A estreia de um novo filme da Marvel sempre causa alguma expectativa, ainda mais agora que Homem-Formiga 3 inaugurou a fase 5 do universo cinematográfico da Marvel, além de que apresentou o esperado vilão Kang, o conquistador. É preciso considerar que foi muita responsabilidade para apenas um longa metragem que, obviamente, jamais conseguiria aparar as arestas deixadas na fase 4.
Pensando enquanto filme cinematográfico e no que ele entrega para esse plano de franquia da Marvel é que nos colocamos aqui. Nossa análise também refletirá sobre a reação do público durante a estreia desse 31º filme de herói da Marvel.
Nos perguntamos: Será mesmo que se trata de um filme execrável como fizeram parecer, ou é apenas a fórmula da Marvel que se repetiu aos montes e agora parece cansar o público? Fiquem conosco que vamos destrinchar tudo isso.
Sem quantum nem mania
Como todos sabem, trata-se do terceiro filme com do herói título, porém, como bem aparente neste título enorme e pelos trailers, o filme também iria trazer uma tal “Quantumania”. Além disso, o marketing do filme apresentava o conhecido e temido vilão Kang dos quadrinhos. Todos esses fatores já reduziria a importância do personagem Homem-formiga ou da própria Vespa em seus filmes títulos. Mas, o que encontramos nesse filme?
Pensando como na trilogia do Homem-Formiga, esse é um filme que se desconecta um pouco dos outros dois primeiros, ligado apenas pela presença dos personagens título aqui e ali, e os apresenta de forma super plana. O filme tenta se interessar mais em revelar conceitos quânticos sobre um micro universo que comporta diversas populações, criaturas e ecossistemas, mas nada muito confuso.
O propósito do filme é bem claro, tão claro que quase não há mais nada além dele: Apresentar mais uma vez outra versão do Kang (que já foi apresentado antes na série Loki) na forma pretensamente mais ameaçadora; trazer mais novos conceitos sobre viagem no tempo e multiversos, além tocar assuntos sobre família e acolhimento de causas sociais alheias como todo herói ou ativista moralmente bom. Se o filme consegue executar tudo isso? Infelizmente não. O grande problema de Homem-Formiga e Vespa: Quantumania é que ele nunca consegue se aprofundar em nenhuma dessas proposições, é só embalagem bonita de algo frágil.
O filme até tenta criar um visual atrativo, porém prejudicado pelos efeitos visuais não muito convincentes, causando cansaço aos espectadores sobre uma ambientação que poderia ser melhor se fosse bem trabalhado. Quando vemos exemplos de obras com multiversos e com orçamentos menores como Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, não há desculpas para a Marvel como empresa que já lançou mais de 30 filmes. A falta de inventividade não se explica, a não ser pelos evidentes problemas com o cronograma curtos dos filmes. Os seja, problema inteiro da empresa Marvel.
Os clichês típicos de filmes de herói da Marvel não são um problema. Esse realmente não é o ponto, mas o que torna essa experiência frágil e até genérica está na maneira como a direção Peyton Reed tenta a todo momento se parecer com James Gunn que, a propósito, trabalhou melhor essas questões sobre família. O resultado não chega perto do Gunn, nem em humor ou em carisma mesmo contando com um elenco incrível de atores como Michael Douglas, Michelle Pfeiffer, Paul Rudd, Jonathan Majors e até Bill Murray super mal aproveitados. E por falar em Majors, vamos a ele.
Kang: só Jonathan Majors conquistou algo aqui
O antagonista do filme é inserido na obra já nas primeiras cenas que se revelam como flashback da vida pregressa da Janet (Michelle Pfeiffer) no reino quântico. Ao ser sabotado por versões de outros universos, o personagem Kang fica preso no reino quântico e tenta escapar dali com uma máquina que viaja no tempo e espaço entre dimensões e universos paralelos. Em um determinado momento do filme, ele é auxiliado pela Janet, a primeira Vespa, até que ela descobre que ele é um grande genocida e “conquistador de mundos”.
