Trazendo fábulas nórdicas de forma extremamente macabra, mas também com encanto e fantasia é que recebemos o jogo Bramble: The Mountain King, disponível para PC (Via Steam), Nintendo Switch, PlayStation e Xbox Series X/S com legendas em português brasileiro.
Leia também:
Essa obra sombria foi desenvolvida pela empresa sueca Dimfrost Studio com distribuição da Merge Games, ambas focadas em jogos indie e independentes. O jogo foi criado por Ellinor Morém, Fredrik Sellden, Mikael Lindhe e Fredrik Präntare, todos da Dimfrost.
No enredo, acompanhamos o pequenino Olle desbravando uma perigosa floresta, desviando de inimigos colossais como Goblins, Trolls, Elfas e Bruxas do mal, e assim, salvar a irmã Lillemor que foi capturada e está perdida. A trama envolve suicídio, massacre, canificina e diversos tipos de cenas perturbadoras com bastante violência, e por isso há um aviso de gatilho no início. A classificação etária está indicada para maiores de 18 anos.
Bramble: The Mountain King é uma aventura que lembra o estilo fúnebre de algo como o filme O Labirinto do Fauno de Guillermo del Toro ou ainda Midsommar de Ari Aster. Mas como será que todos esses elementos são conduzidos pelo jogo?
O Terror e a Jogabilidade
Em primeiro lugar, de acordo com uma entrevista do Portal PCInvasion, o CEO da Dimfrost Studio e criador do jogo Bramble, Fredrik Sellden comentou que a proposta era explorar outras lendas do folclore nórdico que não envolvia Vikings, pois há uma mitologia rica na Suécia, contada oralmente de geração para geração. Ele também diz que queria dar um aspecto realista e com consequências para essas fábulas.
É dessa maneira que alguns mitos do folclore nórdico aparecem e estão inseridos na jogabilidade do game com rica contextualização. Somos apresentados a criaturas como o pavoroso Näcken que atrai pessoas com a música e as afoga no lago, ou a ninfa Skogsrå e seus poderes de ilusão, ou ainda Trolls, as bruxas, plantas trepadeiras do mal, os espíritos e demais criaturas estão caracterizados de forma vilanesca. Essa contextualização não cansa a experiência, pois está aplicada de forma sucinta, e as características das criaturas estão integradas dentro das mecânicas do jogo, trabalhando com a intuição do jogador.
Como falamos no início, esse é um jogo em que acompanhamos a sequência dos eventos a partir do personagem Olle. Ele precisa atravessar uma densa floresta para encontrar a irmã Lillemor, quase nos moldes do conto João e Maria (Hansel and Gretel) com verniz macabro. O personagem não ataca os inimigos por ser constituído de forma frágil, salvo alguns momentos à frente no jogo onde Olle ganha o poder de iluminar. Por isso, a maior parte do jogo está focada em mecânicas como escalar, pular, caminhar em linha reta, equilibrar-se, desviar, tudo isso para escapar daqueles cenários perigosos que ambientam Bramble.
A obra possui uma jogabilidade de fácil entendimento, por vezes bastante intuitiva, porém a repetição de algumas tarefas pode irritar alguns jogadores, mas não prejudicam a condução do jogo.
Vale destacar também que embora pareça, não se trata de um jogo de mundo aberto. Temos aqui uma narrativa bem guiada e presa nos segmentos do jogo, divididos numa estrutura de capítulos, inspirados em livros. Esse aspecto literário de conto de fadas obscuro compõe o storytelling do jogo.
A ambientação
Uma das coisas mais fortes do jogo, sem dúvidas, está na ambientação. Temos aqui cenários repletos de beleza e detalhes, é notável como criaram elementos com o maior preciosismo possível. São momentos interessantes, e quando não são bonitos e encantadores sabem retratar com horror em cada aspecto pavoroso daquele ambiente.
