studio, descrito como uma aventura misteriosa de ficção científica noir focada em história – mas também podemos descrevê-lo como um suspense psicológico. Tivemos acesso antecipado ao jogo e nesta traremos todas as impressões causadas pela trama intrigante e conceitos complexos. Nossa cópia foi para PC, mas The Signifier também estará disponível para Xbox One e PlayStation 4 em janeiro de 2021.

Sinopse

The Signifier é ambientado em um futuro onde a tecnologia de digitalização de cérebros já é possível, gerando novas regras e leis envolvendo inteligência artificial. Logo, jogamos como Frederick Russell: um especialista em IA e psicologia, que possui uma pesquisa experimental que permite escanear memórias. Com as novas regulamentações, Russell faz um acordo com a TSB (Escritório de Proteção em Tecnologia) para manter sua pesquisa ativa.

Este acordo é o centro da narrativa de The Signifier, que foca na investigação da morte da vice-presidente maior empresa de tecnologia do mundo: a Go-AT. Vamos desvendando os mistérios da vida de Johanna Kast, enquanto a TBS, a Go-AT e a vida pessoal de Russell interferem na investigação.

Jogabilidade

Ao jogar The Signifier, não espere grandes sequências de ação: toda a jogabilidade é baseada em sistema clássico de point and click, que funciona perfeitamente para a história que a Raw Fury e a Play Me Studioestão contando. O verdadeiro foco do jogo está nos quebra-cabeças, que parecem simples a primeira vista, mas são capazes de dar um nó na cabeça do jogador.

Isso acontece pois os cenários das memórias investigadas são divididas em dois estados: o objetivo e o subjetivo. No estado objetivo, vemos as coisas como elas são na vida real – ou pelo menos algo muito aproximado. Já no estado subjetivo, as emoções que Johanna sentiu naquele momento afetam a percepção do local, gerando cenários que parecem ter saído da imaginação fértil de uma criança ou de um filme de terror.

The Signifier Crítica
Memórias… não são só memórias…

É aqui que reside a sacada genial de The Signifier. A cada nova memória analisada, pegamos pistas e chaves que nos permitem avançar mais a fundo nos estados e desvendar os quebra-cabeças interligados nas diferentes cenas. Só é possível seguir em frente se as pistas corretas forem encontradas e os dados brutos estiverem nos seus devidos locais. 

Claro, o jogo todo não se passa apenas no laboratório de Russell, logo temos algumas investigações no mundo real. Entretanto, estas não são tão focadas em quebra-cabeças, e sim em escolhas. Nosso personagem se vê pressionado entre a TBS (que quer controlar o uso da IA) e a Go-AT (que quer liberar o uso da IA), e logo podemos escolher que partido tomar ou manter-se neutro. O jogo também permite reatar o relacionamento distante de Russell e sua filha… ou afastá-la de uma vez por todas. Está tudo nas suas mãos e nas escolhas de diálogo cronometradas passando na sua tela.

É possível fechar o jogo entre 6 e 8 horas, dependendo da demora para descobrir as respostas para os quebra-cabeças. Para aqueles que gostam de colecionar as conquistas de jogos, é necessário fechar The Signifier mais de uma vez para conseguir todas elas, já que algumas são relacionadas às escolhas acima mencionadas.

Parece terror, mas não é

Um dos atrativos (ou talvez, distanciamentos) de The Signifier está relacionado com o clima de suspense – corroborada por uma trilha sonora de tirar o fôlego. As músicas fazem o trabalho perfeito de trazer belas emoções nos momentos chave, mas também conseguem trazer medo e desconforto em certas cenas. Entretanto, por mais que aquele sonzinho macabro pareça dizer que logo você levará um susto, o jogo não cede às tentações do gênero e não traz sustos baratos.

The Signifier Crítica
Juro que ele não faz nada!

Entretanto, isso não quer dizer que o jogo está isento de imagens macabras. Os estados subjetivos são um prato cheio para a inserção de criaturas e conceitos que parecem ter saído diretamente de um filme de terror. Porém estas imagens são inofensivas, já que fazem parte de um plano onde Russell é apenas um observador, e logo, não pode ser atacado. Então não se preocupe – a música tensa e as imagens horripilantes são apenas manifestações dos estados emocionais de Johanna e não podem te fazer mal.

As complexidades da mente

The Signifier aborda temas muito complexos e espera que o jogador consiga acompanhar esse conteúdo. Em nenhum momento o jogo para para segurar sua mão e explicar os conceitos de psicanálise abordados. A narrativa também não toma partido na questão da moralidade relacionada às pesquisas de Inteligência Artificial e a digitalização de cérebros. Está nas suas mãos interpretar e decidir qual posição você irá tomar.

O próprio título é uma referência à Semiótica, que estuda os significados de signos e símbolos como parte significativa das comunicações. Isso é visto claramente nas memórias de Johanna, onde suas emoções se manifestam fisicamente como símbolos, e nosso protagonista precisa atribuir significados a eles – ou seja, levando o título de “O Significador”.

É claro que tal tema não é atrativo para todos os tipos de jogadores, mas qualquer pessoa que se sinta intrigada pelas particularidades da mente humana terá bastante assunto para pensar depois de jogar The Signifier. Principalmente porque os diferentes finais deixam muitas hipóteses em aberto que acredito que serão profundamente debatidos em fóruns e comunidades entre os jogadores.

Intrigante, mas vale a pena?

Como mencionei acima, The Signifier não é um jogo que agradará as massas, mas certamente possui o seu nicho. Entre as misturas de elementos investigativos, dramas familiares e uma pitada de terror, o resultado é um jogo intrigante e complexo que trará horas de diversão, acelerará seu coração e te dará muito para pensar. 

Acredito também que a trama se beneficia muito de uma segunda jogada, já que podemos ver as diferentes escolhas. Mas além disso, ao jogar The Signifier uma segunda vez, é possível ver as metáforas nas memórias de Johanna com outros olhos, tal como suas escolhas e comportamentos. Particularmente, jogar uma segunda vez também me fez entender melhor a história e suas complexidades. 

Para todos os efeitos, o jogo é incrível, mas deixou um pouco a desejar em seu final aberto – apesar de também acreditar que é um ponto coerente com o tema central da história. Logo, vale super a pena encarar essa aventura.

NOTA 4,5/5