Após realizarem um filme live-action fracassado em Hollywood 30 anos atrás, The Super Mario Bros retorna aos cinemas, dessa vez como filme de animação super colorido. O longa foi produzido pela Illumination Entertainment e Nintendo, distribuição da Universal Pictures, com direção de Aaron Horvath e Michael Jelenic (Os Jovens Titãs em Ação) e já se apresenta como uma grande evolução gráfica em relação às animações anteriores da Illumination.
Será que o filme supera as expectativas dos fãs? Além disso, será que conseguiram amarrar o enredo convincente adaptando uma obra que começou como um jogo simples de plataforma para consoles Nintendo? Bom, fiquem conosco que vamos destrinchar direitinho como estão os elementos do filme e o que ele pode representar para adaptações de jogos nos cinemas.
No filme, os irmãos Mario e Luigi são dois encanadores fracassados em Brooklin, até que após um evento catastrófico os dois se desencontram ao atravessar um cano verde para um universo mágico. No local há vários reinos fantasiosos, um deles, o reino dos cogumelos, é governado pela Princesa Peach. Ela, preocupada com os ataques do Bowser, pede ajuda ao Mario para derrotar esse vilão, para que assim ele possa salvar o irmão desaparecido.
Filme infantil, isso é um problema?
O enredo do filme pode ser encarado como simples, clichê e infantil, porém é preciso levar em consideração que esse filme lida com um material fonte que não é reconhecido pela complexidade na história e muito menos por uma densidade dramática. O jogo criado por Shigeru Miyamoto, sejam nos primeiros Super Mario Bros, Super Mario World, Mario Kart ou ainda no tecnológico Super Mario Odyssey apresentam enredos básicos com missões como ir de um ponto para outro, conquistar recompensas, saltar, angariar Power Ups, desviar de obstáculos, salvar personagens e/ou universos de algum perigo. Todos eles possuem classificação indicativa livre ou para mais de 10 anos (Odyssey), ou seja, o público alvo é o infanto-juvenil, embora todos possam apreciar. Mas será que isso justifica a narrativa juvenil?
Bom, em nenhum momento do filme a abordagem infantil do filme torna-se cansativa ou aborrecida como algumas vezes ocorre na franquia Meu Malvado Favorito (2010), e pouco se utiliza de piadas repetitivas como Minions (2015). O encanto geral está no visual multicolorido, diverso e na medida certa para esse filme, além do carisma natural de cada personagem. O filme quer ser acessível a todos e conta com um rítimo frenético usando alguns cliffhangers deixados durante o filme. Propositalmente eles podem gerar um gosto de “quero mais” para as crianças, e os adultos não devem se sentir entediados no cinema, pois tudo no filme inspira mais curiosidade, é possível se perguntar “Que Mundos são esses?”, como diz a Princesa Peach em um determinado momento “existem milhares universos”. Essa lidicidade é importante. Não seria estranho ver milhares de continuações e spin-off dessa animação The Super Mario Bros, afinal, o filme serve exatamente como uma introdução ao que pode acontecer (cenas pós créditos), mesmo que ainda entregue uma estória conclusiva nessa oportunidade.
Foi um grande desafio trazer elementos de jogabilidade do game para um enredo minimamente condizente com um roteiro tradicional de filme com jornada de herói, MacGuffin (A estrela), Obstáculos, entre outros elementos. A Illumination às vezes gera alguns filmes com visíveis defeitos no roteiro, mas isso está longe de ser um problema em Super Mario Bros, pois tudo parece redondo, amarradinho, sem se desviar muito da jornada principal de Mario, Peach e Toad contra Bowser. Praticamente não há cena desnecessária e muitas vezes pode ser gerada a impressão de que o filme é rápido demais e não se demora em suas poderosas ambientações.
Os personagens
Cada personagem segue mais ou menos o que se conhece nos jogos, porém o filme entrega alguns elementos explorados pela primeira vez na franquia como a família do Mario e Luigi, que obviamente é uma família numerosa de imigrantes e descendentes de italianos no Brooklin americano, já a Peach tem um passado misterioso como criança que surgiu inesperadamente naquele mundo de cogumelos.
Aliás, por falar na Princesa Peach, o estereótipo que ela tinha predominantemente nos jogos como uma princesa indefesa é quebrado para dar lugar para uma personagem ativa no enredo, chegando a quase dividir protagonismo com o Mario em alguns trechos do filme. A Peach é guerreira, engenhosa, esperta, líder de seu povo e sabe se defender sozinha. Alguns jogos de Super Mario já traziam essa Peach menos recatada, porém é nesse filme que essa faceta torna-se definitiva.
Outros grandes destaques estão no Bowser e no personagem Toad. O primeiro é um típico vilão de desenhos infantis, mas com a dose de humor entregue torna praticamente hipnótica a presença dele em tela. Já o Toad é um alívio cômico hilário, pegando todos os trejeitos exagerados desse herói baixinho e fofinho, mas super hiperativo. Cada um desses pequenos detalhes realçam ainda mais o carisma de cada personagem.
Vale lembrar também que optaram por manter o design de personagens cartunescos com o mesmo estilo dos jogos, mas acrescido com muitos tipos de texturas, no avanço gráfico da animação 3D mais alta possível. O que poderia trazer estranheza, na verdade apenas realça as características dos personagens somadas às cores vibrantes nos personagens e cenários.
O que esperar?
Embora com um roteiro simples, herança dos jogos, é preciso levar em consideração que construíram algo funcional e possível no cinema, além disso, o carisma e o colorido dos cenários causam mais curiosidade pelo universo de The Super Mario Bros. Será que teremos continuações e spin-off? Existe material da Nintendo para isso.
A trilha sonora do filme resgata os temas criados por Koji Kondo para os jogos, isso pode gerar sensações nostálgicas para quem jogou algum game do Super Mario. Vale prestar atenção em cada um desses momentos sonoros evocativos dos jogos, inclusive até mais do que músicas as pop dos anos 80 que foram inseridas no filme.
Para aqueles que costumam querer narrativas profundas, esse aqui não é um filme Pixar. Esse longa é despretensioso narrativamente, muito consciente do público alvo que pretende atingir (crianças fãs e não fãs do Mario), e podemos dizer que entrega completamente todas as doses de diversão possíveis em tela. Aliás, trata-se de um filme infantil que quer ser acessível em primeiro lugar, isso não é um demérito, apenas é uma abordagem, e o filme cumpre bem essa proposição.
Realmente é de aplaudir de pé os feitos desse filme. As cenas estão tão bem encaixadas que nada parece desnecessário, pois nem os milhares de easter eggs durante o filme ou as doses mais exageradas de humor que costumam distrair em filmes da Marvel dispersam a condução do enredo deste filme. No geral, é uma experiência divertida, digna de ir com todos aos cinemas, sem restrições.