Relevância é o fator mais importante para um jogo online, desde o início do seu desenvolvimento, lançamento e conforme o tempo, cria-se uma comunidade, e o tamanho dela vai estar ligada a essa relevância. Todo jogo online luta da maneira que pode para manter a relevância, e no por essa luta a comunidade cresce, ou diminui e começam a acusar o jogo de ter morrido. É um ciclo que a maioria de nós já é familiarizado ou pelo menos já ouviu falar de algum “jogo morto”.
Counter Strike, Dota, League of Legends, todos já passaram por esse ciclo, talvez ainda estejam -Mas eu nunca entrei muito no cenário competitivo dos jogos, esse estilo de jogo sempre me afastou um pouco-. Eu tenho medo do quão competitivas as pessoas podem ficar e como elas podem ficar agressivas, mas eu acabei deixando tudo isso de lado quando eu comecei a jogar Overwatch, que apesar de não ter a melhor das comunidades me fez ignorar todos os reveses e mergulhar nesse mundo de FPS competitivo. Antes disso o máximo que eu me aventurei em competições foi FIFA ou Guitar Hero.
Mas esse ano, o mundo parou, literalmente, por conta de uma pandemia, e a Riot soube virar a situação a seu favor. Em pouco menos de duas semanas, Valorant quebrou recordes de visualizações na Twitch, e tudo isso foi parte de um plano muito bem trabalhado de marketing, que o tornou o jogo mais relevante durante as semanas de beta fechado e pouco depois do lançamento.
A explosão do jogo na Twitch
Quando foi anunciado no evento de 10 anos de League of Legends, a Riot falou pouco sobre o até então chamado de “Project A”, que seria um jogo tático de tiro em primeira pessoa, num universo diferente do de LOL. Muitas especulações até os primeiros anúncios engatilharem uma grande curiosidade do público e iniciarem uma campanha de marketing que teve todos os fatores ao seu favor, e embora eu não concorde muito com campanhas feitas no Fear of Missing Out, ou a ansiedade causada por não fazer parte de algum evento ou não ter alguma coisa, não há como negar que esse foi o grande trunfo da Riot em toda a situação.
Quase todos os streamers pararam de jogar seus jogos para dar uma chance ao novo jogo, que à primeira vista parece um Counter Strike mais cartunesco e com cores mais chamativas, mas acabou revelando mais camadas de gameplay entre seus diferentes personagens, o que foi a combinação perfeita entre os jogos de tiro táticos como CS e Rainbow 6 Siege e os “Hero Shooters” como Overwatch e Paladins. Logo, com uma parceria com a Twitch para distribuir aleatoriamente keys do jogo enquanto você assistia streams do mesmo, Valorant se manteve nos mais assistidos com pouca competição, e com cada vez mais pessoas falando, assistindo, querendo jogar.
Os problemas e as qualidades de um multiplayer competitivo
Relevância, entretanto, é difícil de se manter. O sistema anti-cheats obrigatório da Riot, o Vanguard, gerou muitos problemas para muitos jogadores, e ainda no beta fechado muitas pessoas estavam tendo problemas com desconexões constantes, servidores com dificuldade de lidar com o número de pessoas jogando ao mesmo tempo, entre alguns outros problemas que a Riot tomou o tempo que precisou para consertar, apesar de já ter anunciado o lançamento do jogo. E quando o dia chegou não estava tudo as mil maravilhas, os números de streams caiu consideravelmente, com os streamers grandes voltando aos seus jogos primários. Muitos disseram não ter muito mais o que fazer, o beta do competitivo não apresentava muitas diferenças do jogo casual e as críticas acabavam divergindo, para alguns o jogo era lento demais, e para outros o jogo tinha muita coisa acontecendo na tela.
Uma partida normal de Valorant consiste em 2 times de cinco jogadores revezando entre ataque e defesa, sendo que os atacantes tem como objetivo plantar uma bomba em um território inimigo e os defensores precisam impedir que essa bomba seja plantada. Pontos são dados caso a bomba exploda, ou um time elimine todos os jogadores do time oponente, e o primeiro time que conseguir 13 pontos vence a partida. Assim como em Counter Strike, o jogo tem uma fase de compra antes de cada rodada, onde os jogadores podem comprar armas diferentes usando créditos que são dados de acordo com o desempenho da equipe na rodada anterior; sendo assim, o time que jogar melhor consegue mais créditos, e o time que não for tão bem não conseguirá tantos. Existe o fator individual, que também influencia no número de créditos que um jogador consegue, por exemplo, se ele conseguiu 3 eliminações mas ainda assim seu time perdeu a rodada, ele não será tão penalizado por isso.
Além das armas, os jogadores podem usar os créditos para comprar habilidades que mudam de Agente para Agente, e o estilo de jogo entre esses personagens, mesmo que se interlapsem em alguns casos, acaba sendo distinto ainda assim. Embora alguns personagens possam se curar, apenas a Sage pode curar ou reviver um aliado, assim como alguns podem levantar uma parede e atrapalhar a visão do adversário, o muro de fogo do Phoenix é diferente do muro venenoso da Viper. E nessas diferenças o fluxo do jogo acaba se tornando mais interessante na medida que a capacidade de um jogador muito bom, que conheça muito bem suas habilidades virar o jogo para seu time é sempre um fator.
O novo modo competitivo e o futuro como eSport
A Riot tem trabalhado no balanceamento das partidas no recém chegado modo competitivo, que acaba não sendo muito diferente do competitivo do League of Legends ou qualquer jogo multiplayer massivo. Existem elos e os jogadores serão pareados com jogadores de níveis de habilidades semelhantes, e poderão subir do ferro, bronze, prata, ouro até o nível mais alto, que é chamado de Radiante. O jogo desde seu anúncio tem sido colocado como uma nova frente da Riot para competir com outros e-Sports de tiro em primeira pessoa, como o próprio Counter Strike. E apesar de não ter criado um campeonato oficial, a empresa tem entrado em conjunto com patrocinadores e incentivado torneios semi-profissionais, na intenção de encontrar os talentos do jogo ainda no seu começo.
Embora eu ainda prefira e tenha um apego muito grande ao Overwatch, a grande questão do Valorant ser de graça e eu conseguir juntar um time de 5 amigos pra jogar casualmente umas partidas, acaba virando uma alternativa viável pra muita gente que esteja cansada dos seus jogos principais. E aparentemente, até a Riot começar a investir um bom dinheiro em campeonatos e chamar mais a atenção de quem não se interessa por jogos de tiro, eu imagino que vá continuar sendo o jogo secundário dos jogadores de alto nível, embora o jogo tenha encontrado um número ainda alto de pessoas transmitindo na Twitch e a comunidade estar ainda no seu crescimento. O que nos resta é esperar pra ver como a Riot vai se encontrar nessa luta por manter relevância, no meio de tantos competidores, inclusive da casa.