Quanto tempo é o suficiente para se sentir nostálgico por algo? Já faze 8 anos da última aparição de um título da série Fifa Street, e o último sendo tão aclamado que a EA finalmente o trouxe de volta como o modo Futebol Volta no FIFA 20. Mas na época era difícil de verdade competir com o título, com o nome gigante da empresa e número de vendas incomparável, mas muitas empresas tentaram mesmo assim, num fenômeno que eu chamo de “ousadia dos anos 2000”, as empresas tentavam surfar na onda de sucesso que FIFA Street pôs em movimento. Isso gerou algumas pérolas do PS2, na qual a minha favorita, que eu realmente considero uma gema secreta dessa época chama Urban Freestyle Soccer, um jogo que misturava o futebol de rua com elementos de parkour e cenários interativos para o jogador.
E essa foi a sensação que eu tive quando eu vi Street Power Football. A estética, os movimentos, o espírito dos anos 2000 todo de volta naquele jogo que, em 2020, toda notícia e todo vídeo me fazia sentir nostalgia por essa época. Mas o que eu senti quando eu joguei o jogo foi que talvez tivesse anos 2000 demais nele. O jogo consiste em cinco minigames, onde o jogador pode testar suas habilidades contra o computador ou em multiplayer local, podendo competir por pontuações mais altas contra outros jogadores online.
Um jogo “vintage” de futebol de rua
Os minigames são: Disputas de panna (ou caneta/rolinho/outras variações dependendo da sua região), que o jogador fica frente a frente contra outro em uma arena com dois gols pequenos. O gol vale um ponto mas passar a bola por debaixo das pernas do adversário vale mais, e no momento que a bola vai passar por debaixo das pernas de algum dos jogadores, o tempo fica mais lento e ambos precisam realizar uma sequência randômica de combos no controle, que decidirá quem defenderá ou conseguirá realizar a panna.
Também tem o modo freestyle que transforma o jogo em basicamente um jogo de ritmo, onde você escolhe uma música e junta combinações de movimentos para ganhar mais pontos. Esse eu realmente achei bem divertido e inovador, me lembrou um pouco os antigos Tony Hawks de PS2 que também tinham um modo parecido. Inclusive a trilha sonora é um ponto alto do jogo, as músicas realmente combinam com o estilo “de rua” que o jogo quer vender e nesse modo a setlist realmente brilha.
Tem o modo de “Trick Shot”, que não é muito mais que isso: você tem alvos na tela e você precisa acertar esses alvos no menor tempo possível, tendo que colocar curva na bola, regular a força, usando uma seta gigante na tela. O jogo também dá a opção de mudar o ângulo da câmera, mas eu acho que acaba atrapalhando mais que ajudando. E finalmente tem os modos de futebol como conhecemos, de times de 3 contra 3, e o modo eliminação.
Esse último funciona como um tag team, onde um jogador enfrenta o outro em uma arena pequena e quando um deles sofre o gol, ele é substituído por outro da sua equipe, e o que perder todas as substituições perde a partida. Já o 3 contra 3 é interessante na sua ideia, os jogos são em arenas onde a bola não sai, o que deixa o jogo bem mais dinâmico, e eventualmente power-ups como mais força no chute, mais facilidade de drible e mais velocidade ao conduzir a bola aparecem no campo e qualquer um pode pegar. Mas divertido é forçar um pouco.
O “Rei das Ruas”
O jogo também tem um “modo história”, onde você viaja pelo mundo sendo guiado e ouvindo as histórias de Sean Garnier, o primeiro campeão mundial de futebol freestyle. Mas essa viagem se torna maçante já no segundo destino. Os minigames começam a repetir e a presença do campeão (num vídeo com filtro de holograma, enquanto o background é todo renderizado pelo jogo) não consegue tornar a experiência mais agradável. E ainda assim, a própria experiência de jogar futebol, que devia ser o principal, é muito estranha.
Talvez seja muito pedir de um jogo arcade de futebol de rua que ele tenha uma física um pouco mais realista, mas pelo preço (por volta de 200 reais no PS4) eu não posso evitar fazer essa ressalva. O jogo também parece muito mal otimizado no playstation 4, com longas telas de carregamento, o que acaba sendo mais um desapontamento visto que o jogo parece um jogo mobile atual.
A condução da bola é estranha, os dribles são muito surreais e a jogabilidade não é nem um pouco intuitiva, o que acaba dificultando a curva de aprendizado do jogo e gerando uma barreira para quem talvez quisesse tentar. Apesar de contar com avatares de jogadores reais, todos os personagens parecem iguais e possuem o mesmo corpo, o que acabou sendo outro ponto negativo para mim.
O jogo promete muito evocar o espírito dos jogos gigantes desse estilo de 15 anos atrás mas acaba tentando abraçando o mundo com as pernas e deixando ele passar por entre elas. No fim, acaba sendo um jogo onde tudo é muito parecido e ainda sim muito esquisito, e eu não consegui o sentimento de que talvez essa febre voltasse, e acabei saindo do jogo com a sensação de que eu joguei um jogo escondido do Playstation 2 e ninguém tinha descoberto até agora.