Cursed – A Lenda do Lago, já está disponível na Netflix e é o novo título medieval da plataforma. Nessa série o espectador pode conferir uma reimaginação da famosa lenda arturiana, contada pelos olhos de Nimue, uma heroína adolescente com um dom misterioso que está destinada a se tornar a poderosa (e trágica) Dama do Lago.

“Nascido no amanhecer, para morrer no crepúsculo”

Logo no início da trama, após a jovem perder sua mãe, Nimue encontra um parceiro inesperado chamado Arthur, um jovem mercenário, enquanto está em busca de Merlin para lhe entregar uma espada antiga. No curso de sua jornada, Nimue se torna um símbolo de coragem e rebelião contra os terríveis Paladinos Vermelhos e seu cúmplice Rei Uther. Essa série é baseada no livro de 2019 de mesmo nome de Thomas Wheeler e Frank Miller, que apresenta uma trama reimaginada do famosos folclore Arturiano.

No início do primeiro episódio vemos a protagonista Nimue, sendo escolhida pelos Ocultos, se tornando assim a conjuradora, fardo esse que a jovem não queria, mas ao longo da trama o carregou com muita bravura e honra. Apesar de contar com bastante gore, a série em seus primeiros episódios apresenta um ritmo de obra teen, mas isso não é necessariamente ruim –exceto os efeitos especiais na importante batalha entre Nimue e os lobos, onde a jovem ganha seu apelido de Bruxa do Sangue de Lobo–.

Cursed – A Lenda do Lago

Em suas primeiras horas, a série te apresenta uma trama política simplista, com trajes que variam do perfeito e imersivo, ao exagerado e além de seu tempo. Com o decorrer da trama também somos apresentados a cenas de guerras e invasões que alternam entre o épico ao robotizado, como ocorreu na invasão do povoado feérico no episódio intitulado “Nimue”.

Um ponto para lá de positivo e que ajuda o espectador adentrar na história, é a belíssima transição animada de núcleo de personagens, que muita das vezes oferece dicas da trama.

A série também aborda temas de extrema relevância e de grande sensibilidade, como a constante dificuldade dos seres humanos em lidar com o diferente, elementos da lenda clássica também são reorganizados e ressignificados de uma forma extremamente fluida, inclusiva e representativa. Cursed constantemente faz questão de inserir elementos do folclore artuniano e céltico para os fãs mais apaixonados.

“Honra é tudo?”

Como nem tudo é perfeito, Cursed também apresenta falhas, que entram em atrito com fatos que são mostrados na série, como por exemplo, a jovem Nimue que sofreu muito durante a sua infância por ter poderes considerados de extremo perigo e amaldiçoado, frisa diversas vezes que não confia facilmente em todos, e na primeira chance que teve, optou com confiar em Arthur, um jovem totalmente desconhecido.

O mesmo ainda vale para Arthur, que se apresenta como um mercenário e desapegado, e que prontamente se arrisca por Nimue, botando tudo que “conquistou” de lado.  Em contra partida, quando o roteiro opta por explorar o lado dramático da atriz Katherine Langford (Nimue), assim como Gustaf Skarsgard na pele do mago Merlin, os espectadores são presenteados com um belo show de atuação.

O ritmo da série –para a felicidade de todos– melhora incontestavelmente em seus episódios finais, trazendo consigo uma profundidade para a trama, inserção de personagens conflitantes, lutas bem construídas e diálogos mais estruturados. Na trama o espectador é banhado pela hipocrisia e corrupção dos Paladinos Vermelhos, que destroem tudo o que não os agradam em nome da Igreja.

O núcleo religioso da trama, por ser o mais conflitante, se mostra o mais atrativo da trama, já que nele temos o surgimento de personagens como Morgana, O Monge Chorão e a Irmã Iris. Morgana, como o nome mesmo sugere, é uma figura amplamente conhecida nas tramas medievais épicas ao redor do mundo, se apresentando como uma figura mítica e cheia de poder, em Cursed, vemos sua origem reimaginada, onde ela agora é irmã de Arthur, ex-freira e atual mensageira da morte.

Cursed – A Lenda do Lago

No início da trama temos a aparição ofuscada e uma visão muito indiferente de Uther Pendragon –outra figura bastante difundida no folclore artuniano– já que o mesmo se apresenta ser um governante fraco, porém quando a trama começa a ganhar raízes políticas e as mentiras caem por terra, Uther, que na verdade não tem sangue real, toma as rédeas de seu destino como soberano. 

Na história somos constantemente atingidos por diversas referências celtas e arturianas, como a presença de trísceles, rainhas celtas e figuras arturianas. Até mesmo quem está familiarizado com todo esse folclore, pode ser surpreender com os segredos que a trama guarda.

A pluralidade é algo bem presente nos episódios finais de Cursed, que é quando os outros povos (tribos de feéricos e Vikings) também são revelados e trazem consigo novos conflitos que enriquecem a história.

No centro da trama temos a famosa espada, Dente do Diabo, ou Espada do Primeiro Rei, que contém os poderes mágicos do Mago Merlin e é um objeto de desejo para todos os Reis e figuras influentes na trama que buscam consumar o seu poder ou reivindicar um título.

Apesar de um cenário rico e cheio de vida –as vezes até organizado e limpo demais–, um ponto fraco marcante na série é a falta de noção de espaço e de tempo na história, aonde alguns personagens chegam a certos locais em um piscar de olhos e outros demoram dias.

Como foi dito, a série apresenta alguns diálogos que entram em conflito com a própria história do personagem na série, mas mesmo assim os episódios finais dirigidos por Sarah O’Gorman mostram-se extremamente recompensadores, já que a trama se mostra mais intrigante e brutal. 

Com um final elétrico, banhado a sangue, muitas desavenças, novos laços formados e uma trilha sonora imersiva, Cursed se apresenta como uma boa via de entrada para todos aqueles que querem conhecer mais do folclore arturiano e um presente para os já aficionados por esses contos.

NOTA: 3,8/5