De certa forma, foi deveras ambicioso criar um cenário gigante e detalhista em que o elemento jogável é uma criaturinha pequena. O Olle muitas vezes desaparece na composição da floresta entre árvores, gnomos, flores e nas mais diversas plantas e pedras.
Compreendemos que foi proposital trazer essa dimensão gigantesca das florestas, lagos e vilarejos. Tudo isso para expandir a experiência com uma ambientação nem sempre tão convidativa, mas que em cada elemento vai preencher os olhos dos espectadores como os quadros de John Bauer, obras que serviram de referência tanto no uso das cores monocromáticas quanto nos designs do jogo.
Um ponto negativo pode estar na escassez de coleta de itens, o que poderia gerar uma aproximação ainda maior com os detalhes dos cenários.
Trilha sonora folclórica
Além da composição visual do jogo, que sabe explorar bem os aspectos folclóricos da ambientação, temos também a excelente trilha sonora de Martin Wiklund (Martin Wave) que ressalta as características das lendas nórdicas em Bramble.
Muitas vezes temos o som dos acordes de violino na composição de Martin Wave que dão esse aspecto de coisa antiga e milenar. Também a uso há uso de canções à capela, o que eleva ainda mais esses aspectos folclóricos.
A música tema de Bramble, “Den Blomstertid Nu Kommer”, interpretada por BJOERN é uma das composições mais encantadoras do jogo, e podemos ouvi-la em dois momentos bem distintos e com pesos dramáticos no jogo.
A acessibilidade
O jogo possui legendas com diversas opções de idiomas. Por se tratar de um jogo que integra a narração e alguns momentos em que o jogador interage com livros, torna-se um fato essencial haver esse tipo de localização no jogo.
Infelizmente não há muitas opções de jogabilidade para pessoas com deficiência. Embora seja um jogo com mecânicas relativamente fáceis, pode se tornar uma experiência restritiva e pouco preocupada para pessoas cegas ou com deficiência nas mãos. Ainda assim, é possível configurar os botões para maior vibração e sensibilidade nos momentos em que é necessário mirar em objetos, mas não é possível movimentar tanto a câmera do jogo.
O único ponto positivo em questão de acessibilidade em Bramble é que temos o modo para pessoas daltônicas, onde é possível mudar os filtros, dependendo do grau de daltonismo, além de que há configurações gráficas gerais que podem ser configuradas de acordo com as necessidades do jogador.
O veredito
No geral, é um jogo que alterna bem entre o horror e a fofura dentro de uma narrativa densa, por vezes triste. É necessário que o jogador tenha isso em mente antes de encarar o jogo, você encontrará diversos tipos de sofrimento que serão encarados por Olle.
No entanto, Bramble The Mountain King é um jogo que recompensa o espectador curioso. Cada mini-história que surge durante os capítulos são concatenados com a aventura de Olle em busca de sua irmã, e nisso o aspecto da coragem é revigorante diante das tragédias no enredo.
Fora isso, temos aqui uma ambientação e uma trilha sonora que tornam a experiência imersiva com o jogo, sendo possível sentir diversas sensações nessa aventura como o encanto, o horror, o nojo, a tristeza e até pequenos momentos de alegria.
Na questão gráfica, sentimos alguns problemas com bugs na transição entre cenários e nos momentos de batalha, mas tudo isso pode ser justificado pela capacidade do hardware Nintendo Switch, visto que anteriormente também jogamos as versões demo no PC (via Steam) e não sentimos tais problemas.
O resgaste às criaturas do folclore nórdico pode surpreender os espectadores, pois nem tudo parece é vil é mal de verdade. Essa é a forma como as nuances de fantasia se fazem presentes em Bramble. Sem dúvidas, é um ótimo jogo de aventura, bem acima da média de alguns jogos indies atuais em lançamento.
*O código do jogo foi cedido com antecedência pela Dimfrost Studio e Merge Games para essa Review