Como está bem aparente, a grande ameaça do filme é o Kang, um dos personagens esperados no universo cinematográfico da Marvel. Dizem os fãs dos quadrinhos que esse é o substituto do Thanos como grande vilão representativo da fase multiversal da Marvel. Mais uma vez, não é isso que encontramos aqui. Isso poderia ser apenas uma expectativa externa ao filme, mas ela é movimentada pelo próprio filme quando colocam personagens que decidem não pronunciar o nome do Kang, potencializando a figura vilanesca.
É notável que a maior expectativa causada pelo marketing do filme estava nele, Kang, o conquistador. Trailers, sinopses, imagens promocionais e até figures supervalorizaram a figura vilanesca que foi criada sobre ele para essa versão adaptada, relacionando-o ao registro de supervilão que são encontrados nos quadrinhos. Mas para a frustração geral, o que encontramos no filme, na verdade, é um das versões do Kang e para piorar, é uma das versões mais nerfadas dele. Não nos leve a mal, tudo isso poderia ser bem balanceado, afinal é um filme do Homem-formiga, porém o roteiro raso e leve desse filme oscila de forma desproporcional entre um vilão super-poderoso em algumas cenas e fraco em outras. Essa falta de coerência não ajuda a construção da obra.
Felizmente coube ao ator Jonathan Majors ser escalado para esse papel de Kang. O elogio que ele tem recebido está mais ligado a interpretação do ator do que os argumentos e a construção do personagem, vejam bem o que comentamos sobre o personagem, Majors recebeu um vilão nerfado e nada sinuoso em questão de personalidade do Kang. Ele é vilão e ponto, ele quer dominar os mundos, ele é o conquistador e só.
Essa construção do roteiro torna o personagem muito plano, sem muita abertura para pontos fora desses traços. O legal da interpretação do Majors é que ele tenta sair um pouco disso, vai desde um cara com medo de ficar preso num universo esquisito até ir ao oposto de um cara sisudo e decidido de si mesmo nas cenas em que ele tem que ser o vilão maldoso. Muitas vezes essas mudanças de personalidade estão no olhar do ator ou em pequenas expressões corporais. Vale ver só por ele em cena.
O Modus operandi da Marvel
A reação do público foi mista como podem ver nos sites agregadores de críticas e reviews do público. No rotten Tomatoes e no Metacritc o filme está avaliado com 48% de críticas positivas, já o Cinemascore pontuou o filme com nota B na avaliação do público sobre o filme, sendo uma das mais baixas entre todos os Marvel, ao lado de Eternos. Quando nos deparamos com as reações em geral dessas três fontes de avaliação, o que mais o público reclama é do estilo genérico e confuso do enredo. Nós apontamos para uma outra questão que não está apenas nesse filme, mas em outros mais recentes da Marvel: a fórmula.
Nos últimos filmes temos encontrado obras que apresentam uma embalagem de algo que parece que vai para um caminho mais diferente e corajoso, porém o resultado sempre são pequenas pinceladas daquele ponto de curiosidade que leva o público ao cinema, o filme em si é quase obsoleto em relação às cenas pós-créditos. Essa tendência aconteceu em “Eternos”, “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”, “Thor: Amor e Trovão” e até “Pantera Negra: Wakanda para Sempre”. Podemos dizer que é uma forma de “não entregar tudo” e segurar a plateia para os próximos filmes, mas o que isso provoca na verdade, quando mal planejado, causa uma sensação de mal aproveitamento. Essa coisa também tem sido ruim até para os fanservices típicos e esperados nesses filmes como a presença descartável do Modok em Homem-formiga 3.
Atualmente um filme da Marvel não consegue se estabelecer sozinho sem que precise funcionar como algo preparatório para o próximo filme, essa forma incompleta, sem integralidade, inevitavelmente tem esbarrado em experiências frustrantes.
A situação atual era de 4 filmes, 3 series e 2 especiais de TV só em 2022, esse ritmo de produção em curto período e com filmes e séries que não terminam em si mesmos e criam o cansaço geral por essas obras. A situação é tão séria que a Marvel teve que adiar filmes e séries para espaçar mais o lançamento dessas obras, e quem sabe, preparar melhor a produção desses filmes. É um sintoma que Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania se torna um grande representante dessa realidade recente.
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