Lançado no último dia 28 de outubro e desenvolvido pela Square Enix em conjunto com o estúdio Alim, Voice of Cards: The Isle Dragon Roars é um RPG localizado num mundo de espadas e feitiçaria e apresentado por completo com a ajuda de cartas.
A equipe de desenvolvimento é composta pelos criadores das séries NieR e Drakengard, incluindo o diretor criativo Yoko Taro, o produtor executivo Yosuke Saito, o diretor de trilha sonora Keiichi Okabe e o designer de personagens Kimihiko Fujisaka.
Nós da equipe O Megascópio fomos convidados pela Square Enix para conferir o game na íntegra, com toda sua premissa diferente e história intrigante. Para manter o mistério do game, essa review não terá nenhum tipo de spoiler em relação ao enredo do jogo.
Apresentação e combate
Como destacado em nossa review de primeiras impressões da demonstração do game, Voice of Cards é um RPG de mesa feito de cartas, construído como se fosse um jogo como Banco Imobiliário, por exemplo: existem dados, peão, um tabuleiro próprio formado pelas cartas do jogo (inclusive sendo possível ver a mesa onde as cartas estão espalhadas), e mais.
Apesar de ser apresentado como um jogo de tabuleiro, Voice of Cards é, em todos os seus outros aspectos, um JRPG com combate em turnos aos moldes dos Dragon Quest e Final Fantasy mais antigos, com golpes normais, golpes especiais que consomem energia que é acumulada durante a batalha, resistências e fraquezas a elementos – exceto que tudo isso é feito através de cartas.
Quando falamos de jogos de cartas, talvez venha a mente games famosos como Gwent, Yu-Gi-Oh!, Hearthstone e mais, porém o que talvez chegue mais perto de representar o que é o combate de Voice of Cards é Slay the Spire, um roguelite lançado em 2019 onde o combate acontece através de cartas. Porém, nem mesmo Slay the Spire consegue ser uma boa comparação.
No caso de The Isle Dragon Roars, os inimigos aparecem de forma aleatória no mapa a medida que o jogador movimenta seu peão para descobrir novas áreas. Com uma equipe de três personagens, o jogador terá uma gama de até quatro ataques (que podem ser personalizados a medida que os personagens aumentam de nível) para derrotar os inimigos.
Os golpes especiais consomem Gemas, que é basicamente uma outra representação do sistema ATB que foi popularizado por Final Fantasy – cada vez que um personagem tem sua vez para atacar, uma gema é dada ao jogador. Os ataques variam entre golpes elementais que podem ter seu dano multiplicado pelo resultado de uma jogada de dados, golpes que infligem mudanças de status como envenenamento, paralisia ou cura, e golpes comuns que não consomem gemas.
A vida fora das lutas
Mas não é só de batalhas que vivem os personagens da história de Voice of Cards: ao explorar os mapas dando prosseguimento a história principal, os jogadores cruzarão com vários eventos, tanto aleatórios quanto de missões secundárias. Os eventos aleatórios acontecem iguais a uma campanha de RPG tradicional, onde algo como uma tempestade de raios ou pedras caindo de um local alto estão prestes a atingir a equipe e o jogador precisar jogar um dado que, dependendo do resultado, causa ou não dano aos personagens.
Já no quesito de missões secundárias, geralmente se tratam de achar algum tesouro escondido no mapa e que demandam um pouco mais de exploração para serem encontrados. É importante realizar essas missões pois algumas delas levam a equipamentos muito poderosos que podem mudar o rumo das batalhas para o jogador.
Falando em equipamentos, a grande maioria deles podem ser adquiridos nas cidades que os personagens visitam ao longo da jornada, sendo dividido entre armas, armaduras e anéis. Cada personagem tem um tipo único de arma, e alguns podem usar o mesmo tipo de armadura. Já o anéis podem ser usado por qualquer personagem e garantem efeitos como aumento de ataque de um elemento específico.
Ainda nas cidades, os jogadores sempre irão encontrar lojas de itens de batalha e de cura, uma pousada para recuperar as forças e uma loja de jogos. Nessa loja, um NPC apresenta um jogo que funciona como variações de partidas tradicionais de cartas como 21 – é como jogar Gwent dentro de The Witcher 3, pode ser muito viciante uma vez que se aprende as regras.
O fator Yoko Taro
Por ser tratar de um jogo que tem Yoko Taro como diretor criativo, é normal que hajam certas expectativas entre as pessoas que estão familiarizadas com seu trabalho. Desde o anúncio do game, o diretor já deixou claro que Voice of Cards não faz parte do universo Drakengard/NieR, e que não devíamos esperar nenhum tipo de conexão obscura com os games da franquia.
Mesmo se tratando de um título solo, o game apresenta diversas das características dos jogos de Taro: por exemplo, todos os personagens e inimigos possuem histórias secretas que podem ser desbloqueadas quando conversamos ou batalhamos com esses NPC’s, algo muito similar às histórias das armas em NieR: Automata.
Um ponto importante é que, ao decorrer da história, o jogador poderá fazer escolhas nos diálogos dos personagens. Apesar da maioria dessas escolhas serem irrelevantes para a progressão do enredo, é possível desencadear diferentes finais para história dependendo de uma certa escolha feita durante a jornada, outra forte característica dos games de Taro.
O estilo de escrita e o andar do enredo também mostram claras influências do diretor, onde nem tudo é exatamente o que parece ser e muitas vezes os personagens podem surpreender com atitudes tomadas. Em suma: Voice of Cards tem tudo que o torna um jogo ao estilo Taro.
Veredito
A impressão que tivemos durante a demo do game acabou se tornando verdade: Voice of Cards é um excelente jogo resultado de um trabalho extraordinário da equipe de desenvolvimento. Os design de Kimihiko Fujisaka ficam como o maior destaque do título: sendo mostrados apenas em cartas e com poucos sprites, foi de suma importância fazer com que os personagens sejam extremamente bem desenhados e detalhados, ajudando a narração a passar muito bem a personalidade de cada um.
A narração, inclusive, é feita pelo VA Hiroki Yasumoto na versão japonesa. Apesar de ser a única voz do game, Yasumoto consegue entregar um trabalho primoroso, encontrando bem o equilíbrio entre ser o guia do jogador no mundo e ser, ele mesmo, um personagem do game. Junto com a trilha sonora de Keiichi Okabe, o jogador é levado para dentro da história com sucesso.
Alguns pontos negativos: a mecânica de cartas definitivamente será o maior desafio que os jogadores terão de superar – caso você seja inclinado a não gostar desse tipo de jogo, é provável que Voice of Cards seja problemático para você. Além disso, por ser um título de escopo pequeno, as coisas podem acabar se tornando repetitivas após algum tempo de exploração, já que não existem muitas variações quando se tratam dos mapas e dos inimigos: ao final, todos seguem mais ou menos a mesma fórmula apresentada nas primeiras horas de jogo.
Apesar desses pontos, o jogo no geral é bastante interessante e poder viver uma nova história escrita pela equipe fantástica por trás de Drakengard/NieR definitivamente supera os pequenos problemas que o jogo pode oferecer. Em relação a duração, foram necessárias cerca de 15 à 20 horas de gameplay para completar o game, com pouquíssimos bugs encontrados, provando que o jogo também foi muito bem otimizado para a versão de PC usada para essa review.
Voice of Cards: The Isle Dragon Roars está disponível para Playstation 4, Nintendo Switch e PC via Steam.
Key cedida por: Square Enix