Mães de verdade (Asa Ga Kuru) é um filme de 2020 de 140 minutos, dirigido pela japonesa Naomi Kawase e baseado no livro de Mizuki Tsujimura, ainda não publicado no Brasil.
Acompanhamos inicialmente o casal Kurihara, que por conta de azoospermia não podem ter filhos biológicos e após tratamentos em Sapporo para reverter a situação, decidem adotar uma criança por meio de uma instituição que une mulheres que não podem criar os seus filhos com famílias impossibilitadas biologicamente de terem crianças. Eles adotam Asato e após seis anos com o garoto recebem uma ligação misteriosa da mãe biológica.
O objetivo central da trama é por em pauta a maternidade e as condições de como ela se apresenta, explorando com feminilidade uma questão tão delicada. Traz reflexões importantes sobre o que é ser mãe e se há preparo e tempo certo para isso. Ao colocar realidades diferentes em contraste em um país tão tradicional, o filme mostra como a maternidade é complexa e como o conservadorismo desestabiliza as mães.
Vemos mais do que o ponto de vista do presente da família Kurihara, viajamos para o passado e também acompanhamos a história da mãe biológica. Para criar intensidade e demonstrar os sentimentos dos personagens, há abusos de flashbacks e trocas de pontos de vistas, como que para justificar as ações e diálogos das personagens que não precisavam de explicação. Isso tira a emoção de alguns acontecimentos e se apega a detalhes dispensáveis que criam expectativas e mistérios que não existem.
Kawase entrega takes belíssimos, que são a sua assinatura, aproveitando com maestria elementos naturais e principalmente a luz do sol. Essa sensibilidade com a natureza demarca a passagem de tempo e espaço dentro da narrativa. A movimentação da câmera traz naturalidade e intimidade para o filme, dando um ar documental.
Alguns ganchos desenvolvidos não serviram à história, apenas aumentaram os minutos de tela, sem causar nenhuma conexão para o telespectador ou até mesmo profundidade para as personagens, tornando o filme longo um tanto cansativo, mas há uma entrega de cenas belíssimas e traz reflexões importantes sobre maternidade. Afinal, o que é ser mãe? Há tempo certo para isso? É preciso dar a luz para ser mãe?
O filme integra a seleção da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
NOTA: 3/5
CABINE VIRTUAL: IMPRENSA