The Witcher finalmente ganha sua adaptação definitiva para a televisão, produzida pela Netflix a série chega com sua primeira temporada contando com 8 episódios de duração média de 1 hora. Pertencente ao consagrado sub gênero de ficção, High fantasy, por apresentar aspectos fantásticos mais imaginários, com uma estética de magias, monstros e um multiverso, ainda assim esse universo mantém a estética política muito forte e apegada ao mundo real.
A primeira temporada é realmente uma ótima adaptação das obras literárias, já que conseguem incorporar até mesmo os grandes erros do autor, uma cronologia muito confusa e um péssimo jeito de fazer viagens no tempo. Durante os episódios a série transita entre 3 protagonistas, Geralt de Rivia (Henry Cavill), Ciri (Freya Allan) e Yennefer (Anya Chalotra), e nessas transições o lugar no tempo muda bastante. Pensando em uma linha temporal a trama de Ciri acontece em 1263, as aventuras de Geralt ocorrem por volta da década de 1250, já a história de Yennefer segue se desenrolando desde volta de 1190. A série traz cortes relativamente rápidos entre as cenas e não situa o ano que isso se passa, o que gera confusão em quem não conhece a história. Todo esse problema poderia ser evitado caso houvesse uma marcação de data sempre que ocorresse uma mudança de cena.
Em questão de ambientação e fotografia, a produção dá um verdadeiro show de beleza, mostrando um resultado digno de obras cinematográficas, usando muito bem os ambientes e os cenários construídos e de maneira muito fiel as descrições na maioria das vezes, embora haja o contraste em ambientes bem abertos e cenários pequenos de set e quase nunca um meio termo disso e também alguns elementos de cenário que parecem artificiais, isso só vai incomodar os espectadores mais exigentes, já que de modo geral o visual sempre agrada.
Por falar em visual, o figurino também agrada bastante, principalmente o de Geralt e o de Jaskier que se mostram bem fieis às descrições e ainda assim conseguem lembrar o dos jogos. A única exceção seria as famosas armaduras de “uva passa” de Nilfgaard, mas em planos mais escuros acabam por nem incomodar tanto. Partindo para CGI dos monstros a discussão fica no meio a meio, alguns monstros mostram realmente um trabalho bem feito, enquanto outros deixam muito a desejar, como o dragão Villentreternmeth. Os efeitos especiais para as magias também impressionam bastante, claro que diferente do que todos esperam sobre o uso de poderes mágicos, mas a magia em The Witcher, chamada de Caos, toma conceitos totalmente diferentes das fantasias comuns, sendo muito mais natural e alquímica do que energia e explosões.
A trilha sonora é excepcional e merece grande destaque, tanto as músicas de ambiente, que lembram muito a trilha de The Witcher 3 e passam um misto de sentimentos bons, quanto as canções do bardo Jaskier que são de se aplaudir em pé, pois além de bem inseridas na trama dão ao personagem toda a identidade que ele precisa, e o mais importante, dá aquela vontade de escutar mais e mais vezes.
Na questão de fidelidade à obra original, The Witcher de modo geral se mostra uma boa adaptação, adaptando principalmente contos dos 2 primeiros livros, O último desejo e A espada do destino, e acrescentando uma conexão entre eles, as cenas e os diálogos respeitam bastante a obra original, mas com as famosas pequenas alterações que sempre acontecem para que a obra seja melhor representada na mídia visual. Há casos que tanto as mudanças quanto as cenas tiradas diretamente dos livros tropeçam na hora mostrar uma boa performance para a série, como a jornada de Ciri e Dara por Brokilon não representar uma boa mudança da obra original ou a adaptação do conto Os confins do mundo no segundo episódio não casar muito bem com os outros acontecimentos da série, alguns diálogos no decorrer dos episódios dão a sensação de terem sido inseridos apenas por um selo de fidelidade e não necessariamente são importantes, pois algumas das discussões morais levantadas na série não tomam as devidas proporções sobre os personagens como acontece nos livros.
Por ser uma série adaptada diretamente de contos, The Witcher sofre por não apresentar com clareza um objeto central da trama, como a luta pelo trono de ferro em Game of thrones. Quem conhece a história sabe que esse aspecto vai aparecer logo, mas os espectadores mais casuais podem enxergar um problema nisso. Seria muito interessante se a profecia de Ithlinne fosse apresentada logo nas primeiras cenas, dando a aparência de que esse agouro é o que guia a motivação daqueles personagens sem que fosse preciso revelar os plots que a trama guarda.
“Em verdade vos digo que se aproxima o Tempo da Espada e do Machado, a Época da Selvageria Lupina. Acerca-se o Tempo do Frio Branco e da Luz Branca, o Tempo da Loucura e o Tempo do Desprezo, Tedd Deireádh, o Tempo do Fim. O mundo morrerá congelado e renascerá com o novo sol. Ele renascerá do Sangue Antigo, de Hen Ichaer, da semente plantada. Da semente que não apenas brotará, mas explodirá em chamas. Ess’tuath esse! Assim será! Atentem para os sinais! Que sinais serão esses, eu vos direi, porém antes a terra se cobrirá com o sangue dos Aen Seidhe, o Sangue dos Elfos…”
profecia de Ithlinne Aegli aep Aevenien
A dublagem brasileira está maravilhosamente bem localizada, com ótimos dubladores, como o grande Guilherme Briggs que dá um novo tom para o bruxo e consegue entregar um trabalho que evita comparações com o dublador dos jogos, Sérgio Moreno. As únicas vozes que vão causar incomodo são as que tentam puxar um sotaque eslavo e quase sempre não casam com o contexto. Para os caçadores de Easter eggs, no primeiro episódio fomos agraciados com uma fala exatamente igual a dos jogos, em texto e voz.
Em suma, a produção entrega um trabalho de muita qualidade que consegue provar de uma vez por todas que vai ser uma das grandes séries que estão por vir e mostra também que como adaptação os produtores estão dando o seu melhor para agradar todas as classes de fãs. Apesar de cometer alguns deslizes e escolhas questionáveis de roteiro, o final épico da temporada supera com certeza qualquer dúvida acerca de valer ou não a pena continuar assistindo.
Nota: 4,2/5,0